Oito Organizações da Sociedade Civil (OSCs) do Vale dos Sinos, afetadas pelas enchentes do ano passado, receberam um aporte financeiro do governo do Estado para auxiliar na retomada de suas atividades. Ao todo, foram destinados R$ 769,6 mil, por meio do programa Pró-Social, para apoiar a reestruturação de espaços e equipamentos essenciais para a continuidade dos atendimentos.
As entidades contempladas atuam com Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), atendendo crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. O recurso foi viabilizado pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), com execução do Instituto Elisabetha Randon. Cada organização recebeu até R$ 100 mil.
Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial
A diretora-presidente do Instituto Elisabetha Randon, Maurien Randon Barbosa, destacou que a iniciativa surgiu para auxiliar instituições que sofreram prejuízos significativos com as enchentes. “Ainda é preciso fazer muito pelo Rio Grande do Sul, apesar da situação estar mais calma no momento. Para nós, é uma alegria participar e acompanhar esse trabalho. Se não fossem essas parcerias, por meio de projetos do governo do Estado, a retomada seria ainda mais difícil”, afirmou.
O auxílio foi concedido a entidades de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Canoas que atenderam critérios como a comprovação dos danos causados pelas cheias, inscrição em conselhos municipais de assistência social ou da infância e regularidade de funcionamento há pelo menos dois anos.
Entidades relatam impactos e reestruturação pós-enchente
Dez meses depois, as enchentes de maio ainda deixam marcas profundas, sejam elas visíveis ou não, em entidades sociais que tiveram suas estruturas danificadas e precisaram interromper atividades essenciais. Com a chegada do recurso estadual, elas agora planejam a recuperação e a retomada completa de seus atendimentos.
O Centro Social Madre Regina, localizado no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, teve perdas significativas. “Tivemos que trocar portas, pisos, balcões, armários e estantes. Também descartamos roupas contaminadas, uma geladeira e um freezer”, conta a diretora Irmã Elisete Paulus.
O centro ficou fechado durante todo o mês de maio e só retomou o atendimento infantil no final do período. Durante a paralisação, concentrou-se em apoiar as 55 famílias atendidas, distribuindo roupas, calçados, alimentos, cobertores, materiais de higiene e limpeza. Além disso, conseguiu arrecadar e doar colchões, móveis, louças e valores em vale-compras.
Com os recursos recebidos, o Centro Social Madre Regina pretende investir na reposição de mobiliário, como armários, mesas e estantes, e na reforma dos pisos, incluindo a sala de reuniões, o prédio administrativo e a sala de informática. A biblioteca e a sala de jogos, que ainda não foram reativadas, também serão reorganizadas.
A entidade atende 73 crianças e adolescentes e 51 famílias com atividades de convivência e fortalecimento de vínculos, oferecendo oficinas de esporte, teatro, fotografia, artesanato, dança, taekwondo e padel para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de idade. Recentemente, também iniciou um curso profissionalizante para 35 mães e adolescentes na área da beleza. Apesar do apoio recebido de outras instituições e de estados vizinhos, a diretora afirma que não houve auxílio da Prefeitura de Novo Hamburgo.
Ação Encontro Abefi
Outra instituição fortemente impactada foi a Ação Encontro, da Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial (Abefi), de Novo Hamburgo, que também atua no bairro Santo Afonso. “Perdemos mobiliário, documentos, materiais pedagógicos, equipamentos de oficinas e instrumentos utilizados no atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade”, explica o diretor da unidade, José Felipe da Silva.
O atendimento regular foi interrompido entre 1º de maio e 16 de junho. Durante esse período, a instituição operou em um espaço temporário cedido, onde distribuiu itens de primeira necessidade para a comunidade. Além das 60 famílias atendidas regularmente, a entidade prestou apoio a mais de 1,2 mil famílias da região.
“Todas as 60 famílias que atendemos mensalmente foram atingidas pela enchente, o que causou a elas perdas materiais e muitos traumas, danos emocionais e psicológicos. Antes nosso território já enfrentava a insegurança alimentar e infelizmente após a enchente, esta questão somente se agravou”, relata o diretor..
O recurso recebido será destinado à reestruturação das salas de oficinas, cozinha e equipe técnica, além da aquisição de equipamentos e mobílias. Um dos principais projetos será a reativação do espaço de padaria, que fornece lanches diários para 85 crianças e adolescentes atendidos e também serve como local de capacitação para mulheres da comunidade.
A Ação Encontro desenvolve atividades artísticas, culturais e esportivas, visando à prevenção da vulnerabilidade social e ao fortalecimento dos direitos das crianças e adolescentes. Entre as oficinas oferecidas estão circo, dança, judô, capoeira, audiovisual e costura. “Com a reestruturação, poderemos qualificar todos os espaços e atividades ofertadas”, destaca José Felipe.
A comunidade local também teve um papel essencial na recuperação da entidade, seja por meio do trabalho voluntário na limpeza e organização, seja por doações destinadas tanto à instituição quanto às famílias atendidas.
Contempladas em Canoas atuam em três bairros diferentes
“É um recurso importante”, define a presidente da Associação Assistencial Beneficente Niterói (Assabeni), Carina Ladwig. A entidade é uma das três que foram contempladas em Canoas. Os R$ 99,6 mil serão convertidos em ares-condicionados, alimentação e pequenas reformas nas duas unidades que atendem 440 crianças no bairro Niterói.
“Estamos construindo uma escola, então precisamos do ar-condicionado. A alimentação aqui é constante, ou seja, qualquer ajuda é bem-vinda. E as reformas são sempre necessárias”, explica. As salas foram revitalizadas após a enchente, em maio do ano passado. “A água entrou e ficou no nível do chão, mas danificou mesas e cadeiras”, relembra.
Foto: Paulo Pires/GES
Segundo a presidente, a associação costuma participar de editais públicos e privados para manter suas atividades. “Dependemos do dinheiro de doações porque são ações que não conseguimos fazer com recursos próprios.”
A escola de educação infantil atende crianças de 0 a 6 anos, a maioria moradoras da Granja e do Loteamento João de Barro, oferecendo meio turno, turno integral e cinco refeições. Quase todas as vagas são compradas pelo município.
Reestruturação
Os recursos também são vistos como uma oportunidade de melhorar o atendimento prestado pela Associação dos Deficientes Visuais de Canoas (Adevic). Contemplada com R$ 90,9 mil, a entidade planeja aplicar na reestruturação da cozinha e da sala de atendimento educacional especializado; na aquisição de equipamentos de acessibilidade; na compra de uniformes para a equipe e na instalação da rede de telefonia interna.
A associação ainda passa por reformas pós-enchente e planeja reinaugurar sua sede, localizada no bairro Mathias Velho, em abril. “Os recursos são, nesta hora, muito importantes. Como perdemos tudo, qualquer ajuda é muito bem-vinda. Ficamos contentes com essa possibilidade”, afirma o presidente Ênio José da Silva.
Cerca de 300 pessoas eram atendidas, por semana, antes do desastre climático. Segundo o presidente, reformas e aquisição de equipamentos, como computadores e impressoras braille, precisam ser feitas em conjunto. “Não perdemos a vontade de trabalhar porque muitas pessoas precisam de nós”, destaca.
A terceira entidade beneficiada na cidade é a Associação Cultural e Beneficente Jardim de Infância Pinóquio, que atua no bairro Rio Branco. A escola planeja utilizar os R$ 98,1 mil na aquisição de uniformes para os educadores e na ampliação de uma sala sensorial – utilizada para minimizar os traumas causados pela enchente. A sala vai ser utilizada por crianças de 5 e 6 anos.
A entidade, que recebe em torno de 115 crianças entre 2 e 6 anos, perdeu suas duas unidades de atendimento. A diretora Adriane Neves contabiliza quase 200 famílias, desde as crianças até os colaboradores, que foram impactadas. “A importância de receber esses recursos é muito grande. Como trabalhamos com um público vulnerável, nada melhor do que contribuir com a recuperação deles”, destaca.
Entidades leopoldense já projetam destino dos recursos
Dentre as três entidades leopoldenses contempladas na iniciativa, o Círculo Operário Leopoldense (COL) recebeu o maior aporte: R$ 99,8 mil, que já tem destino definido: recuperar o refeitório e a sala de inclusão digital da entidade.
Na sede comunitária, localizada na Vila Paim, a água chegou até mesmo ao segundo andar e 100% dos móveis e equipamentos foram perdidos. A diretora executiva, Odete Zanchet, explica que foi necessário realizar não só a manutenção dos ambientes, mas também a reconstrução em alguns casos, como no telhado do refeitório.
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Renata Rodrigues, do Centro Medianeira, na assinatura do termo de repasse dos recursos
Foto:
Divulgação/Centro Medianeira -
Rafael Pazzinato, do COL, na assinatura do termo de repasse dos recursos
Foto:
Divulgação/COL
Ela exaltou a importância da verba vinda agora para a continuidade das melhorias em espaços estratégicos da sede. “Esse projeto vem direcionado para o refeitório, para a compra de mesas e cadeiras, para podermos servir alimentação de forma adequada e aconchegante aos nossos jovens, que estavam tendo que fazer suas refeições na mesa de atividades.
Também vem para recompormos a sala de inclusão digital, porque o público que atendemos mora num território vulnerável e, por estar em situação de fragilidade, o espaço onde eles têm acesso ao mundo digital é dentro da instituição. Tínhamos uma pequena sala, onde eles podiam ter acesso a ferramentas básicas, mas todos os computadores foram perdidos”, lembrou.
Atendimento e oficinas
No Centro Medianeira, a diretora Renata Rodrigues destaca que o recurso, de R$ 99,5 mil, será utilizado para a compra de móveis para as salas de atendimento psicossocial e oficinas do Núcleo Campina, que foi severamente afetado pela enchente.
“O prédio ficou submerso por mais de 20 dias, resultando na perda total da estrutura e dos equipamentos. Esse apoio é muito importante para que possamos restabelecer um ambiente seguro, confortável e adequado para as crianças e adolescentes atendidos pelo Centro Medianeira”, ressaltou, agradecendo o apoio que a entidade recebeu de diversos parceiros e da comunidade para reconstrução da sede Campina.
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Sede do COL na Vila Paim foi atingida pela enchente e entidade perdeu todos os móveis e equipamentos
Foto:
Divulgação/COL -
Sede do COL na Vila Paim foi atingida pela enchente e entidade perdeu todos os móveis e equipamentos
Foto:
Divulgação/COL -
Atividades com jovens atendidos na sede do COL na Vila Paim
Foto:
Divulgação/COL
“Agora, com esse recurso aprovado, podemos dizer que estamos 99% prontos para oferecer novamente um espaço completo. Esse apoio do Instituto Elizabetha Randon, por meio da SEDES RS e o Pró-Social, recompõe fisicamente o núcleo, mas além disso, reafirma a importância do trabalho social que realizamos, garantindo dignidade e oportunidades para tantas crianças e famílias em situação de vulnerabilidade”, concluiu.
Climatização e recreação
No Instituto Lenon, as diversas parcerias também foram fundamentais para a entidade voltar a atender seus educandos. “Conseguimos finalizar a reconstrução do instituto, com todos os sonhos que a gente pensava, e inclusive fazer o segundo pavimento que ainda não tinha sido iniciado”, comentou a vice-presidente, Delci Mello. Agora, os R$ 83 mil que vieram do projeto, serão destinados para climatização dos ambientes e novos brinquedos.
“Esse recurso vamos utilizar em aparelhos de ar-condicionado novos, porque os nossos não funcionaram depois da enchente, e temos que pensar nessas questões climáticas, porque não tem como fazer um atendimento adequado a uma criança e adolescente quando ele não consegue se concentrar por conta do calor. Também teremos playground, bancos novos e espaço recreativo para as crianças”, acrescentou. “Esse recurso vem para complementar o instituto, deixar com uma cara mais bonita, um ambiente agradável, refrigerado, e para melhorar a qualidade de vida das nossas crianças e adolescentes”, completou Delci.
Entidades contempladas:
Novo Hamburgo
- Ação Encontro – Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial (Abefi): R$ 100 mil
- ACSC Centro Social Madre Regina: R$ 98,3 mil
São Leopoldo
- Centro Medianeira: R$ 99,5 mil
- Círculo Operário Leopoldense: R$ 99,8 mil
- Instituto Lenon Joel da Paz: R$ 83 mil
Canoas
- Associação Assistencial Beneficente Niterói: R$ 99,6 mil
- Associação Cultural e Beneficente Jardim de Infância Pinóquio: R$ 98,1 mil
- Associação dos Deficientes Visuais: R$ 90,9 mil
O programa Pró-Social permite que empresas destinem parte do ICMS devido para financiar projetos sociais. A iniciativa busca fortalecer ações voltadas à segurança alimentar, inclusão social e melhorias na qualidade de vida de comunidades vulneráveis.
*Colaboraram Priscila Carvalho e Nicole Goulart.