Dez dias depois, casa invadida por ônibus e viatura da Guarda continua à espera de reforma

Era tarde de sexta-feira, 1º de novembro, quando Edna Cristina da Silva interrompeu as tarefas de casa para tomar uma xícara de café. Segundos após sentar na mesa, ouviu um estouro e a casa inteira tremeu.

Acidente envolvendo viatura da Guarda Municipal e ônibus da Sogal permanece sendo investigado



Acidente envolvendo viatura da Guarda Municipal e ônibus da Sogal permanece sendo investigado

Foto: EDNA CRISTINA DA SILVA/REPRODUÇÃO

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“Saltei da cadeira e pensei que a casa estava desmoronando”, lembra. “Então corri até o meu filho pequeno, que estava no quarto, e achei ele chorando, desesperado de medo”.

Foi somente ao abrir a porta da frente de casa que a moradora do bairro Guajuviras percebeu que um ônibus e uma viatura da Guarda Municipal haviam invadido o pátio de casa, derrubando o muro e colidindo contra as vigas da entrada.

“Nem acreditei quando vi os guardas descendo ensanguentados do carro”, recorda. “Eu estava tremendo ainda com meu filho no colo e demorou para cair a fixa que eles estavam cima da minha área”.

A ocorrência que começou às 16h30 se estendeu até 21h30, quando o ônibus da empresa Sogal e a viatura acabaram sendo recolhidas. Passados dez dias do acidente, contudo, não houve reparação aos danos da casa.

“Se não fosse um perito do IGP [Instituto Geral de Perícias] nos orientar, a gente continuaria perdido, porque ninguém da empresa ou da Prefeitura de Canoas questionou nem se estávamos bem”, desabafa. “Só estavam preocupados com o ônibus e a viatura”.

Atualmente desempregada, Edna diz que a única renda da casa vem do marido, de maneira que, com dois filhos, não há dinheiro para garantir o reforço necessário para a estrutura da residência, que acabou abalada.

“A gente tem medo que com o primeiro vento, o telhado saia voando, porque arrebentou com o madeiramento”, diz. “Além disso, a casa ficou toda rachada e ninguém veio nos dar uma orientação ou dizer se podemos continuar aqui ou não”.

Um perigo

Com uma criança de 4 e outra 6 anos em casa, Edna dá graças a Deus que nenhum dos pequenos estava brincando na área no momento do acidente. Isso porque uma tragédia poderia ter acontecido.

“A área que eles destruíram é onde minhas crianças conseguem brincar, já que não dá para deixar soltas na rua hoje em dia”, opina. “Imagina se um deles estivesse ali? Seria uma tragédia”.

Edna Cristina da Silva mostra o estrago causado na casa devido ao acidente



Edna Cristina da Silva mostra o estrago causado na casa devido ao acidente

Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL

Área escolar

O acidente no início do mês causou indignação no bairro Guajuviras. Mais exatamente na área próxima à esquina das ruas Ernesto Che Guevara e Irmão Pedro.

Segundo os moradores, não raro, é possível ver acidentes na área. Isso porque os motoristas que trafegam pela preferencial Irmão Tiago correm muito.

Para piorar, aqueles que acessam a via pela Ernesto Che Guevara não respeitam as placas de pare visíveis que estão instaladas no ponto.

“Antes mesmo de acontecer o acidente com o ônibus e a viatura, já tinham acontecido outros acidentes feios aqui na volta”, aponta o morador Estevão Meirelles.

O aposentado com 70 anos aponta que o risco é maior porque na área existe um colégio e também uma creche, havendo grande circulação de crianças no local.

Ele aponta que há entrada e saída da Escola Municipal Paulo Freire e também da creche Escola de Educação Infantil Anisio Spínola Teixeira.

“Acho que deveriam ao menos pensar nas crianças”, adverte. “Agora, bateram em uma casa, mas se continuar desse jeito, o pior pode acontecer”.

Perseguição policial?

Conforme testemunhas que vivem na comunidade, a viatura da Guarda Civil descia a Rua Ernesto Che Guevara em velocidade. O carro não respeitou a sinalização de “PARE” e invadiu a pista da preferencial Irmão Pedro, por onde trafegava um ônibus da empresa Sogal. Houve inclusive quem dissesse que o carro da Guarda estaria em perseguição a criminosos, mas há divergentes relatos sobre isso. O caso é apurado pela Polícia Civil, sob a responsabilidade da 3ª Delegacia de Polícia (DP) de Canoas.

Corregedoria está apurando

Por meio de nota, a Prefeitura de Canoas informa que as circunstâncias em torno da ocorrência registrada no dia 1º de novembro estão sendo apuradas. Existe um processo administrativo aberto junto à Corregedoria da Guarda Municipal e, posteriormente, o resultado irá parar na Controladoria Geral do Município (CGM). A partir da investigação, será apontada a responsabilidade por causar o acidente. Paralelo a isso, a administração orienta que as vítimas podem abrir um processo civil para pedir reparação dos danos do imóvel.

Na velocidade da via

Por meio da assessoria de imprensa, a Sogal informa que o ônibus estava trafegando pela via preferencial e na velocidade da via, quando o motorista acabou surpreendido pela viatura da Guarda Municipal em alta velocidade passando em frente ao ônibus, não sendo possível evitar o acidente. A empresa aguarda a investigação e já encaminhou imagens de câmeras internas do ônibus e as informações do GPS para o Instituto Geral de Perícias (IGP).

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