Pesquisa da USP quer identificar origem de ossadas encontradas em vila ‘transferida’ da África para o AP


Pesquisadores coletaram amostras de DNA em ossos encontrados em ruínas de antiga igreja construída em 1770. Vila de Mazagão foi criada por portugueses que transferiram vila de Marrocos para o Amapá após invasão. Pesquisadores da USP investigam ossadas encontradas em Mazagão Velho, no Amapá
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) vai analisar esqueletos humanos encontrados sepultados sob o solo da primeira igreja, hoje em ruínas, da Vila de Mazagão Velho, no Amapá. O local foi fundado por Portugal em 23 de janeiro de 1770.
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De acordo com os registros históricos, os primeiros ocupantes foram colonos marroquinos e de outros povos – o que a pesquisa quer descobrir. Era 1771 quando os primeiros moradores, aproximadamente 160 famílias, chegaram à região após uma longa jornada entre Marrocos, na África, e o Norte do Brasil (entenda os motivos mais abaixo).
Ruínas de igreja construída em 1770 na vila de Mazagão Velho, no Amapá
Rafael Aleixo/g1
Os esqueletos foram encontrados durante uma escavação arqueológica realizada por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 2003. Na época, foram identificados na área traçados de ruas, tumbas coletivas e alicerces de uma igreja.
Sobre a atual pesquisa, os cientistas do Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva da USP ficaram preocupados com as condições de conservação dos ossos.
Marconi Alves, arqueólogo da USP
Rafael Aleixo/g1
“A partir da interação da pesquisa de genética atual, a gente decidiu adotar esse procedimento de estudo de DNA antigo, que é esse procedimento de extrair o DNA de algumas partes do esqueleto. São ossos pequenos como o petroso, da orelha, ou o dente molar onde se preserva melhor nesses esqueletos enterrados que ficaram muito tempo expostos à chuva, sol e a acidez do solo”, explicou Marconi Alves, arqueólogo da USP.
Ossos dos séculos 18 e 19 encontrados na vila de Mazagão Velho, no Amapá
Rafael Aleixo/g1
O pesquisador informou que a técnica de estudo de DNA antigo começou a ser feita no Brasil em 2010. No Amapá, será a primeira oportunidade do estudo em um cemitério com esqueletos do período colonial, talvez do século 18, 19 e até do 20.
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Fortaleza de Mazagão, no Marrocos
Reprodução
Entre 1770 e 1773, cerca de 2 mil portugueses em cerca de 470 famílias foram exilados pela invasão muçulmana na Vila de Mazagão, no Marrocos. Eles atravessaram o Atlântico e desembarcaram em Belém (PA), com o objetivo de reconstruir a cidade na Amazônia.
Na época, a migração forçada ocorreu por causa da guerra religiosa levada por Portugal em solo árabe, na tentativa de implantação do cristianismo no continente africano.
O conflito religioso, que durou anos, custou muito dinheiro à Coroa Portuguesa. Não podendo mais sustentar a guerra, Portugal resolveu transferir os moradores da Vila de Mazagão, no Marrocos, para o Brasil, e abrigou na Amazônia os primeiros habitantes do que viria a se tornar a vila de Mazagão Velho.
Mapeamento genético da USP no Amapá
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Além de Mazagão, a coleta de DNA foi realizada em outras regiões do Amapá. O objetivo da iniciativa é contribuir com o projeto Genoma de Referência do Brasileiro (GRB), que busca mapear a diversidade genética da população negra e quilombola, promovendo avanços científicos e a valorização cultural. 
A ação é voltada para pessoas que se autodeclaram negras ou pertencem a comunidades quilombolas de Macapá e Mazagão Velho, com idade mínima de 30 anos. O material coletado, a saliva, foi enviado à USP para análise. 
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