Bolha silenciosa? Gestora critica crescimento dos ETFs e gera polêmica no Fintwit

A última carta mensal da gestora brasileira Dynamo gerou bastante burburinho no Fintwit (comunidade do mercado financeiro no X, antigo Twitter). Ao longo de 11 páginas, a renomada casa criticou a gestão passiva e alertou que o investimento massivo em produtos da categoria, como ETFs (fundos de índice), poderia indicar perigo à vista.

Os motivos? A gestora apresentou vários, mas o principal pode ser resumido em um: os fundos de índice não realizam análise fundamentalista para comprar ações, seguindo apenas um índice – ou seja, não escolhem ações com base em critérios específicos, o que, segundo a Dynamo, pode criar distorções no mercado e, potencialmente, uma bolha.

“A dúvida é o quanto mais espaço pode ocupar e se há limites para além dos quais o encanto pode virar abóbora, a mecânica do relógio de precisão poderia transformá-lo em artefato de autodestruição para todos ao seu redor”, escreveu a gestora.

O mercado ficou dividido – com uma tendência maior para críticas. Nomes conhecidos na rede, como o especialista em investimentos Rafael Zattar, endossaram os comentários da Dynamo e reforçaram que a carta deixa um alerta claro. “Os ETFs e fundos passivos podem estar criando uma bolha silenciosa que ninguém está prestando atenção”, disse.

Por outro lado, alguns entenderam que os comentários são enviesados, já que a renomada gestora precisa proteger seu espaço. “A primeira parte da carta está excelente, com dados e referências. A segunda está com um viés grande e sem evidências claras. Entendo que a Dynamo precisa justificar a existência dela, afinal a gestão passiva e ativa irão sempre existir”, escreveu Pedro Mota, CFA, CAIA e gerente de portfólio da Nu Asset, no X.

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Uma briga antiga

Em conversa com o InfoMoney, João Paulo Fernandes, CEO da Casa Investimentos, lembrou que a discussão sobre uma suposta bolha provocada pelos fundos indexados é recorrente nos mercados internacionais e já foi amplamente debatida pela academia e pelo setor financeiro. “Acho interessante que esse tema esteja sendo discutido aqui, pois mostra que o mercado está evoluindo”, comentou.

No entanto, ele rebateu a ideia de que os fundos passivos possam estar criando uma bolha ou distorcendo o mercado. “Esse argumento não tem base empírica. Nos Estados Unidos, onde os ETFs representam mais de 50% dos ativos sob gestão, não há evidências de que eles tenham aumentado a volatilidade ou prejudicado a descoberta de preços”, falou.

Para embasar sua argumentação, Fernandes cita um estudo da Vanguard, publicado em 2018, que mostrou que o crescimento dos fundos passivos não aumentou a volatilidade do mercado. “O crescimento de fundos indexados lá fora não mudou a volatilidade do mercado. Isso é um indício para dizer que, quando você tem mais fundo ativo, mais fundo passivo, não necessariamente esses caras estão influenciando no preço”, explicou.

O que os números mostram?

Na briga entre os dois tipos de gestão, os números jogam contra a gestão ativa. O último Scorecard SPIVA Global, relatório publicado no final do ano passado pela S&P Dow Jones Indices, que mede a performance de fundos de gestão ativa contra seus benchmarks em todo o mundo, mostrou que 91% dos fundos de renda variável do Brasil perderam para seus benchmarks em um período de 10 anos.

Essa realidade não se limita ao Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, 84,71% dos fundos de gestão ativa não conseguem superar o desempenho do S&P 500, de acordo com dados do SPIVA. Na Europa, o cenário é ainda mais desafiador, com a porcentagem subindo para 92%. Já no Canadá e no Chile, o índice chega a 93%, reforçando a tendência global de dificuldades enfrentadas.

Lá em 2015, o professor Andrei Shleifer, da Harvard University, afirmava que os fundos de investimento com gestão ativa são caros, não conseguem superar a rentabilidade dos principais indicadores de mercado e tendem a continuar perdendo espaço para produtos mais simples e baratos, como os ETFs.

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Vale informar, no entanto, que o Dynamo Cougar, fundo de ações da Dynamo, foge à regra. O produto superou o Ibovespa em diversos períodos. No prazo de 36 meses, por exemplo, o instrumento subiu 12,5%, enquanto o índice brasileiro caiu -3,1%. Em 120 meses, enquanto o produto da gestora registrou alta de 207,3%, o indicador nacional cresceu 168%. “É um dos outliers do mercado brasileiro”, escreveu o especialista em investimentos Geraldo Búrigo, no X.

Apesar da disputa, Fernandes, da Casa Investimentos, acredita que a coexistência entre gestão ativa e passiva é essencial para o equilíbrio do mercado. “Há espaço para ambos os modelos”, afirmou, mencionando que, se os fundos passivos estivessem realmente criando ineficiências, os gestores ativos teriam um campo fértil para explorar.

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