NATAL DOS ANJOS: Uma festa moldada pelo trabalho voluntário e o amor por Dois Irmãos

Considerado o maior evento natalino do Vale do Sinos, o Natal dos Anjos movimenta toda a Dois Irmãos desde o momento que a edição anterior termina e a preparação da próxima começa. Um trabalho incansável, que mescla o empenho de funcionários do município na confecção artesanal das decorações, a paixão por deixar a cidade mais bonita pelas voluntárias e o cuidado em como cada item vai trazer a magia do Natal para os moradores e visitantes.

Decoração do Natal dos Anjos traz magia para as ruas de Dois Irmãos | abc+



Decoração do Natal dos Anjos traz magia para as ruas de Dois Irmãos

Foto: Weslei Fillmann/Especial

“Antes eu trabalhava e comecei a lidar com isso também. Me chamou bastante atenção, de coração, poder participar cada vez mais. Ver a beleza (do Natal dos Anjos) é um incentivo para a gente ajudar também”. Essas palavras são de Carmen Vier, dois-irmonense e voluntária há 17 anos do Natal dos Anjos.

Ela comenta também que é satisfatório ver o evento, que segue até 6 de janeiro, crescendo ano após ano. “É uma emoção gratificante, que é o encontro de famílias e amigos, todo mundo apreciando. A gente fica até emocionada de ver esse trabalho lindo que a gente fez”.

E se engana quem pensa que a arrumação para o evento começa só nas proximidades do final do ano. Desde abril, Carmen e outras 15 voluntárias se reúnem para enfeitar a cidade. “É uma terapia para nós. Começamos trabalhando às terças e quintas de noite. Agora, estamos há dois meses direto, todas as noites na rua, para deixar tudo bonitinho e organizado”.

Toda essa preparação tem um objetivo, o qual segue sendo atingido a cada edição. “Os moradores e visitantes acham tudo muito bonito. Eles dizem “bah, todo ano vocês fazem esse trabalho, podiam fazer outra coisa”. Mas aí eu digo que a gente se dedica muito e fica feliz. É uma mistura do gostar de fazer e dar continuidade para o evento em Dois Irmãos”.

 

Trabalho artesanal pelos “guris do galpão”

Uma das principais marcas do Natal dos Anjos é a renovação dos itens que decoram o município durante os dois meses em que as ruas ficam iluminadas e “natalinas”. E esse trabalho de confecção dos enfeites, de forma artesanal, passa pela mão de um grupo conhecido como “os guri do galpão”: Juliano, Marcos, Douglas, Nenê, Otávio e Renan.

“Pela metade do ano, vêm todos os projetos novos. Mas tudo isso foi feito um protótipo antes, como fica na rua, se não atrapalha a circulação dos pedestres e veículos. Há sempre uma prévia antes”, comenta Juliano Borges, o Tatu, que atua diretamente na preparação dos itens há 11 anos. Ele é funcionário público desde 2008 e natural de Dois Irmãos.

“Nos primeiros cinco (anos), atuava como gari. Como o serviço foi terceirizado, a gente voltou para o setor de origem. Aí surgiu a necessidade de ter gente aqui (produzindo os itens do Natal) direto. Demanda muito tempo, é um trabalho bastante artesanal”, comenta Borges, que começou a atuar na preparação apenas como hora extra. Além do evento natalino, o grupo produz itens para outras atividades que o município promove durante o ano, como o Kerb.

 

Características únicas do Natal dos Anjos

A artista plástica Ana Kuhn é, desde 2000, atuante na preparação do Natal dos Anjos. Natural de Novo Hamburgo, escolheu Dois Irmãos como sua casa há mais de 3 décadas, mas há 14 anos é a figura principal no desenvolvimento do design dos itens que vão enfeitar as ruas do município. E, todo ano, esse trabalho já começa em janeiro. “Eu faço o projeto, execução e acompanhamento, todos os enfeites. Cada desenho visto eu fiz em casa, no chão, em tamanho original”.

Uma das características do evento natalino é a possibilidade de aproveitar as atrações sem gastar muito, bastando a família, caso queira, levar um kit de chimarrão, cadeiras de praia e apreciar toda a programação. “Esse é um grande diferencial de Dois Irmãos, principalmente porque nada é cobrado. Não que isso vá fazer total diferença, mas tem impacto”, comenta Ana.

E o fato de que os itens da decoração são sempre únicos em cada edição é um ponto ressaltado pela artista plástica. “Outra questão é que não é nada de catálogo. É tudo produzido artesanalmente. Isso, para mim, é um pré-requisito para eu continuar. Eu não quero nada que seja reproduzido, que tu vá encontrar em qualquer outra cidade. Tudo é feito artesanalmente por todas as pessoas e à várias mãos”.

 

Trabalho voluntário e como maneira de refinar a decoração

“Para fazer algo mais intimista, precisamos fazer que nem casa de vó. Aquilo que resgata do passado e que a gente valoriza tanto. Hoje, Dois Irmãos tem esse diferencial pois ele traz características que outras cidades não têm mais”, comenta a artista Ana Kuhn, que destaca também como as voluntárias dão o refinamento e a sutileza no detalhes de festões e topes que decoram o município. “O trabalho árduo é dos funcionários que fazem as decorações. Agora, é o ponto em que precisa-se dar a delicadeza, a polidez e o refino do Natal. E é isso que elas trazem”.

Apesar das novidades e a ampliação do Natal a cada ano, muitos itens do ano anterior são reaproveitados. “Tudo o que utilizamos em uma edição, aproveitamos na outra. As pessoas comentam “ah, tem muita coisa nova”. Como a gente muda as cores, ousamos mais e parece que isso trouxe um retorno maior. Foram agregados muitos materiais novos, muitas decorações. O letreiro do pórtico, ornamentos de fibra, a pintura do presépio, tudo são aprendizados de outros locais que trazemos para cá”, comenta Ana.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.