Rússia e Ucrânia falam em paz, mas esbarram na Otan

Apesar de a guerra se arrastar por mais de dois anos, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos fez com as palavras “paz”, “negociação” e “acordo” voltassem ao vocabulário de autoridades da Rússia e da Ucrânia. Os dois lados, no entanto, esbarram nos planos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o conflito.

Trump só assume a Casa Branca em janeiro de 2025, mas já sinalizou que a política externa dos EUA sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia deve mudar em sua administração.

O republicano, que chegou a criticar publicamente a assistência bilionária enviada de Washington para Kiev desde 2022, nomeou o general Keith Kellog como seu enviado especial para a Ucrânia e Rússia, dando indícios de como pretende cumprir a promessa de acabar rapidamente com o conflito.

Veterano da Guerra do Vietnã, o militar chegou escrever um plano para pôr fim ao conflito entre russos e ucranianos em abril deste ano. No documento, Kellog condiciona as negociações de cessar-fogo ao congelamento de linhas de batalha e ao adiamento da adesão da Ucrânia na Otan.

Na mídia-norte americana, uma possível proposta de paz de Trump já é especulada, com termos semelhantes ao das ideias de Kellog. Um dos principais pontos do acordo, ainda extra-oficial, seria a Ucrânia aceitar que a Rússia permaneça no controle de regiões já conquistadas no território ucraniano.

Zelensky faz aceno

Há alguns meses, a medida era vista como quase inaceitável para o presidente Volodymyr Zelensky. O mandatário ucraniano, contudo, parece ter mudado de ideia e mostrou, recentemente, que pode aceitar um acordo em tais moldes.

Apelando mais uma vez para uma maior aproximação entre Ucrânia e a Otan, Zelensky disse em uma entrevista à rede norte-americana ABC, divulgada em 30 de novembro, que aceita ceder parte do território ucraniano.

Em contrapartida, ele sugeriu que o restante do país, que ainda está sob o comando ucraniano, ficasse sob uma espécie de “guarda-chuva” da aliança militar através de um convite de adesão.

Rússia e Otan rejeitam ideia do presidente ucraniano

O governo de Vladimir Putin já disse que pretende continuar no comando das áreas já conquistadas na Ucrânia, e que isso seria um dos passos para discussões de paz. A Rússia, no entanto, rejeita categoricamente uma possível aproximação, e até mesmo adesão, dos ucranianos na Otan.

Em entrevista ao jornalista norte-americano Tucker Carlson, que mantém uma boa relação com Trump, o chanceler russo Sergey Lavrov disse que na visão da Rússia a solução para a guerra se resume em três pontos.

Na conversa, divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia, o chefe da diplomacia de Putin disse que dois deles são a aceitação das “realidades no terreno” da guerra, e o fim de legislações anti-Rússia no país governado por Zelensky. 

Contudo, o “princípio-chave” para o fim do conflito na visão russa é a Ucrânia não aderir, ou manter qualquer tipo de laço, com a Otan. Isso incluiria a proibição da realização de exercícios militares em solo ucraniano com a participação de tropas estrangeiras.

Mesmo que a Otan já tenha sinalizado que a entrada da Ucrânia na aliança é um processo “irreversível”, o secretário-geral da aliança militar deixou claro que isso não está nos planos de um futuro próximo da coalizão.

Mais armas à Ucrânia

Na última reunião de ministros da Otan, realizada na Bélgica, Mark Rutte deixou claro que a cúpula seria focada em garantir que a Ucrânia consiga recuperar fôlego no conflito após a Rússia conquistar avanços importantes no campo de batalha nos últimos meses.

Questionado sobre uma possível adesão da Ucrânia na Otan e a possibilidade de somente territórios que ainda estão nas mãos do governo Zelensky ficarem sob a guarda da aliança, Rutte desconversou e disse que o atual momento pede maior apoio militar de aliados à Kiev. 

Armar ainda mais a tropas ucranianas, na visão da aliança militar liderada pelos EUA, é a única forma de mudar os rumos da guerra para que possíveis negociações de paz sejam discutidas.

“Mudar a trajetória [do conflito] significa que queremos colocar a Ucrânia em uma posição de força, para que um dia o governo ucraniano possa entrar em negociações com os russos sobre como acabar com esse conflito”, respondeu Rutte ao ser questionado por repórteres sobre os planos da aliança, em coletiva realizada após o encontro com os ministros. ” Então, mudar a trajetória significa que onde a linha de frente está agora se movendo para o oeste, temos que garantir que a Ucrânia esteja em uma posição de força, para que nessas negociações, a Ucrânia possa obter o que quer, e possamos impedir que Putin obtenha o que queria quando começou seu ataque total à Ucrânia”, acrescentou.

 

 

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