JBS disputa maior produtora de aves do Oriente Médio, mas mercado gostará da compra?

Fachada de fábrica da JBS

Mais uma notícia movimentou a JBS (JBSS3) nesta segunda-feira (10). Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, a gigante brasileira de carnes e a empresa saudita Almarai estariam entre as empresas que disputam a compra da Alwatania, a maior produtora de aves do Oriente Médio.

As duas empresas teriam apresentado ofertas separadas e não vinculantes para uma compra definitiva da Alwatania, disseram as fontes.

A empresa saudita Tanmiah Food e um consórcio liderado pela empresa ucraniana de agrotecnologia MHP também fizeram propostas separadas, de acordo com as pessoas. A Alwatania, com sede na Arábia Saudita, vem explorando uma possível venda desde o final do ano passado, em uma transação que pode chegar a 2 bilhões de riyals (US$ 533 milhões), informou a agência.

As conversações estão em andamento e os licitantes ainda podem desistir ou a Alwatania ainda pode decidir não levar a venda adiante, disseram as fontes. A BSF Capital atua como consultora em qualquer possível negócio. Os representantes da Alwatania, Almarai, Tanmiah e BSF Capital não responderam imediatamente aos pedidos de comentários. A JBS e a MHP não quiseram comentar.

Qualquer acordo viria no momento em que o setor alimentício saudita está recebendo um impulso da reforma econômica de vários trilhões de dólares do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman.

Alimentar a população é a pedra angular desse esforço, com o reino buscando atender a demanda doméstica e reduzir a dependência das importações. O reino destinou pelo menos US$ 4,5 bilhões em investimentos para aumentar a produção local de aves e tem adquirido participações em empresas globais para apoiar suas ambições de segurança alimentar.

A empresa estatal de comércio de alimentos da Arábia Saudita, conhecida como Salic, recentemente fechou um acordo para assumir o controle acionário da unidade de agronegócios da Olam, de Cingapura. A Salic também é acionista da empresa ucraniana MHP e da exportadora brasileira de frango BRF (BRFS3), que tem expandido suas operações no reino.

A Almarai também está expandindo seus negócios no país. O esforço para garantir o suprimento de alimentos assumiu um papel ainda maior para a Arábia Saudita depois que a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia interromperam as cadeias de suprimentos e elevaram os preços a níveis recordes.

A produção local de carne de aves agora ultrapassa 1 milhão de toneladas, representando uma taxa de autossuficiência de 72%, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, Água e Agricultura.

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A Alwatania foi fundada em 1977 por Sulaiman Al Rajhi, que também fundou o Al Rajhi Bank com seu irmão. O Al Rajhi Bank é o maior credor por capitalização de mercado no reino e um dos maiores bancos islâmicos do mundo. A família Al Rajhi está entre as famílias não reais mais ricas da Arábia Saudita. A empresa processa mais de 1 milhão de aves e 1,5 milhão de ovos por dia, de acordo com seu site. Em contraste, o maior produtor de aves do mundo, a JBS (JBSS3), processa 4,4 bilhões de frangos por ano.

O Bradesco BBI reforça que a Arábia Saudita adotou há anos uma agenda para lidar com suas preocupações com a segurança alimentar, e isso é especialmente verdadeiro no mercado de aves, em que os esforços claros foram empregados para reduzir a dependência do reino em importações. Em 2013, apenas 38% do seu consumo de aves foi produzido localmente, o que cresceu para 68% até 2024, e espera-se que se expanda para mais de 80% nos próximos anos.

Então, para as empresas brasileiras que há muito dominam o mercado de exportação para a Arábia Saudita, adicionar uma presença local mais forte ao negócio tornou-se estrategicamente importante, e é algo que está sendo ativamente buscado. “A BRF, por exemplo, tem a Salic como acionista de cerca de 11,5%, e a empresa anunciou no ano passado a aquisição de uma participação de 26% (por US$ 84,3 milhões) na Addoha Poultry Company da Arábia Saudita por meio de sua joint venture 70/30 com a PIF”, aponta.

A JBS, por sua vez, concluiu no ano passado um investimento de US$ 50 milhões para quadruplicar a capacidade de produção de alimentos processados ​​da Seara na Arábia Saudita para 40 mil toneladas, mas a aquisição da Al Watania não só aumentaria significativamente sua presença local, mas também permitiria verticalizar a cadeia de produção por lá, avalia o BBI.

Curiosamente, a Al Watania também é a maior produtora de ovos da Arábia Saudita, e um possível acordo viria logo após a aquisição pela JBS de uma participação com direito a voto de 50% na Mantiqueira.

Os números da Al Watania não são públicos, mas um prospecto recente estimou os volumes de aves frescas da empresa no país em 233 mil toneladas em 2023. Isso implicaria, avaliam os analistas, em um múltiplo de transação de US$ 2,2 mil/tonelada, embora isso exclua o negócio de ovos, a probabilidade de que os volumes tenham crescido desde então, volumes eventuais que são exportados para outros países e também considera o valor da transação relatado pelo valor de face.

Como referência, vê a BRF sendo negociada a um EV (valor da firma) de R$ 1,6 mil/tonelada com base em seus resultados de 2024 (a estrutura de margem também deve ser diferente).

“Nossa percepção é que os investidores prefeririam que a JBS continuasse a se concentrar em uma maior desalavancagem neste ponto do ciclo e, finalmente, acelerasse os retornos de caixa para os acionistas. A reação ao incremento de US$ 1 bilhão em capex orgânico durante uma apresentação recente da empresa é uma prova disso”, reforça o banco.

A questão, na opinião do banco, é que as oportunidades de M&A [fusões e aquisições] que fazem sentido estratégico para uma empresa da magnitude da JBS entrar ou aprofundar sua presença em mercados prioritários não necessariamente aparecem com frequência. E, mesmo que o negócio seja fechado com base no preço relatado de cerca de US$ 530 milhões, isso implicaria um aumento moderado de 0,1 vez na taxa de alavancagem do JBS para o ano de 2025.

O fato de que o processo de licitação relatado de cerca de US$ 3 bilhões para Oscar Mayer provavelmente esfriou pode, em última análise, significar que as implantações totais de caixa para o crescimento podem até acabar sendo menores do que o que antes era especulado.

Se, juntamente com a aquisição da Al Watania e o maior capex orgânico, a JBS entregasse um pagamento de R$ 6,7 bilhões em 2025 (semelhante ao que fez com base nos resultados de 2024 e implicando uma taxa de pagamento de 60%), o BBI projeta um dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) de 9,5% e uma taxa de alavancagem esperado para 2025 de 2,6 vezes. “Portanto, ainda não acreditamos que o retorno de caixa da JBS aos acionistas deva ser prejudicado com base nas notícias recentes”, avalia o banco.

Além disso, continua a ver um ambiente bastante favorável para as margens de aves nos EUA, o que deve continuar a dar suporte a resultados fortes para a JBS pelo menos no futuro próximo. Isso, somado ao recente desempenho inferior do preço das ações, reforça a preferência pela JBS (com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 48) no setor.

(com informações da Bloomberg)

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