Brasil x Venezuela: ruptura na aliança da esquerda na América Latina?

A recente negativa do Brasil em apoiar a entrada da Venezuela no Brics expõe uma divisão crescente entre os governos de esquerda na América Latina. Nicolás Maduro aguarda um posicionamento de Lula sobre o veto brasileiro, mas, segundo Victor Missiato, historiador e analista político do Mackenzie, as tensões entre os dois líderes evidenciam uma ruptura na aliança regional estabelecida nas últimas décadas.

Ruptura na estratégia regional da esquerda

Missiato destaca que, desde o início dos anos 2000, a América Latina contava com duas correntes de esquerda: uma mais radical, liderada pelo chavismo na Venezuela, e outra mais moderada, representada pelo lulismo no Brasil. O país sempre atuou como ponte entre esses dois campos, mas a deterioração das relações entre Lula e Maduro marca uma mudança estratégica. “Essa ruptura enfraquece a capacidade da América Latina de conquistar relevância na geopolítica global e afeta alianças com potências como Rússia, Irã e China. Embora as relações comerciais permaneçam estáveis, o impacto se dá na esfera do poder e da influência política sul-americana”, destaca Missiato.

Victor Missiato, historiador e analista político do Mackenzie (Foto: Divulgação)

Diplomacia brasileira e independência estratégica

Apesar das divergências com Maduro, o Brasil mantém sua tradição diplomática de independência, iniciada no governo Jânio Quadros, observa o analista. “O Brasil continua ativo nos fóruns internacionais, como o Brics, e tem buscado ampliar negociações estratégicas, como a proposta de substituir o dólar em transações com a China. A tensão com a Venezuela é um episódio pontual e não deve comprometer essa trajetória de participação autônoma nos blocos globais”, avalia Missiato.

Impacto no Brics e consequências para a Venezuela

Missiato aponta que o veto brasileiro à entrada da Venezuela no Brics gerou atritos com países do bloco que apoiavam a inclusão venezuelana. Contudo, ele avalia que essas tensões não comprometem as relações do Brasil com parceiros estratégicos como China, Rússia e Índia. “A relevância das alianças bilaterais supera as diferenças em relação à Venezuela.”

Por outro lado, Missiato alerta que o afastamento brasileiro prejudica o posicionamento internacional de Maduro. “A Venezuela sempre contou com o apoio diplomático do PT brasileiro para construir pontes na América Latina e até com os Estados Unidos. Sem esse respaldo, as tensões com Washington podem aumentar, dificultando ainda mais a recuperação econômica do país.”

Nos últimos anos, o governo Maduro vinha conquistando alívio nas sanções americanas, com apoio indireto da diplomacia brasileira. No entanto, o analista ressalta que o rompimento atual pode levar a Venezuela a uma nova crise econômica, especialmente se embargos forem intensificados. “Esse distanciamento pode empurrar a Venezuela para uma espiral de dificuldades econômicas nos próximos anos”, conclui Missiato.

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