“Maquinário que todo mundo viu, não estava ampliando nada”, diz secretário sobre os diques

Desde as enchentes do ano passado, com os rompimentos dos diques e a consequente soma de prejuízos e mortes, que o assunto em Canoas se tornou preocupação número um de, pelo menos, metade da população afetada pela tragédia.

Dique no bairro Mathias Velho está atualmente em fase de projeto, segundo o secretário de Obras, Victor Hampel



Dique no bairro Mathias Velho está atualmente em fase de projeto, segundo o secretário de Obras, Victor Hampel

Foto: PAULO PIRES/GES

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Anúncios foram feitos, informações divulgadas, imagens acabaram sendo compartilhadas, entretanto, bem pouco acabou sendo efetivamente executado, segundo o novo secretário de Obras de Canoas.

Em entrevista, o engenheiro Victor Hampel esclarece que não houve ampliação dos diques e que o trabalho está em fase de projetos, que devem ficar prontos em aproximadamente 60 dias.

Nesta semana, o prefeito Airton Souza viajou até Brasília para encontrar representantes do governo e pedir celeridade na liberação de recursos para as obras de reconstrução dos diques.

Hampel garante transparência no processo e defende que a população seja informada de cada etapa até o início efetivo das obras, tão almejadas e aguardadas por quem tem medo de acabar com a casa inundada novamente.

“Isso é um assunto muito sério”, afirma. “A população pode estar segura que, a partir de agora, todo o processo será divulgado com bastante transparência e responsabilidade”.

DC – Circulamos pela área dos diques e encontramos máquinas. O que foi feito até agora? Houve ampliação em algum ponto?

Hampel – O maquinário que todo mundo viu trabalhando nos diques, não estava ampliando nada. Ele estava limpando os diques. Porque para eu poder levantar os diques, eu preciso de estudos e projetos concluídos. Estamos falando de responsabilidade estrutural. Eu não posso simplesmente botar terra em cima do dique e sumir. Estamos com contratações integradas que têm um escopo de trabalho já dentro da nova lei de licitações. A empresa de engenharia não tem um projeto pronto a executar. Ela vai chegar, fazer a sondagem, vai fazer os laudos de laboratório necessários, criar o projeto básico e depois o projeto executivo. A engenharia aprovou? Ok, está tudo certo, então, sim, começam as obras propriamente ditas. Só que estamos deparando com estudos de engenharia apontando que há trechos em que não vamos poder simplesmente chegar e colocar terra em cima. Vamos ter que fazer reforço estrutural dos diques. Porque eu simplesmente não posso ir lá e colocar argila. Não posso levar em conta somente a questão da impermeabilidade. É preciso pensar na pressão. Vai aguentar ou não? Então os nossos diques têm que ser modelados a partir da nova norma, que diz ser preciso pensar no dique como em uma barragem. Antigamente, não havia esse controle. Agora, vai ter que ser assim, porque para a engenharia receber os projetos, eles precisam se basear nas normas atuais.

DC – Mas houve divulgação de conserto de diques, certo?

Hampel – O discurso foi feito ‘estamos levantando os diques’, mas não foi feito absolutamente nada. Só serão levantados os diques após obedecer a um projeto de engenharia que atenda as normas técnicas exigidas”.

DC – E em que pé anda o processo, então?

Hampel – Estamos na fase de projeto básico, com sondagens, recolhimento de amostras e estudo de solo para laboratórios. Trabalhamos no projeto básico para chegar no projeto executivo. Na velocidade que estamos, em 60 dias, teremos concluído a parte dos projetos, com a segurança que aquilo vai atender às normas técnicas exigidas. Que o meu corpo técnico de engenharia vai poder garantir que o dique vai aguentar a pressão da água do outro lado.

DC – A prioridade são diques rompidos no Mathias Velho e Rio Branco, não é mesmo?

Hampel – Os diques Mathias Velho e Rio Branco são diques existentes em que estamos fazendo estudos para poder saber como está a questão estrutural e podermos elevar eles a cotas do DNOS [Departamento Nacional de Obras de Saneamento]. Temos que recompor as cotas dos diques. Temos que também verificar a questão estrutural. Porque ficam falando na cota de 7 metros, mas não é bem assim. Além da cota, preciso saber se o dique vai aguentar a pressão.

DC – E que obra será executada no Niterói?

Hampel – No Niterói, há uma obra em andamento, que é uma rua que já havia sido projetada e licitada pelo Município que acaba, por si só, está elevando o dique. Já aumentou quase um metro e trinta. Porém, concluída a obra, vai faltar dois quilômetros que queremos criar um projeto para garantir o dique até Cachoerinha, inclusive para proteger aquela área da Base Aérea.

DC – E quanto aquela placa de obras que existe no muro da Cassol?

Hampel – Existe um projeto, mas ele está parado por conta de problemas. Não levaram em conta os dutos de gás que passam no local, mas isso deve ser resolvido logo.

DC – Mas obras no Mato Grande começaram, certo?

Hampel – No Mato Grande há uma obra em andamento criada para segurar as águas do arroio Araçá. Foi desenvolvido próximo a BR-448 para segurar o refluxo do arroio. É que já havia um projeto ligado ao DNOS [Departamento Nacional de Obras de Saneamento] com esboço do projeto, licenciamento liberado, tudo direitinho. Só está sendo construído agora.

DC – E será mesmo construído um dique no bairro São Luís?

Hampel – No São Luís é necessário criar um dique novo. Há um estudo contratado, mas isso vai ter que ser tratado junto ao governo do Estado e bacias hidrográficas, porque precisamos saber onde instalar. E vamos fazer, mas com responsabilidade. Não podemos ir lá e começar a construir algo, embora tenha sido passado para a população que isso poderia ser feito.

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