Bons e maus exemplos de SAF no Brasil – e como o Fortaleza virou ponto fora da curva

Um torcedor do Botafogo celebra após a vitória de sua equipe na Copa Libertadores, em Buenos Aires, Argentina – 30 /11/2024 (Foto: REUTERS/Cristina Sille)

A Lei das Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs) completa quatro anos de implementação agora em 2025. Ao converter associações sem fins lucrativos em empresas, com possibilidade de injeção de recursos por investidores externos, esse modelo permitiu que grandes times superassem graves problemas financeiros e voltassem ao primeiro escalão do futebol brasileiro. Mas nem todos os clubes tiveram a mesma experiência com esse modelo, o que levanta questionamentos sobre um modelo ideal de SAF.

Entre os casos vistos como bons exemplos está o do Botafogo, primeira SAF a conquistar a Copa Libertadores, em novembro do ano passado. Em 2022, o alvinegro vendeu o controle da sociedade ao magnata norte-americano John Textor, que prometeu investir R$ 400 milhões no time em três anos, em troca de 90% das ações.

O Esporte Clube Bahia passou essa mesma fatia de sua SAF para o City Football Group e também é considerado um case de sucesso – praticamente zerou a dívida no período de um ano, realizou as maiores compras do futebol nordestino e tem se beneficiado da troca de informações com especialistas de outros clubes do controlador ao redor do mundo.

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Vasco: a ‘ovelha negra’ das SAFs?

Pablo Vegetti, centroavante do Vasco da Gama, em comemoração. (Foto: Matheus Lima/Vasco da Gama)

Por outro lado, há o exemplo do Vasco da Gama, que recentemente entrou oficialmente em recuperação judicial com uma dívida estimada em R$ 1,4 bilhão. A 777 Partners comprou 70% da participação da SAF em 2022, por R$ 700 milhões. Em maio de 2024, uma liminar devolveu o controle ao clube, sob o argumento de que a controladora, que enfrenta outros litígios e problemas financeiros fora do Brasil, não teria capacidade de arcar com os pagamentos programados.

O Vasco incluiu na recuperação judicial, além da associação civil sem fins lucrativos, a sua SAF, uma vez que grande parte das dívidas da associação foi transferida para a empresa criada na venda do futebol para a 777 Partners.

  • Leia mais: 777 tenta postergar a recuperação judicial do Vasco da Gama

Fortaleza procura investidor minoritário

Via de regra, aqui no Brasil, os clubes que operam como SAF têm mais de 50% das ações nas mãos de investidores. A exceção mais notória é o Fortaleza, que se tornou SAF em setembro de 2023 – a sociedade é controlada pelos sócios do clube e, por enquanto, ainda não tem acionistas externos.

Em entrevistas, o CEO da sociedade, Marcelo Paz, vem explicando que o time decidiu pela mudança para ter acesso mais fácil e barato à crédito, já que passa a ter ações como garantia nesse tipo de transação. Segundo ele, a possibilidade de injeção de recursos por um investidor não é o único motivo de adesão a esse modelo de gestão.

Paz tem dito que o Fortaleza precisa de um investidor experiente, com participação ativa no clube. A ideia do time é vender uma parcela minoritária da SAF, de até 20% das ações – inclusive existem cláusulas de barreira que dificultam a aquisição do controle por um investidor externo. O clube se inspira no tipo de sociedade estabelecido pelo Bayern de Munique, em que o time é o controlador e marcas patrocinadoras têm 25% das ações.

O time cearense já sinalizou que está pronto para vender uma fatia da SAF este ano. “O Fortaleza está no mercado a partir de 2025”, afirmou o atual presidente do clube, Rolim Machado, em entrevista ao Diário do Nordeste, em janeiro deste ano.

“A gente vai tratar isso muito bem tratado, não vai aceitar qualquer tipo de investimento. Quem for investir no Fortaleza tem que ser uma pessoa séria para tratar o clube e a torcida bem”, disse Machado, ao jornal.

Paz fala sobre modelos de SAF no Brasil

Marcelo Paz tem dito que a o Fortaleza não tem dívidas e a saúde financeira é um ponto de atração para investidores, mesmo que para a aquisição de uma fatia minoritária no time. O clube já trabalha com um plano de investimentos e já sabe o que fazer com os recursos, quando vierem: contratar de jogadores para as categorias profissional e de base, viabilizar a participação do time em competições dentro e fora do Brasil e investir em estrutura.

O CEO da SAF é um dos participantes do painel “Modelos de SAF no Brasil”, parte da programação do Sport & Business Summit. O evento dará o pontapé inicial na cobertura de negócios do esporte pelo InfoMoney e será realizado na próxima terça-feira (18), com cobertura do próprio site. Além de Paz, participam do painel o presidente do Santos, Marcelo Teixeira, e André Berenguer, sócio da Tauá Partners, gestora que administra o SAF da Portuguesa.

*com Estadão Conteúdo e outras agências de notícias

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