Volkswagen Tera estreia no Carnaval do Rio. Por que tanto barulho?

Qualquer brasileiro que se interessa e acompanha minimamente o mercado automotivo não escapou da imagem da atriz e apresentadora Sabrina Sato, desfilando na Marquês de Sapucaí, no maior e mais afamado Carnaval do mundo, no último domingo 2/3, a bordo do novíssimo Volkswagen Tera. Todo mundo viu.

O lançamento comercial do VW Tera no Carnaval, de acordo com o que a fabricante informou, será só depois de maio. Mas vamos combinar: o “mundo” já tá avisado que esse SUV compacto fará parte do mercado brasileiro daqui a dois meses, tal a visibilidade que ele adquiriu ao atravessar a passarela do samba.

Arrisco afirmar que nenhum automóvel terá sido mais fotografado e filmado em 2025 do que o SUV. Ele ocupou geral o noticiário. O Volkswagen Tera estava no Carnaval. E ainda haverá outro evento em maio.

Imagem mostra farol do novo VW Tera antes do lançamento
VW Tera [divulgação]

A estratégia

Na análise mais clássica, tudo o que você investe em Marketing e Comunicação tem um único objetivo: fazer seu produto aparecer (bem) para o maior número de clientes ou futuros clientes, tangibilizando esse anúncio com valores que edifiquem a reputação de marca.

Ao se aprofundar nessa estratégia, você começa a desvendar outros objetivos pretendidos pela fabricante em uma apresentação maiúscula como essa. Um deles é o tamanho do apetite de quem lança, com nuances claras de tentar influenciar os receptores dessa comunicação.

Imagem mostra farol do novo VW Tera antes de ser lançado na Sapucaí
VW Tera [divulgação]

(Anos atrás, a Fiat fez o lançamento do Doblò em Goiânia, em um evento em que os jornalistas podiam levar suas famílias. O ponto alto da apresentação ocorreria em um espetáculo circense. Pois não é que aparece um palhaço no final do evento, evocando uma série de mensagens importantes que ilustravam as virtudes do carro? E esse palhaço, ao se desnudar perante o público, era ninguém menos do que o Diretor de Comunicação da marca? Genial, simplesmente genial.)

De volta ao Volkswagen Tera no Carnaval e ao apetite da marca– é que eu não podia deixar de mencionar outro exemplo brilhante de um evento de lançamento como foi o do Doblò. Quanto maior for o investimento e o barulho criado pela Volks nessa ação, maior será a percepção (sua e minha) do quão importante ele será para a própria empresa.

Imagem mostra roda do novo VW Tera antes de ser lançado na Sapucaí
VW Tera

No evento, lá na Marquês de Sapucaí, o CEO da Volkswagen, Ciro Possobom, exibiu uma imagem aos jornalistas que cobriam o evento onde o Tera aparecia lado a lado com Fusca, Gol e Polo, içado, nas palavras do executivo, à condição de “ícone” da marca alemã antes mesmo de seu nascimento.

Essa questão corrobora o raciocínio anteriormente descrito: desde o início, a Volks quer que você acredite que esse será O CARRO, não apenas mais um carro. E deverá ser mesmo. Se não fosse, não teria tanto Carnaval com o Volkswagen Tera. Conto o porquê a seguir.

Volkswagen Tera prata lunar de traseira na sapucaí
Volkswagen Tera [divulgação]

A Volks não costuma ser ágil

Até aqui, OK, esse texto serviria para qualquer montadora ao ter um lançamento relevante. Onde o Tera se diferencia? Pelo simples fato de a Volks estar aparentemente fugindo de sua essência. Muitas vezes, a marca alemã demora para responder a uma demanda de mercado. Mas quando o faz…

Vamos relembrar do segmento imediatamente acima de onde o Tera se posiciona. O primeiro SUV compacto do Brasil surgiu em 2003. Era o Ford EcoSport. Ele estava muito à frente de seu tempo, tanto que os concorrentes diretos começaram a surgir só 8 anos depois, que foi o Renault Duster. O Chevrolet Tracker chegou em 2013. Antes disso, os únicos rivais do modelo da Ford eram improvisadamente os da família Adventure, da Fiat. E o VW CrossFox.

volkswagen crossfox laranja de frente no rodoanel
Volkswagen CrossFox [divulgação]

Outros tantos SUVs surgiriam na metade da década seguinte: Honda HR-V, Jeep Renegade e Peugeot 2008 (2015), Nissan Kicks (2016), Hyundai Creta e Renault Captur (2017) e Citroën Cactus (2018). E nada de Volkswagen…

O T-Cross chegaria só em 2019. Mas bastou que estreasse para assumir as primeiras posições nas vendas, algo que permanece até hoje. Se você considerar ainda a presença do Nivus nesse segmento, a partir de 2020, pronto, ninguém vende mais SUVs compactos no país do que a Volks.

Volkswagen T-Cross 200 TSI [Auto+ / João Brigato]
Volkswagen T-Cross 200 TSI [Auto+ / João Brigato]

Daria para descrever outros tantos exemplos em que a marca não se importou muito em chegar depois. Ela sempre foi ponderada para realizar suas novas investidas. Isso para não dizer “lenta”, aos olhos dos mais críticos. Repare o caso das picapes intermediárias: você tem Renault Oroch, Fiat Toro, Chevrolet Montana… e nada de VW Tarok. E isso costuma ser frequente.

Com o Tera vai ser diferente

Desta vez, o modelo da Volks não custou tanto a chegar. Ela não foi reativa. O VW Tera não precisará enfrentar quase uma dezena de adversários já postados no mercado, como ocorreu com T-Cross e Nivus. Os rivais diretos do Tera serão somente o Fiat Pulse e o Renault Kardian. Daqui a pouco chegará também o Toyota Yaris Cross.

Volkswagen Tera [divulgação]

E por que estou descrevendo esse cenário? Certamente porque a Volks sabe disso muito melhor do que eu, e essa deve ter sido uma das razões para realizar um pré-lançamento tão grandioso como o que foi feito no Carnaval do Rio.

A empresa sinaliza que “está chegando”, à frente da maioria das concorrentes, e disposta a transformar esse segmento, que é até mais importante do que o do T-Cross, visto que a expectativa de preços para o Tera reside na faixa de R$ 100 mil a R$ 150 mil. Ele certamente será o Volkswagen mais vendido do país em um curto espaço de tempo, o que pode devolver à marca a liderança geral nas vendas e remexer totalmente nas estratégias das concorrentes.

Volkswagen Tera prata lunar e vermelho de frente na sapucaí
Volkswagen Tera [divulgação]

O que ninguém pode prever é o quanto o Tera irá canibalizar as vendas do Polo, já que ele deverá se posicionar na mesma faixa de preços. E também do quanto irá extrair de vendas da dupla T-Cross/Nivus, visto que será mais barato e, na prática, vai entregar só um pouco menos de espaço interno.

Mas mais do que isso: ele deverá mesmo tirar vendas dos hatches e dos sedãs da concorrência, tendo a vantagem, aos olhos do consumidor, de ser um SUV e, ainda, de ter todo o frescor da novidade. Faça esse exercício desde já: mostre uma foto do Tera à sua esposa, seu filho, seu amigo (…) e pergunte se ela ou ele preferirá esse carro ou um Argo, um Peugeot 208, um Onix Plus, um Hyundai HB20 e qualquer outro modelo dessa categoria… custando o mesmo preço do novo SUV da Volks. Será barbada.

Volkswagen Tera de frente
Volkswagen Tera [divulgação]

Parece um imenso exercício de futurologia. Mas já vimos isso acontecer com outros lançamentos bombásticos como esse. O que eu prevejo para o segundo semestre deste ano, depois que o Tera chegar e o público assimilar a novidade?

Boa parte dos hatches e dos sedãs compactos em suas versões mais caras, bem como os SUVs de Fiat e Renault (o da Citroën já é bem mais barato) que são concorrentes diretos, deverão ter de se acomodar com alguma queda de preços. Tão simples como isso.

Uso o próprio exemplo da dupla T-Cross e Nivus. Eles chegaram depois de toda a concorrência e, exceção feita ao design charmoso do Nivus, não exibiam qualquer adjetivo mais destacado frente aos rivais. Mas não deram bola para a fidelização dos adversários e viraram líderes de vendas.

Não te parece óbvio que a chance desse fenômeno se repetir com o Tera, que tem bem menos concorrentes diretos, é bem grande? Um Argo de R$ 105 mil terá maior dificuldade para ser vendido com o Tera posicionado 5 ou 10% acima.

interior do Volkswagen Tera
Volkswagen Tera [divulgação]

Gosto muito quando um carro “blockbuster” chega ao mercado nacional. Há a obviedade de celebrar a chegada de um modelo aspiracional na faixa de entrada do nosso mercado, o que sempre é bem positivo, pois vai encantar centenas de milhares de consumidores.

E há os benefícios indiretos. E é essa mensagem que esse texto pretendia dar desde o início e o motivo pelo qual pensei em escrevê-lo, destacando o porquê de um lançamento tão importante. O Volkswagen Tera tende a realinhar os preços dos concorrentes, além dos modelos de sua própria família e fazer um Carnaval no mercado. Essa é a grande notícia.

Volkswagen Tera [divulgação]

Eu, por exemplo, não sou fã direto do modelo, visto que não gosto de utilitários esportivos. Mas prevejo a provável acomodação de preços dos hatches e dos sedãs dessa categoria. A se confirmar, isso sempre é uma ótima notícia.

Você acha que o Volkswagen Tera vai fazer sucesso? Conte nos comentários.


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