Crise da Voepass: mudança na malha aérea e demissões sem pagamento de direitos trabalhistas; saiba mais

Crise da Voepass: cancelamento de voos e demissões sem pagamento de direitos trabalhistas; saiba mais

Aeroportos de Fortaleza, Aracati e Juazeiro do Norte tiveram suas atividades encerradas pela empresa aérea (Eric Ribeiro/M&E)

De acordo com informações divulgadas pelo jornal Diário do Nordeste nesta segunda-feira (4), desde o acidente com uma aeronave da Voepass em agosto, que resultou em 62 mortos, no interior de São Paulo, muitos trabalhadores foram dispensados, porém sem receber seus direitos trabalhistas, como rescisão e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Além disso, a empresa aérea encerrou suas atividades em três aeroportos do Nordeste: Fortaleza, Aracati e Juazeiro do Norte.

DEMISSÕES

O Sindicato Nacional dos Aeroviarios (SNA) aponta que na região foram 22 pessoas no total, sendo 12 pessoas na capital cearense e 3 em Juazeiro. Mas conforme ex-funcionários, esse número supera os 100 quando se trata do Brasil inteiro. Através de um grupo em uma rede social, todos enfrentam a falta de pagamento da rescisão e, como consequência, sem ter o que sacar do FGTS, já que a empresa não fazia os depósitos periódicos.

O Diário do Nordeste conversou com dois cearenses despedidos pela Voepass que pediram para não ter os nomes e cidade em que atuavam divulgados. Um deles é uma mulher de 39 anos que estava há pouco mais de dois anos trabalhando para a empresa em terra.

“Estava um zoom, zoom, zoom grande e começaram a dar férias, e quem não tinha férias já era demitido. Só chegavam os documentos para assinar, ou as férias, ou o aviso prévio. Sem orientação, a maioria assinava. As pessoas assinam porque têm medo”.
Porém, ao assinarem a rescisão, os trabalhadores eram informados de que não receberiam nenhum valor naquele momento. “As pessoas foram demitidas online. Não teve reunião, nada. E, para ninguém colocar na justiça, eles ainda disseram que vão voltar em março e recontratar todo mundo. Eles colocaram medo assim”.

Direitos trabalhistas

“Agora, quem consegue abrir um chamado para falar online com o RH da empresa recebe a informação que da rescisão seria paga entre 10 e 12 vezes de meio salário mínimo e, após essas parcelas, seria quitado o restante. Já o FGTS eles estão dando o prazo de até cinco anos para depositar”, fala a mulher, com indignação.

A ex-funcionária ainda comenta que questionados sobre a ilegalidade do não pagamento, os representantes da empresa falariam que sabiam que era “errado”, mas que essa seria a “única forma que a empresa tem para pagar”.

“As pessoas aceitam porque tem medo, inclusive de não conseguir outro emprego em outra companhia. A gente saiu sem receber um centavo. A gente se dedicava muito. Aguentamos muito e somos tratados como lixo. Como se não fossemos mães e pais de família dependendo desse dinheiro e de emprego para sobreviver”.

Já um outro ex-funcionário, demitido com pouco mais de um ano, afirmou que os colaboradores de todas as bases fechadas em todo o Brasil, depois do acidente, estão passando por essa situação:

“A sensação é difícil de descrever. Não sei se voltaria a trabalhar assim. Não temos certeza de nada, não tem nada concreto que eles vão voltar”. Ele ainda comenta que outras pessoas demitidas em outras oportunidades pela Voepass começaram a receber o parcelamento da rescisão, mas esse foi cancelado antes de acabar, o que causou também grande dor de cabeça. “As pessoas que passaram por essa situação tiveram que entrar na justiça. Dizem que vão começar a pagar as parcelas em dezembro e estamos esperando”.

O Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (SNEA) já foi procurado, mas por enquanto sem qualquer retorno.

MUDANÇAS NA MALHA AÉREA

No último domingo (27), a Voepass anunciou que irá operar com 16 destinos ao todo, divididos entre as regiões Nordeste (apenas Recife e Fernando de Noronha), Norte, Sul e Sudeste.

A medida foi tomada após a empresa demitir diretores e cortar pelo menos 13 rotas, entre elas Aracati, Fortaleza, Juazeiro do Norte, Campina Grande, Mossoró, Natal, Porto Seguro e Salvador.

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