“Vão ter que matar três crianças e uma família”, diz morador que pode ter casa demolida pela prefeitura

Uma família do bairro Canudos, em Novo Hamburgo, está vivendo momentos de desespero após ser notificada pela Prefeitura de que a casa onde residem, na Rua Bruno Werner Storck, quase esquina com a Avenida dos Municípios, pode ser demolida em breve.

CRISE HABITACIONAL: Como a Prefeitura de Novo Hamburgo pretende acabar com as ocupações irregulares na cidade

O casal Luiz Fernando dos Santos, 29 anos, e Lauane Hermann da Silva, 28, pais de três filhos pequenos – duas meninas, de 2 e 10 anos, e um menino, de 3 –, teme perder não apenas o imóvel, mas também o investimento de aproximadamente R$ 80 mil feito para reconstruir a residência. A antiga, de madeira, foi perdida na enchente de maio do ano passado. 

A nova casa, de alvenaria, foi construída no mesmo terreno onde a família vive há cerca de 30 anos, agora em um nível mais elevado para evitar novas tragédias causadas por cheias. Segundo Santos, a obra vinha sendo realizada há aproximadamente oito meses com recursos obtidos por empréstimos e até pelo auxílio reconstrução. 

LEIA MAIS: “Postura do poder público vai ser essa diante das invasões”, afirma secretário do Meio Ambiente após demolição de construção

No entanto, pouco mais de duas semanas após se mudarem para o imóvel, veio a notificação: a casa será derrubada caso o morador não providencie a demolição. De acordo com o pedreiro, a Prefeitura não apresentou justificativa clara para a decisão.

O documento, entregue no dia 15 de fevereiro, às 14h25, orienta Santos a interromper a construção por se tratar de uma obra irregular em área pública. “Não moro aqui há um dia ou um ano, são quase 30 anos”, expõe.

CONFIRA TAMBÉM: Moradorada investiu R$ 20 mil em construção derrubada em Novo Hamburgo; Prefeitura diz que área é pública

A notificação ainda determina que o morador realize a demolição do imóvel. “Em caso de não atendimento, estará sujeito ao uso da força para a restituição da área ao município”, escreveram os fiscais da Prefeitura na notificação.

“É o sonho de todo mundo ter uma casa. E agora que estamos quase terminando o nosso sonho, sem mais nem menos, querem destruir. Eu quero uma explicação do porquê”, desabafa o morador, que atualmente está desempregado.

Apreensão e medo: Luiz com a esposa Lauane temem ficar sem ter onde morar após ameaça de demolição da casa pela Prefeitura

Isaías Rheinheimer/GES-Especial

Pedreiro Luiz Fernando dos Santos mostra capa do Jornal NH que indica que família reside no terreno há cerca de 30 anos

Isaías Rheinheimer/GES-Especial

Anterior

Próxima

CLIQUE AQUI PARA FAZER PARTE DA COMUNIDADE DE NOVO HAMBURGO NO WHATSAPP

Filha sofrendo de ansiedade

A incerteza sobre o futuro da família tem causado sofrimento especialmente às crianças. A filha mais nova, de apenas 2 anos, desenvolveu pneumonia após a última enchente e o período em que passou em um abrigo. Já a filha mais velha tem demonstrado sinais de ansiedade e medo desde que a notificação chegou.

Revoltado com a possibilidade de ver sua casa destruída, Santos afirma que não sairá do local e desabafa: “Eles vão ter que matar três crianças e uma família dentro de casa, porque eu não vou sair. Eu não tenho para onde ir. Vou morar onde, na rua?”

A Prefeitura de Novo Hamburgo tem realizado demolições de imóveis que considera irregulares em terrenos classificados como área verde ou pública. Se confirmada, a destruição da casa do pedreiro será a terceira do tipo nas últimas semanas na cidade.

FIQUE POR DENTRO: “Muito abalada com tudo que aconteceu”, afirma advogado sobre proprietária que teve construção demolida pela Prefeitura

Luiz Fernando dos Santos procurou um advogado para tentar reverter a decisão, mas até o momento não recebeu nenhuma resposta da administração municipal. Ele afirma que, caso a casa seja demolida, não pretende sair do terreno. “Podem até me tirar de dentro de casa à força. Vou fazer um barraquinho no mesmo lugar e vou protestar até o último. Aqui é o meu lugar”, pontua.

• SIGA O ABCMAIS NO GOOGLE NOTÍCIAS!

O advogado Ronaldo Schneider, que atua na defesa de Santos, explica que busca judicialmente impedir a demolição da casa, contudo, em primeira instância, o pedido liminar foi negado.

“Já recorremos ao Tribunal de Justiça (TJ-RS) e estamos na expectativa de que o processo seja encaminhado ao relator entre hoje (25) e amanhã. Estou confiante de que o desembargador mantenha o direito de posse ao Luiz. Não quero crer que vão deixar três crianças ao relento”, coloca.

A Prefeitura de Novo Hamburgo foi procurada para se manifestar sobre o caso, mas até a publicação da reportagem não havia se manifestado. O espaço segue aberto para o contraponto.