O que esperar para a ação da Eletrobras enquanto o acordo com o governo não vem

A Eletrobras (ELET3) e a União protocolaram em dezembro no Supremo Tribunal Federal (STF), um pedido conjunto para estender, por mais 60 dias, o prazo das negociações sobre o poder de voto do governo na empresa após a privatização. Notavelmente, após o barulho de que o Tribunal de Contas da União (TCU) poderia estar envolvido de alguma forma na negociação –o que poderia resultar em atrasos – na data de10 de fevereiro,o gabinete do procurador-geral federal disse que continua comprometido em chegar a um acordo até o prazo, que vai até dia 18.

A situação envolve um processo judicial no qual a União questiona a validade do limite de 10% no direito de voto na Eletrobras, uma cláusula inserida na lei de privatização da empresa, aprovada pelo Congresso. A indefinição em torno do tema tem impacto direto sobre o comportamento das ações da Eletrobras, especialmente pelo efeito nas decisões de investidores institucionais.

Na visão do Bradesco BBI, com ou sem um acordo, as ações da Eletrobras estão baratas (a ELET6 é negociada a uma TIR (Taxa Interna de Retorno) implícita real de aproximadamente 13%) e, portanto, um cenário sem acordo provavelmente implicaria em uma queda limitada.

No entanto, continuaria a limitar o interesse de investidores estrangeiros, pois menos compradores marginais entrariam para comprar as ações no curto prazo.

“Argumentamos por um impacto limitado neste cenário porque é improvável que o limite de votos de 10%, votado pelo Congresso como parte da lei de privatização da Eletrobras, seja descartado pela Supremo Tribunal Federal”, avaliam os analistas.

Além disso, a discussão sobre os preços da eletricidade que antes era “uma fonte constante de dor”, dada a substancial capacidade não contratada da Eletrobras, agora se tornou um risco de alta, dada a volatilidade do preço spot intradiário e o maior valor dos ativos hidrelétricos que no médio/longo prazo devem capturar um spread de preço adicional, representando a modulação a ser paga pelos ativos renováveis solares/eólicos, avalia o BBI.

Por outro lado, se um acordo for alcançado, seria muito positivo, pois a discussão sobre a Eletrobras voltaria aos fundamentos puros (ou seja, cortes de opex ou despesas operacionais, preços de energia, gestão de passivos) + investidores estrangeiros veriam novamente a empresa como um ativo possível para investimento, apontam os analistas.

O banco, para isso, pressupõe um acordo nos moldes do que a Eletrobras descreveu em seus comunicados em dezembro: (i) o governo obtendo mais alguns assentos no conselho, talvez um total de 3 em 10; (ii) A Eletrobras não tendo mais que investir em Angra III, embora continuasse a garantir a dívida passada assumida para construir o projeto – sem esse ponto, a Eletrobras provavelmente não assinaria nenhum acordo; e (iii) nenhum pagamento inicial do imposto setorial CDE – oficialmente tirar esse potencial desembolso de dinheiro da mesa poderia abrir o debate para a empresa pagar dividendos mais altos e/ou estabelecer uma nova política de dividendos, avaliam os analistas.

Boa capacidade de pagar dividendos

Em relatório, o banco afirma que a companhia possui um grande potencial de se tornar uma pagadora de dividendos no futuro, principalmente devido à sua estrutura de capacidade hidrelétrica cujos ativos podem se beneficiar da volatilidade dos preços da energia no mercado de curto prazo.

A Eletrobras segue com suas metas de corte de custos operacionais, com projeções de redução de 10% em 2025, levando os custos operacionais totais para cerca de R$ 6,2 bilhões. A empresa também vem demonstrando capacidade de adaptação aos preços de energia de curto prazo, com estimativas conservadoras que preveem um preço médio de R$ 133/MWh (megawatt/hora) para o ano fiscal de 2025, incluindo uma previsão de R$ 95/MWh para o primeiro semestre e R$ 170/MWh no segundo semestre. Esses valores ficam abaixo das tarifas indicativas para contratos, que superam R$ 200/MWh.

Em relação aos dividendos, a Eletrobras já pagou uma antecipação no valor de R$ 2,2 bilhões, referente ao resultado de 9 meses de 2024, com um payout (porcentagem de lucros de uma empresa que são distribuídos aos acionistas) de 25%. Embora a previsão para o quarto trimestre de 2024 indique uma redução do lucro devido a uma provisão relacionada à disputa com o estado do Piauí, os analistas do BBI acreditam que a empresa ainda pode realizar novos pagamentos de dividendos.

Em seus cálculos, o valor total de dividendos pode atingir R$ 3,8 bilhões, com uma distribuição de R$ 1,82 por ação preferencial (PN) e R$ 1,65 por ação ordinária (ON), resultando em um retorno de dividendos de aproximadamente 4,6% para ambas as classes de ações.

O Bradesco BBI mantém sua recomendação de outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para as ações da Eletrobras, com preço-alvo de R$ 58 para as preferenciais (ELET6) e R$ 53 para as ordinárias (ELET3). A expectativa é que, independentemente do andamento do processo judicial, as ações ainda apresentem um bom potencial de valorização, principalmente à medida que os preços da energia e a gestão eficiente de custos operacionais sustentam a rentabilidade da empresa a longo prazo.

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