Tragédia no Caparaó: acidente aéreo no Pico da Bandeira matou família

Em meio às tragédias aéreas registradas nas últimas semanas no Brasil e no mundo, algumas discussões foram levantadas sobre um dos meios de transportes mais utilizados na vida moderna, e esses casos têm ganhado cada vez mais notoriedade. Mas, acidentes com aviões de pequeno e grande porte já chocam o país há muitas décadas. Inclusive, há 57 anos uma tragédia no Caparaó marcou a história de uma família mineira para sempre. Você sabia que um avião caiu no Pico da Bandeira?

O acidente aéreo, envolvendo um Cessna 206 PT-MGH, da Táxi Aéreo Minas Gerais (TAMIG), caiu no Pico da Bandeira, na região de Serra do Caparaó, com 10 ocupantes, sendo nove da mesma família. A tragédia ocorreu no dia 1° de março de 1968 e todos os ocupantes morreram. Eles tinham decolado de Guarapari, no Espírito Santo, onde passaram o fim de semana, e retornavam para Belo Horizonte, em Minas Gerais, onde residiam.

Nove pessoas da mesma família morreram no acidente

Noticiários da época informaram que o voo tinha sido fretado pelo industrial mineiro Chaffir Ferreira. Morreram na tragédia a sua esposa, Paulina Aluoto Ferreira; suas filhas Maria Helena Ferreira Meniconi e Márcia Ferreira Meniconi; e seus netos, dois de cada filha, Marcos Meniconi Junior, de 4 anos, e Andréia de 1 ano; Paulo Augusto Ferreira, de 4 anos, e Paulo Márcio, de 1 ano; além de outros dois netos do industrial: Denise e Chaffir Neto, de 8 e 5 anos, respectivamente, e o piloto da aeronave, Geraldo Berg.

Chaffir Ferreira e os maridos das filhas, sua outra filha, Rita Ferreira e o marido Temer Maurício, além de um neto, André, de apenas 3 anos, fizeram o percurso de volta para casa de carro. Eles viajaram horas antes do voo, que estava agendado para as 16h10. O tempo de voo até Minas Gerais seria de 1h30. No entanto, depois de horas da decolagem, ninguém teve mais notícias da aeronave ou dos ocupantes.

Angústia durante as buscas

Segundo a publicação da revista ‘O Cruzeiro’, de 23 de março de 1968, disponível no Acervo da Biblioteca Nacional, foram dias de desespero sem ter notícias do paradeiro do Cessna, que deveria ter chegado 1h30 após sua decolagem ao destino final. Os destroços finais foram localizados pelo irmão do piloto da aeronave, José Berg, com a ajuda de moradores da região, cinco dias após a tragédia.

“Cinco dias angustiosos, traumatizando não só uma família que se dizimava, mas o Estado inteiro, que acompanhava pelo rádio e pelos jornais os lances de uma catástrofe tão chocante. As crianças a bordo davam a esse desastre o toque da comoção pública. Para aumentar ainda mais o clima de tensão e sofrimento, notícias contraditórias surgiam e se desfaziam, numa cadeira sucessiva”.

Fonte: Revista ‘O Cruzeiro’, 23.03.1968 – Acervo da Biblioteca Nacional

Em outra reportagem, publicada no jornal Correio da Manhã, em 6 de março de 1968, apontava que mau tempo na região atrapalhou o trabalho de localização dos destroços e das vítimas da tragédia. Aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) ajudaram nas buscas e no resgate dos corpos.

“Cinco dias depois de ocorrida a brutal tragédia do Caparaó, um helicóptero da FAB conseguiu, por fim, descer naqueles cumes cobertos pelas brumas e resgatar os corpos. Dez criaturas, possivelmente mortas com o impacto do aparelho contra as rochas, jaziam congeladas. Era o fim de um pesadelo que ainda emociona os mineiros”.

Fonte: Revista ‘O Cruzeiro’, 23.03.1968 – Acervo da Biblioteca Nacional

Helicóptero pousou o cume do Pico da Bandeira para fazer o resgate dos corpos das vítimas do acidente (Foto: Acervo pessoal)

A tragédia do Caparaó

No município de Alto Caparaó, no Estado de Minas Gerais, residem dois moradores que ajudaram na procura e no resgate dos corpos da tragédia do Caparaó. Valdemiro Américo Amorim, de 86 anos, conhecido como ‘Seu Lecki’, e Jacir Prudente Fernandes, de 75 anos, conhecido como ‘Chiquinho’, ainda lembram do dia do fatídico acidente aéreo.

Valdemiro Américo Amorim, de 86 anos, conhecido como ‘Seu Lecki’, ajudou a localizar os corpos das vítimas (Foto: Enrique Moté/Aqui Notícias)

Serralheiro aposentado, ‘Seu Lecki’ integrou a equipe de busca, liderada pelo irmão do piloto do Cessna, José Berg, também piloto de avião. “Ele chegou em Alto Caparaó e disse que precisava de ajuda para localizar o avião, pois não conhecia muito bem a região. Fomos ajudá-lo. Andamos mais ou menos uns 30 quilômetros até encontrarmos o local onde estava o avião acidentado”, conta.

Na época, ‘Seu Lecki’ tinha 29 anos. “Lembro que eles vieram aqui com um mapa e me entregaram, perguntando se eu sabia onde ficava a área. Como meu pai tinha propriedade do parque, eu conhecia bem toda a região. No outro dia, pegamos os animais e fui com outros dois moradores, o Ciro Tavares e o Gerson Neves, já falecidos”, lembra.

Tragédia do Caparaó foi em local de difícil acesso

‘Seu Lecki’ contou ainda que quando chegaram na região, do lado do Espírito Santo, viram os helicópteros sobrevoando a área, mas não tinha local de pouso. “Saímos de madrugada de Alto Caparaó e 9h estávamos no local do acidente. Vimos os corpos de longe, e acompanhei o resgate. Quando o helicóptero que resgatou os corpos foi sair, deu uma ventania e quase caiu, mas conseguiu sair”, continua.

“Essa foi a maior tragédia da região. Era uma região de difícil acesso e todos que estavam ajudando nas buscas ficaram muito tristes quando os corpos foram localizados. Teve um avião da FAB que precisou fazer um pouso forçado, mas todos os ocupantes sobreviveram”, finaliza.

Avião da FAB que fez um pouso de emergência no Parque Nacional do Caparaó, em Alto Caparaó (Foto: Acervo pessoal)

Comoção com o resgate

Nascido e criado em Alto Caparaó, ‘Chiquinho’ tinha 18 anos na época do acidente. Ele estava na equipe conduzida por seu pai para tentar localizar o avião. “Nós conhecíamos todo o campo, todos os lugares do parque. Nos chamaram para ajudar a procurar o avião, mas não sabiam onde ele tinha caído. Chovia muito no dia e o clima na montanha é diferente”, relembra.

Jacir Prudente Fernandes, de 75 anos, conhecido como ‘Chiquinho’ também ajudou nas buscas (Foto: Enrique Moté/Aqui Notícias)

Durante as buscas, o pai de ‘Chiquinho’ perguntou de onde o avião vinha. Ao saber que era de Vitória, ele apontou que o avião não tinha caído no parque no lado de Minas Gerais, e sim no parque pelo lado do Espírito Santo.

“O avião saiu baixo no vão entre as pedras, e não teve altura suficiente para subir. Foi por muito pouco, mas ele bateu em uma pedra e caiu. Meu pai então decidiu dividir a área em 50 metros para cada equipe procurar, pois iria facilitar as buscas. E assim fizemos. Depois de algumas horas, encontramos o avião”, disse.

Durante as buscas, várias equipes foram mobilizadas para ajudar, inclusive aviões da Força Aérea Nacional (FAB). “Foi muito difícil e doloroso encontrar aqueles corpos. Eu ainda fico todo arrepiado quando me lembro. Quando chegamos, tinham algumas autoridades lá que nos pediram para manter distância, mas consegui ver que estavam todos mortos”, completa.

Os corpos foram resgatados e levados até o cume do Pico da Bandeira, onde um helicóptero aguardava para levá-los para Minas Gerais. A tragédia do Caparaó chocou os moradores do lado do Espírito Santo e de Minas Gerais.

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