Tarcísio adere à onda tiktoker e expõe nova era da direita nas redes

São Paulo — As redes sociais do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), passaram por uma mudança radical nos últimos meses.

O perfil sério adotado no início da gestão deu lugar às montagens, com direito a Tarcísio encenando o personagem Marty McFly em uma cena do filme De Volta para o Futuro, e de uma cena do governador fugindo de um tatu ficcional.

Os vídeos são muito diferentes dos produzidos cinco meses atrás, quando um anúncio da Linha-6 do Metrô, por exemplo, foi feito com o governador usando capacete e colete de proteção, enquanto andava pelo túnel descrevendo entregas e detalhes técnicos da obra. Enquanto o vídeo mais antigo 397 mil visualizações a versão com o tatu ficcional chegou à 1,6 milhões.

O novo modelo reflete no desempenho do conteúdo e pode ser uma ajuda importante para Tarcísio vencer o desconhecimento, seu maior desafio caso saia candidato à Presidência nas eleições de 2026.

 

Nova era da direita nas redes

Por trás da mudança de Tarcísio, há uma tendência de mudança no perfil das redes dos políticos de direita, que têm explorado o entretenimento como uma forma de aumentar seu alcance nas redes.

Além do governador, outros nomes da política paulista, como o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), já se arriscaram em vídeos que fogem à seriedade tradicional da política.

Uma das referências para o fenômeno é o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), com o maior número de seguidores no TikTok entre os gestores municipais do Brasil.

Em suas redes, Manga faz um conteúdo que é diferente daqueles produzidos por movimentos da direita que fizeram sucesso na internet no passado, como o Movimento Brasil Livre (MBL).

Ao invés das discussões polêmicas e das cenas com forte teor emocional, ele apela para encenações e brincadeiras nos primeiros segundos. Modelo que também é usado por outros líderes de seguidores, como o prefeito de Florianópolis, Topazio Neto (PSD), e tem sido cada vez mais buscado pela direita.

 

Em conversa com o Metrópoles o “prefeito tiktoker” de Sorocaba relatou já ter sido procurado por outras figuras da política, inclusive pelo próprio Nunes e por Tarcísio, que teriam pedido dicas para engajar com o público nas redes.

Estratégia responde ao algoritmo

A estratégia dos políticos acompanha as tendências de conteúdo das redes sociais, em especial das plataformas de vídeo.

Viktor Chagas, professor do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que a mudança não é propriamente uma novidade, mas sim uma resposta às diretrizes do próprio TikTok e do Instagram de diminuir o alcance de conteúdos políticos e favorecer conteúdos leves.

“Lá em 2022 a gente já observava que alguns políticos de direita tinham começado a mesclar mensagens de caráter político com outras voltadas para o entretenimento. A gente percebeu inclusive que políticos de direita tem conseguido alcançar um desempenho maior no engajamento das suas postagens em função desses tipo estratégia”, disse o professor Viktor Chagas ao Metrópoles.

A professora da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECAUSP), Issaaf Karhawi, explica que o humor cumpre uma função especial nesses casos porque ele consegue furar as bolhas ideológicas e repercutir mais que outras linguagens.

“Quando a direita usa o humor, ela consegue ultrapassar a conversa da bolha da direita. É uma linguagem que chega em outros espaços, seja pelo absurdo ou pelo questionável. Ela usa uma linguagem que é leve e que consegue ter vazão”, disse a professora da ECA USP, Issaaf Karhawi, ao Metrópoles.

A estratégia é diferente, por exemplo, daquilo que já foi observado em outros contextos, como no X (antigo Twitter), onde conteúdos mais combativos e que exploravam a polarização ganhavam destaque.

Além do movimento das plataformas, essa migração, Issaf explica, é influenciada pela própria demanda da audiência, que parece ter se cansado, mesmo que temporariamente, das discussões mais fervorosas.

“A gente nunca vai compreender os sistemas algorítmicos, porque eles fazem parte de uma linguagem própria, que depende inclusive da aceitação do público. Existe uma lógica que é cíclica, em que é mais importante em um período específico vai se modificando, se reorganizando”, completa a professora da USP.

Esquerda tenta acompanhar

Os professores UFF da USP consultados pelo Metrópoles concordam que o uso da descontração e do humor nas redes tem sido melhor explorado pela direita.

Na lista de dez prefeitos com maior número de seguidores nas redes sociais, o único da esquerda a aparecer é o de João Campos (PSB), que ganhou fama nacional por suas dancinhas no TikTok.

Para os especialistas, a direita, que já predominava no discurso da polarização, também tem sido mais hábil em se adaptar à linguagem do entretenimento.

Para tentar vencer a dificuldade, a nova gestão da Secom do governo federal, chefiada por Sidônio Palmeira, chegou a convidar a equipe de Campos para discutir estratégias de comunicação.

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