Policiais delatados extorquiam de bingo a casa de prostituição, diz PF

São Paulo — Além das extorsões cometidas contra o delator Vinícius Gritzbach, assassinado a tiros no Aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024, a Polícia Federal (PF) descobriu uma série de esquemas de corrupção e achaques de policiais civis contra estabelecimentos irregulares, como puteiros, bingos e desmanches e contra investigados, como era o caso do colaborador.

O Metrópoles teve acesso às 376 páginas do relatório final das investigações, que se iniciaram a partir do trecho da delação do corretor de imóveis que dizia respeito às extorsões que teria sofrido de policiais civis responsáveis pelas investigações que lhe atribuíram o assassinato do traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta.

Ao todo, foram indiciados 14 investigados por crimes como extorsão, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e corrupção – entre eles, quatro policiais. A PF concluiu que policiais se envolveram com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Gritzbach morreu negando o crime e afirmou que policiais levaram relógios de luxo, se apossaram de um sítio e de dinheiro vivo em meio a uma cobrança de R$ 40 milhões. Na parte que diz respeito ao delator, a PF identificou até mesmo mensagens entre os policiais sobre a tentativa de arrumar relógios para repor o que desviaram do material apreendido com Gritzbach e abafar uma investigação na Corregedoria.

Já em outros casos, foram encontradas mensagens nos celulares e até mesmo planilhas com locais onde ficavam estabelecimentos dos quais esses policiais cobravam propinas. Também identificou que esses policiais faziam transações entre eles, apesar de terem dito que eram apenas colegas de trabalho em depoimento à Corregedoria.

Um dos policiais civis envolvidos na investigação sobre a morte de Cara Preta é Eduardo Monteiro (foto em destaque). Como mostrou o Metrópoles, ele foi sócio de uma revendedora de carros de luxo e uma construtora. Mora em um condomínio de mansões no interior de São Paulo.

Segundo a PF, mensagens evidenciaram que ele é um dos coordenadores da “recolha”, ou seja, “a arrecadação periódica das propinas pagas pelos donos dos estabelecimentos que atuam à margem da lei, como bingos clandestinos, casas de prostituição, desmanches de veículos, entre outros, em contrapartida da impunidade”.

De acordo com a PF, Monteiro realizou transações financeiras para parentes do delegado Fabio Baena, responsável por conduzir a investigação sobre a morte de Cara Preta, que resultou no indiciamento de Gritzbach.

Com o policial Marcelo Marques de Souza, o Bombom, também suspeito de extorquir Gritzbach, a PF encontrou R$ 600 mil em dinheiro e uma planilha com diversos endereços, nomes e valores. Quando os policiais foram aos locais anotados, descobriram que eram postos de gasolina, desmanches, e casas onde havia exploração de jogos de azar.

“No verso da folha que contém as planilhas há, ainda, anotações feitas à caneta. Uma delas destaca uma comissão de 20%, que corresponde a R$ 6.220,00, deixando um valor de R$ 24.880,00 para uma pessoa não identificada. O valor total registrado na planilha é de R$ 518.200,00.”, diz a PF.

Áudios no celular do policial ainda mostraram a descrição a interlocutores sobre um caso em que uma loja de telefones celulares estava sonegando impostos e pagava propina em dinheiro vivo a Bombom.

Por meio de nota, o advogado Daniel Bialski, que defende o delegado Fábio Baena e o investigador Eduardo Monteiro, afirmou que a decisão da PF pelo indiciamento de ambos não analisou “os pedidos de produção de provas formulados pela defesa que desmentiram as ilações e bravatas suscitadas pela citada autoridades”.

Ainda de acordo com o advogado, a decisão foi abusiva e “preferiu indiciar todos os investigados, de maneira genérica, sem qualquer individualização, e sem indícios do cometimento de qualquer crime”. As defesas dos demais citados não foram localizadas pela reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.

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