Ibovespa fecha no azul com balanços e exterior no foco

Ibovespa recua com foco em Trump e ajuste fiscal no Brasil

Os investidores repercutiram resultados de empresas importantes como Vale, Banco do Brasil e Gerdau. Tudo isso enquanto monitoram novidades sobre o possível acordo comercial entre Estados Unidos e China e aguardam os discursos de dirigentes do BC americano. Nesta quinta-feira (20), o Ibovespa fecha em alta de 0,23%, aos 127.600,58 pontos, após oscilar entre 127.063,47 e 127.871,29. Volume financeiro alcançou R$ 24,3 bilhões.

Segundo análise de Lucas Almeida, especialista em investimentos e sócio da AVG Capital, a bolsa hoje oscilou com o mercado digerindo balanços importantes, como o da Vale, que veio com prejuízo, mas surpreendeu positivamente com dividendos e recompra de ações, sustentando o índice. O Banco do Brasil, apesar do lucro recorde, vê suas ações caírem, refletindo, na minha visão, certa cautela com o setor de crédito. A alta do minério de ferro e a valorização de algumas empresas de varejo, como Assaí, também influenciam. Lá fora, incertezas sobre tarifas nos EUA e dados econômicos mistos adicionam volatilidade.

O dólar está caindo hoje, mas o cenário ainda é de volatilidade. Acredito que as novas tarifas anunciadas pelo governo Trump aumentam a incerteza no comércio global, e esse tipo de medida protecionista pode ter efeitos contraditórios: por um lado, fortalece o dólar no curto prazo pela busca de segurança; por outro, pode gerar ajustes nos fluxos de capitais, beneficiando algumas moedas emergentes, como o real.

Além disso, a questão geopolítica segue no radar, especialmente as negociações sobre a Guerra na Ucrânia. O mercado está atento a qualquer sinal de desescalada, o que poderia reduzir a aversão ao risco e favorecer moedas emergentes. Mas, por enquanto, os comentários recentes de Trump chamando Zelensky de “ditador” aumentam a incerteza e podem manter a pressão sobre o dólar.

Nos juros futuros, o investidor continua acompanhando a postura do Federal Reserve. A ata do Fed reforçou que um corte nos juros americanos ainda não está garantido, o que limita um enfraquecimento mais acentuado do dólar. No Brasil, a expectativa é de que o Banco Central siga reduzindo a Selic, mas o ritmo dessa queda dependerá muito do cenário externo e do comportamento da inflação local.
Se as tensões comerciais e geopolíticas diminuírem, há espaço para o real ganhar força e os juros futuros cederem mais. Mas, no curto prazo, o mercado deve seguir oscilando conforme novos desdobramentos surgirem.

Entre as altas, Assaí surpreendeu positivamente no 4T, principalmente na questão da rentabilidade e desalavancagem financeira. A empresa apresentou crescimento de 10% na receita e um avanço no SSS de 4,4%, além de uma melhora na margem EBITDA pré-IFRS16 para 6,4%. O fluxo de caixa foi um ponto de atenção no ano passado, mas há sinais claros de progresso, especialmente com a maturação das lojas convertidas. Apesar do ambiente competitivo no varejo alimentar e da inflação de alimentos, a tendência é de continuidade na melhora operacional, o que pode sustentar a valorização da ação. A desalavancagem e o fortalecimento do fluxo de caixa são fatores que devem ser acompanhados. O valuation segue elevado (12x P/L para 2025), mas ainda justificável considerando os fundamentos da empresa.

Outra alta é de A Vale, que entregou resultados sólidos no 4T, com EBITDA 4% acima das estimativas e um controle de custos melhor do que o esperado no minério de ferro. No entanto, a geração de fluxo de caixa ficou abaixo do ideal e o segmento de níquel continua com margens deprimidas. O grande destaque ficou por conta do anúncio de um dividendo extraordinário de US$ 500 milhões e um programa de recompra de 120 milhões de ações, que trouxeram um impacto positivo para o papel no pregão de hoje.

Acredito que o cenário de curto prazo para a Vale ainda apresenta desafios. A China, principal mercado consumidor, continua enfrentando um ambiente macro incerto, o que pode pressionar os preços do minério de ferro. Embora o mercado tenha reagido bem aos anúncios recentes, há o risco de novas revisões negativas em 2025 caso o minério caia abaixo das projeções de US$ 95/t. Acredito que o momento seja de aguardar mais clareza no ambiente macro e esperar mais clareja antes do investidor tomar a decisão de compra do papel.

Entre as quedas, temos Gerdau. Os resultados do 4T vieram em linha com as expectativas, mas ainda mostraram deterioração sequencial. O EBITDA caiu refletindo volumes mais fracos nos EUA e margens menores na América do Norte. O endividamento da companhia também cresceu mais do que o esperado, embora ainda esteja em um nível confortável (0,5x EBITDA).

A questão principal agora é entender se a empresa já atingiu o pior momento operacional ou se há espaço para mais quedas. As tarifas de 25% impostas pelos EUA podem impulsionar preços e compensar a fraqueza no Brasil, mas ainda é cedo para afirmar se isso será suficiente para melhorar os resultados no curto prazo. Apesar da falta de catalisadores imediatos, o valuation segue atrativo (abaixo de 4x EBITDA para 2025), o que parece limitar riscos de maiores quedas e pode ser um bom momento de compra para investidores com visão de médio/longo prazo.

Banco do Brasil também cai. A empresa entregou um trimestre forte, com lucro líquido ajustado de R$ 9,6 bilhões, superando as estimativas do mercado. O lucro antes dos impostos cresceu 16% t/t, impulsionado por menores provisões e bons resultados na tesouraria. No entanto, o guidance para 2025 veio um pouco abaixo do esperado, com previsão de crescimento de 3% no lucro líquido e um payout na faixa de 40-45% (ligeiramente abaixo dos 45% de 2024). Apesar do guidance um pouco mais conservador, a ação ainda apresenta um dividend yield atraente o que a torna interessante para investidores focados em dividendos. A valorização de 20% no ano pode gerar alguma pressão no curto prazo, mas os fundamentos seguem sólidos.

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