Amazônia armada até os dentes: apreensões disparam na região

De 2019 a 2024, as apreensões de armas na região Norte do Brasil, coberta pelo bioma amazônico, cresceram 38%. Os dados são do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). No mesmo período, houve redução no indicador na região Sudeste do país.

Conforme os dados levantados pelo Metrópoles no Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), em 2019 foram apreendidas 6.022 armas no Norte do país. No entanto, em 2024, o número subiu para 8.310.

Veja dados ano a ano:

Embora os dados estejam em um painel do MJSP, os recolhimentos são feitos, na grande maioria dos casos, pelas polícias estaduais. A pasta faz apenas o recolhimento das estatísticas junto aos estados.

O conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) Roberto Uchoa entende que o aumento de apreensões nos estados do Norte tem relação com o avanço das facções sobre o território amazônico.

“A gente tem tido, principalmente desde 2017, uma disputa tanto no Norte quanto no Nordeste entre organizações criminosas pelo controle de rotas do tráfico de drogas, controle de garimpo ilegal e vários outros tipos de crime. A região amazônica hoje é uma das mais conflagradas do país, e isso causa uma demanda por armas de fogo”, avalia Uchoa.

A análise do especialista encontra amparo nas estatísticas criminais. O estudo Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado em dezembro de 2024 pelo FBSP, em parceria com o Instituto Mãe Crioula, revelou que o número de cidades da Amazônia com registro de presença de facções criminosas aumentou 46%, só de 2023 a 2024.

A vertente dos narcogarimpos representa uma importante fonte de recursos para o crime organizado no Brasil. A estimativa é de que a extração ilegal de ouro, grande parte dele na Amazônia, movimente R$ 18,2 billhões por ano, mais que a receita com tráfico de cocaína, cerca de R$ 15 bilhões anuais.

Menos apreensões no Sudeste

Ao mesmo tempo que as armas apreendidas cresceram na região Norte do Brasil, no Sudeste houve redução de 25% no período analisado. A estatística revela que, em 2019, foram apreendidas 49.119 armas e, em 2024, o número absoluto foi de 36.752.

Sobre a redução nas apreensões de armas na região Sudeste, Uchoa considera que há relação com a conjuntura em que as facções criminosas atuam, diferentes entre os estados, por exemplo. Em relação ao estado do Rio, o especialista lembra que a disputa por territórios leva a um maior armamento do crime, diferente do que acontece em São Paulo.

“São Paulo não é uma região conflagrada. Você tem o monopólio do uso da força nos mercados criminais por uma organização criminosa só. Você não tem a proliferação de armas de fogo, porque esse mercado é controlado pelo PCC. Você não tem como no Rio, primeiro uma busca pelo confronto, em que há uma demanda cada vez maior por armas letais”, contextualiza.

Em relação ao Rio, o confronto leva a uma busca por armamentos mais pesados, como fuzis. “Se você for examinar, o Rio de Janeiro hoje é uma região altamente conflagrada, com a apreensão de quase 5 mil fuzis nos últimos 10 anos”, afirma o especialista do FBSP.

Os dados nacionais, de 2019 a 2024, apresentaram redução nas apreensões. Em 2019, foram recolhidas 110.267 armas, número que permaneceu estável até 2021, mas passou a ter uma redução discreta deste então. O ano de 2024 fechou com 102.308. No período verificado, a redução foi de 7,2%.

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