O que pode estar por trás da crise na ViagensPromo? Relembre a trajetória da operadora e veja pronunciamento oficial

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Situação da empresa tem gerado preocupação no mercado de turismo (Reprodução do site ViagensPromo)

Nos bastidores do turismo, uma grande polêmica tem sido debatida nas últimas semanas: a situação delicada da ViagensPromo. As informações apuradas pelo M&E indicam que a operadora de turismo está em dificuldades financeiras e poderia passar por uma reestruturação ou, em medidas mais extremas, entrar com pedido de recuperação judicial e encerrar suas atividades a qualquer momento. No entanto, antes de chegar a essa situação, a VP percorreu um caminho marcado por desafios e muitas conquistas ao longo dos últimos seis anos.

A empresa, fundada em 2018 por Renato Kido e um sócio da época, cresceu rapidamente e conquistou uma posição de destaque no mercado. No entanto, mudanças societárias ocorreram ao longo do tempo, e Renato Kido passou a comandar a operadora sozinho. Desde então, a empresa enfrentou desafios significativos, incluindo dificuldades financeiras e queixas crescentes de fornecedores e clientes.

VEJA POSICIONAMENTO OFICIAL DA VP NO FINAL DESTE TEXTO

Nos últimos meses, várias reclamações sobre atrasos e cancelamentos de serviços oferecidos pela VP ganharam visibilidade. Fontes do setor afirmam que problemas financeiros já vinham sendo percebidos há bastante tempo, mas a empresa continuava operando normalmente. No entanto, o cenário se agravou recentemente, levando à atual crise.

A operadora se destacou ao longo dos anos pelo seu modelo de negócio diferenciado, focado em oferecer voos fretados para destinos nacionais, por exemplo. No entanto, os recentes episódios de falhas na prestação de serviço, somados às denúncias de problemas financeiros, lançaram dúvidas sobre a sustentabilidade da operação.

Ainda não há uma confirmação oficial sobre o a situação da VP, mas os indícios apontam para um desfecho que pode ser preocupante. 

Segundo fontes do mercado, o rombo da VP pode ultrapassar a casa dos R$ 70 milhões, com pequenos e médios fornecedores, além de agências de viagens. A situação se complicou após o FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), anunciado em outubro de 2024 em parceria com a Faturepag, que ofereceria um montante anual de R$ 1,5 bilhão, não se concretizar na data prevista. Mas, antes de chegar a essa situação, a VP passou por muitas experiências nestes últimos seis anos, marcados por muitas inovações de mercado. Nesta matéria, vamos relembrar a trajetória da operadora até aqui. 

Ousadia e inovação marcaram início da operadora

Criada a partir da parceria entre Renato Kido e um outro sócio minoritário na época, a operadora tinha no compromisso com os agentes de viagens uma de suas principais forças, evidenciada em FamTours, MegaFamtours, promoções exclusivas, entrega de prêmios e no VPexperience, encontro anual voltado à apresentação de tendências e networking.

No portfólio, mais de 200 destinos nacionais e internacionais, com opções que iam desde passagens aéreas, hospedagens e pacotes completos até cruzeiros marítimos e fluviais, locação de veículos, circuitos terrestres, seguros de viagem e experiências personalizadas. Os acordos estratégicos com as principais companhias aéreas, redes hoteleiras e operadoras de cruzeiros, incluindo Costa Cruzeiros, Disney Cruise Line, Norwegian Cruise Line e Royal Caribbean, reforçavam sua posição no mercado.

Ao longo de sua trajetória, a empresa desenvolveu diversos produtos e serviços para facilitar a operação dos agentes e aprimorar a experiência dos viajantes. Entre seus diferenciais, destacavam-se os fretamentos aéreos próprios, como o VPair e o VPPremium, produto de luxo que oferecia experiências exclusivas em aeronaves com até 52 lugares para destinos como Comandatuba (BA) e Bariloche (Argentina).

Confira abaixo as inovações da empresa:

ViagensCorp

Ricardo Assalim da ViagensCorp e1739583884154 O que pode estar por trás da crise na ViagensPromo? Relembre a trajetória da operadora e veja pronunciamento oficial

Ricardo Assalim, da ViagensCorp

A ViagensCorp foi uma aposta do grupo ViagensPromo, lançada em outubro de 2022 como uma nova operadora voltada ao segmento corporativo. A empresa foi formada por Renato Kido, seu outro sócio da época, pela ETS, e por Ricardo Assalim, ex-Trend e CVC Corp, que assumiu a liderança da marca naquele momento.

O lançamento ocorreu em meio ao reaquecimento do mercado corporativo, com o objetivo de trazer uma nova abordagem ao setor, incluindo diferenciais no formato de comercialização e no aspecto financeiro. “Concordamos que existe um grande espaço no mercado para atender ao segmento corporativo e estamos aqui para dar o pontapé inicial a esta nova empresa”, afirmou Ricardo Assalim naquele momento.

A empresa estruturou uma estratégia de capacitação de agentes de viagens, a ser implementada após a formação da equipe. Entre os produtos oferecidos estavam passagens aéreas, hospedagem, locação de veículos e serviços diversos. A formação da área havia sido efetuada ouvindo a necessidade do mercado.

Renato Kido justificou o investimento na empresa pela experiência de Ricardo Assalim e pela oportunidade de mercado. “Se eu não confiasse no trabalho deles [Michael e Ricardo], não faria esse convite. Decidimos investir na empresa pela experiência do Assalim, por sua trajetória no segmento e pela vasta área que pode ser explorada. Não tenho dúvidas de que vamos ter sucesso e crescer”, afirmou.

A ViagensCorp foi criada como uma empresa autônoma, sem vínculo com a ViagensPromo ou a Easy Travel Shop (ETS), apesar da sociedade entre seus dirigentes. “No mercado, há confusão sobre empresas que criam núcleos e começam a atuar no corporativo. No nosso caso, somos um CNPJ dedicado exclusivamente ao corporativo, que se focará na criação de produtos voltados para este segmento”, esclareceu Michael Barkoczy.

Contudo, a Corp foi desfeita algum tempo depois.

VPpremium

Um dos diferenciais do VP Premium e o conforto a bordo oferecido com poltronas reclinaveis e mais espaco e1738970424401 O que pode estar por trás da crise na ViagensPromo? Relembre a trajetória da operadora e veja pronunciamento oficial

Um dos diferenciais do VP Premium é o conforto a bordo oferecido com poltronas reclináveis e mais espaço (Ana Azevedo/M&E)

A ViagensPromo anunciou, em agosto de 2023, o lançamento do VP Premium by ViagensPromo, um serviço de fretamento aéreo de luxo em parceria com a Sideral Linhas Aéreas. O produto ofereceu voos em aeronaves B737-300 configuradas para apenas 52 passageiros, com serviço de bordo premium e atendimento diferenciado. Os destinos contemplados foram os resorts Transamerica Comandatuba (BA) e Nannai Resort & Spa (PE), com pacotes que incluíam passagens aéreas, hospedagem e serviços exclusivos.

Segundo a empresa, o VP Premium foi desenvolvido para atender um público que busca exclusividade e conforto. A operadora adotou um modelo de comercialização exclusivo para agentes de viagem e garantiu que nenhuma outra empresa teria acesso ao produto pelos dois anos seguintes.

O primeiro voo ocorreu em 27 de dezembro de 2023, com destino ao Transamerica Comandatuba, seguido por operações para o Nannai Muro Alto a partir de 6 de janeiro de 2024. Os pacotes, com valores entre R$ 20 mil e R$ 54 mil, incluíam passagens aéreas, experiências gastronômicas, transfers privativos e hospedagem com regime de all-inclusive ou meia-pensão. As saídas foram programadas para o Réveillon, a temporada de verão e o Carnaval.

A escolha dos resorts considerou diferenciais como a pista de pouso ao lado do Transamerica Comandatuba e a localização privilegiada do Nannai Muro Alto, próximo a Porto de Galinhas. A parceria com a Sideral Linhas Aéreas foi motivada pela experiência da empresa no transporte de cargas e passageiros, além de sua estrutura operacional robusta. Outros destinos foram cogitados como opção, mas nunca saíram do papel.

VPincoming

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VPincoming foi criado para fortalecer a marca ViagensPromo na América Latina (Reprodução do site ViagensPromo)

Em fevereiro de 2024, a ViagensPromo anunciou a criação do Departamento de Incoming para expandir suas operações na América Latina. Susana Villanueva foi designada coordenadora de Expansão e ficou responsável pela liderança do projeto. O novo departamento, já em funcionamento, tinha como objetivo identificar oportunidades de crescimento para as marcas ViagensPromo e ViagensCorp na América do Sul, além de estabelecer acordos comerciais e distribuir produtos e serviços, com foco em fretamentos aéreos.

O VPincoming foi criado para fortalecer a marca ViagensPromo na América Latina, com o objetivo de firmar acordos comerciais, distribuir produtos e serviços, e oferecer fretamentos aéreos no exterior, atraindo turistas estrangeiros para o Brasil. Agências de países do Mercosul, como Argentina, Chile, Peru e Uruguai, passaram a ter acesso a tarifas exclusivas, a um portfólio amplo de produtos e a operações aéreas personalizadas.

VPcard

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Embora o VPcard se assemelhe muito à um cartão de crédito, o seu uso é restrito apenas para a aquisição de produtos VP & VC (Divulgação/ViagensPromo)

Em março de 2024, a ViagensPromo anunciou o lançamento do VPcard, um novo método de pagamento destinado às agências de viagens parceiras da operadora. O cartão funcionaria como um cartão de crédito exclusivo para compras de produtos VP & VC, oferecendo maior flexibilidade e autonomia financeira. As agências poderiam contar com prazos de pagamento de até 30 dias e crédito pré-aprovado, além de acumular pontos Livelo, que podem ser trocados por prêmios.

Os sócios-diretores da ViagensPromo, na época, destacaram que o VPcard visava ajudar os agentes de viagens a aumentar seus rendimentos, proporcionando opções para investir em novos negócios ou regularizar contas. O cartão foi desenvolvido em parceria com Faturepag e Clara, empresas responsáveis pela análise de crédito e administração, e não seria aceito em estabelecimentos comerciais fora da rede VP & VC. A Faturepag, inclusive, é parte muito importante desta história, ainda falaremos disso mais à frente.

VPair

Em maio de 2024, a ViagensPromo anunciou o lançamento do VPair, um serviço de voos charter operado pela Sideral Linhas Aéreas, focado no transporte para o Nordeste. A iniciativa conectou São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG) a destinos como Maceió (AL), Recife (PE), Porto Seguro (BA), Salvador (BA) e Una (BA). Com mais de 30 decolagens programadas entre 27 de dezembro de 2024 e 26 de janeiro de 2025, o serviço buscou enfrentar desafios do mercado, como o aumento de preços e a baixa disponibilidade de assentos.

Renato Kido, diretor da ViagensPromo, destacou que o VPair ofereceu tarifas até 30% mais competitivas, ampliando as oportunidades para agentes de viagens e impulsionando o turismo nos destinos atendidos. A operadora desenvolveu um sistema exclusivo para a venda de passagens e pacotes, com o objetivo de manter os voos disponíveis ao longo do ano. O VPair também permitiu a personalização das aeronaves para grupos, incluindo adesivagem especial. Kido mencionou ainda a intenção de expandir o serviço para outros destinos, incluindo a América do Sul.

As operações incluíram saídas diárias de Belo Horizonte para Porto Seguro, Recife e Salvador, além de voos de São Paulo para Una e Maceió. O produto foi disponibilizado exclusivamente para as 6 mil agências parceiras da ViagensPromo, que puderam comercializar passagens avulsas ou pacotes completos com serviços terrestres. Os pacotes incluíam despacho gratuito de bagagem e traslados sem custo de cidades mineiras para o Aeroporto de Confins.

Um dos diferenciais do produto seria não sofrer com os atrasos e cancelamentos frequentes como nas grandes companhias aéreas. O VPair foi operado com aeronaves da Sideral, que conta com 21 aviões da linha Boeing 737, oferecendo uma alternativa mais estável e acessível para o setor. Em 2023, a Sideral Linhas Aéreas realizou mais de 17 mil decolagens em fretamentos nacionais e internacionais.

Book2b

(Redprodução do site/ViagensPromo)

O Book2b foi uma plataforma desenvolvida para otimizar o dia a dia das agências de viagens (Reprodução do site/ViagensPromo)

O Book2b foi uma plataforma desenvolvida para otimizar o dia a dia das agências de viagens. Com ela, era possível reservar passagens aéreas pelo VPair, gerenciar reservas e tarifas por meio de um painel de controle e acompanhar campanhas promocionais. Além disso, a plataforma oferecia suporte especializado e condições de pagamento facilitadas.

VPpay

Apresentacao da maquininha VPpay (Divulgação/ViagensPromo)

Apresentacao da maquininha VPpay (Divulgação/ViagensPromo)

A ViagensPromo, em parceria com a fintech Faturepag, lançou em 10 de julho de 2024 a VPpay, uma maquininha de pagamentos voltada ao setor de turismo. O serviço atendeu mais de 6 mil agências de viagens vinculadas à operadora, oferecendo benefícios comerciais, antecipação de capital de giro e condições que fortalecem as operações de venda.

“Como operadora B2B, vamos além da simples intermediação de tarifas entre fornecedores e agências. O VPpay e produtos exclusivos, como VPair, VPPremium e VPCard, comprovam isso ao proporcionar aos nossos parceiros condições reais para expandirem seus negócios”, afirmou Renato Kido, fundador da ViagensPromo.

Desenvolvida para agilizar transações financeiras no setor, a maquininha não tinha taxa de adesão ou aluguel, aceitava as principais bandeiras de cartões de crédito e débito e permitia pagamentos via PIX. Entre os benefícios, destacavam-se taxas reduzidas, antecipação de recebíveis e gestão financeira simplificada.

“Estamos confiantes de que essa colaboração trará excelentes resultados para nossos clientes. A parceria com a ViagensPromo completou dois anos e, em 2024, pretendemos ultrapassar R$ 1 bilhão em processamentos e liquidações no setor de turismo”, destacou Alan Barros, CEO da Faturepag, naquele momento.

A solução também permitia o aumento progressivo da comissão das agências, que poderia chegar a 25% por venda, conforme o volume de operações. Kido ressaltou: “A comissão cresce à medida que as transações são realizadas pelo VPpay. Além disso, o pagamento ocorre no dia seguinte, eliminando a periodicidade semanal tradicional. Nosso objetivo é oferecer flexibilidade e melhorar a margem de lucro das agências parceiras”, explicou.

Agências interessadas podiam se credenciar pelo site oficial da ViagensPromo e enviar a documentação necessária. A maquininha era entregue em até 10 dias úteis.

Saída do sócio

Em 1º de outubro de 2024, um comunicado ao mercado revelou que um dos sócios fundadores da empresa, que possuía 10% das ações,  ocupava o cargo de diretor de vendas havia deixado a VP. Renato Kido, cofundador e diretor-geral da operadora, assumiu então controle total da operadora. Na época, o M&E antecipou a saída do executivo com um furo de notícias.

VP Academy

A ViagensPromo lançou o VP Academy em novembro de 2024 com o objetivo de capacitar agentes de viagens. A plataforma oferecia treinamentos, conteúdos sobre os produtos da operadora, depoimentos de clientes, uma seção de perguntas frequentes e informações institucionais. A empresa se consolidou como uma das principais operadoras do Brasil, sendo reconhecida pelo trade turístico por suas soluções e atuação no setor.

FIDC

Renato Kido, fundador e diretor geral da ViagensPromo esclareceu rumores e anunciou novidades (Janaina Brito/M&E)

Renato Kido, fundador e diretor geral da ViagensPromo (Janaina Brito/M&E)

Talvez um dos momentos mais crucias dessa trajetória. O Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) foi lançado em outubro de 2024, em parceria com a Faturepag, com um montante anual de R$ 1,5 bilhão. Quando anunciado, o fundo contaria com a participação de cotistas de bancos tradicionais e receberia assessoria da Apoena Securitizadora e da Cesar Capital. Além disso, foi estruturada uma securitizadora de R$ 120 milhões para garantir a sustentabilidade financeira da operação.

De acordo com Kido, o FIDC possibilitaria à ViagensPromo negociar melhores condições com fornecedores e companhias aéreas, viabilizando a pré-compra de reservas e passagens com taxas mais competitivas para as agências. A empresa ressaltou que, aliado ao VP Pay, o fundo proporcionaria uma maior previsibilidade financeira e eficiência fiscal. Também foram realizados ajustes operacionais para fortalecer os processos de pagamento a fornecedores e consolidar parcerias estratégicas.

A criação do FIDC e da securitizadora visava oferecer mais segurança financeira à ViagensPromo, prevenindo impactos negativos, como os causados por falências. O fundo possibilitaria melhores condições comerciais por meio da pré-compra de passagens aéreas e reservas, ampliando o fluxo de clientes e reduzindo custos financeiros. Além disso, fortaleceria parcerias estratégicas no setor de turismo e aprimoraria a gestão do fluxo de caixa da empresa.

ViagensPromo e ETS encerram parceria

Michael Barkoczy, CEO da ETS, Bárbara Picolo, diretora de Produtos e Operações da ETS, Renato Kido e Renato Alves, sócios diretores da ViagensPromo (Eric Ribeiro/M&E)

Parceria antiga entre as empresas parecia sólida no início, mas estava abalada mesmo antes do final do acordo, em janeiro deste ano (Eric Ribeiro/M&E)

Em 30 de janeiro de 2025, foi a vez da Easy Travel Shop (ETS) declarar a suspensão das vendas e o cancelamento de serviços futuros com a ViagensPromo (VP) devido a um desacordo comercial iniciado em dezembro de 2024. A ETS informou que continuava em negociações com a VP para buscar uma solução amigável para a situação.

Por sua vez, a ViagensPromo confirmou o fim do acordo, destacando que, a partir de 30 de janeiro, passaria a gerenciar diretamente os passeios turísticos com os fornecedores, sem a intermediação da ETS. A parceria foi uma das primeiras de grande sucesso da VP – mas um afastamento entre as duas empresas – que tiveram até camisas unindo as marcas e diversos estandes em conjunto, já vinha sido reparado há bastante tempo.

O que pode ter dado errado?

Agora que já relembramos tudo, vamos voltar e entender um pouco melhor os caminhos e decisões que podem ter levado a operadora, que tanto fez pelo mercado, à situação em que se encontra hoje. É impossível termos a certeza do que de fato trouxe a ViagensPromo até este momento, mas podemos observar o que deu errado nas estratégias montadas e apresentar algumas especulações e visões de especialistas do setor.

O VPPremium foi uma aposta ousada no segmento de luxo, com altos custos operacionais. Embora a primeira temporada tenha tido bons resultados, a segunda não atingiu as expectativas, gerando um grande impacto financeiro, de acordo com fontes. O VPincoming, criado para fortalecer a marca na América Latina, não trouxe resultados expressivos e pode ter contribuído para gastos elevados sem retorno significativo. O VPcard e o VPpay foram lançados com a promessa de oferecer mais flexibilidade financeira, mas não tiveram a adesão esperada. O VPair, que buscava consolidar um sistema de venda de passagens e fretamento aéreo, também não se concretizou da maneira planejada, enfrentando dificuldades tanto na plataforma quanto nas operações dos voos.

Além disso, a estratégia de promoções agressivas acabou prejudicando a sustentabilidade da empresa. O mercado mineiro, por exemplo, ficou “viciado” nas ofertas de fretamento, como a promoção 2×1 (dois passageiros pelo preço de um). Sempre que a empresa precisava de caixa, recorria a essa prática, mas, no longo prazo, isso apenas adiou problemas financeiros que, eventualmente, se tornaram insustentáveis. Outro problema seria as promoções de baixa margem de rentabilidade e parcelamentos acima de 12x sem juros, prática que é muito questionada pelo mercado pela sua ‘insustentabilidade’.

O FIDC – que deveria ter saído no final do ano passado, também se tornou um grande problema, tanto financeiro quanto de reputação para a empresa, já que o acordo foi adiado e nunca mais mencionado. O M&E tentou, por diversas vezes, contato com Alan Barros, fundador da Faturepag para saber mais sobre a situação do fundo, mas não obteve respostas. A falta de transparência e informação sobre a ‘chegada’ dos recursos providos pelo fundo causa uma grande preocupação do mercado, que junto as recentes denúncias de falta de pagamento por parte de fornecedores, agentes de viagens e até mesmo funcionários, foi uma decisão equivocada no ponto de vista de gestão de crise e confiabilidade.

Em conjunto, essas iniciativas, que pareciam promissoras no início, acabaram contribuindo para um cenário financeiro crítico, levando a ViagensPromo à situação delicada em que se encontra hoje. O que o futuro reserva para a VP é incerto, e o trade se preocupa com a possibilidade de uma recuperação judicial ou até falência da operadora, algo que não seria positivo para o mercado como um todo. Os próximos passos teremos que aguardar.

LEIA NA ÍNTEGRA O POSICIONAMENTO ENVIADO PELA VIAGENSPROMO SOBRE O CASO

“Em nota, a ViagensPromo informa que a operadora está em reestruturação financeira com revisão de processos e busca de eficiência operacional. Desde então vem renegociando prazos com alguns prestadores de serviços e/ou encerrando acordos comerciais e de prestação de serviços, como uma das medidas deste processo de reestruturação.

Adicionalmente, a companhia também esclarece que as reservas feitas estão sendo atendidas e honradas; e que as remunerações de seus colaboradores CLT foram pagas em dia. A companhia entende que essa reestruturação é necessária para que continue em franco crescimento, seguindo seu histórico de destaque no mercado nacional, no atendimento a agências de viagens parceiras.

Essa etapa está sendo feita via renegociações diretas com fornecedores com expectativa de conclusão até março e é necessária devido a uma combinação de fatores externos, como disparada do dólar e aumento de custo no financiamento de viagens, com a necessidade de maior prazo para clientes que compram via boleto.

Na figura de Renato Kido, único sócio da ViagensPromo, o mesmo diz que está atuante e cuidando pessoalmente das melhores soluções para os casos, para que tudo seja normalizado com brevidade, reiterando sua retidão e compromisso com o setor em 30 anos de atuação no turismo”.

*Para a construção desta matéria, ouvimos a opinião de especialistas, lideres do mercado, e fontes ligadas à operadora. 

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