BOLO ENVENENADO: Carta manuscrita encontrada na cela de Deise Moura dos Anjos traz confissão; leia trechos

Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como suicídio. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.

A Polícia Civil divulgou três trechos de manuscritos deixados por Deise Moura dos Anjos, 42 anos, apontada como única autora dos envenenamentos que mataram quatro pessoas da mesma família. Os papéis foram encontrados em sua cela, na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba (PEFG), e periciadas após o suicídio, em 13 de fevereiro. 

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Em um deles, o delegado de Torres, Marcus Vinicius Muniz Veloso, responsável pela investigação, afirma que foi Deise “confessa”, pela primeira vez, ter comprado o arsênio, elemento usado no envenenamento da família. Ela escreveu: “(…) a droga do veneno que comprei pra mim (pois te falei que estava muito depressiva e nesses momentos a gente não pensa) (…) mas chegou em 03/12 (…).”

Nos outros dois trechos, ela fala sobre a sogra, Zeli Teresinha dos Anjos, e demais familiares. As passagens foram lidas pelo delegado durante coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (21). Deise escreveu: “Muito obrigada por esses 20 anos que fez da minha vida de casada um inferno, mais uma vez eu sou a vilã e você a mocinha (…). Conseguiu ficar com tudo o que é meu, minha família, minha casa (…).”

“(…) não podemos alterar o passado, nem trazer de volta as pessoas amadas que perdemos. Eu adorava o meu sogro, amava a Dinda e a tia Maida (…). Em relação a Tati, há vinte ano atrás, seu ciúme obsessivo nos distanciou, juntamente de todos vocês com nós.”

Trechos selecionados com cuidado

De acordo com o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, não são escritos com pensamentos lineares nem endereçados a alguém. “São três extratos pequenos que nós tivemos muita preocupação na divulgação disso para nós preservámos a memória daqueles que ficaram e também daqueles que se foram. Recortamos aqueles pontos que absolutamente tem a ver só com o ânimo e com a situação que envolve especificamente a Deise”, explica. 

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A escolha minuciosa já havia sido informada pelo próprio Chefe de Polícia quando os materiais foram encontrados na cela de Deise. Na ocasião, uma camiseta com uma mensagem dizendo “eu não sou assassinada” foi revelada pela corporação. As demais mensagens precisaram ser analisadas pelos investigadores antes da divulgação.

Sodré ainda reforça que os materiais não serão divulgados para além do processo de investigação para preservar todos os envolvidos.

Desdobramentos 

Os inquéritos que tratam dos envenenamentos de Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza, em Torres, no litoral norte, em dezembro do ano passado, e do sogro, Paulo Luiz dos Anjos, em setembro, somam mais de mil páginas. E ainda fornecem informações para mais desdobramento. 

Conforme informado pela Polícia Civil, o arsênio usado como veneno foi comprado pela internet. Entretanto, a compra e venda do produto é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A legislação é extremamente rígida”, define a diretora-geral do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Marguet Mittmann. 

Por esta razão, um novo inquérito deve investigar a facilidade de acesso e aquisição do produto. As informações sobre a empresa da qual Deise comprou foram mantidas em sigilo durante a coletiva de imprensa. 

Onde buscar ajuda

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes.

Mapa da Saúde Mental

O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.