Golpe da selfie: motoboy engana aposentada e faz empréstimo em banco

São Paulo — Uma mulher de 60 anos foi enganada na porta de casa por um suposto motoboy e acabou contratando, sem querer, um empréstimo de R$ 11 mil após ser vítima do “golpe da selfie”.

O caso aconteceu no dia 20 de fevereiro deste ano, quando, por volta das 11h, o suspeito foi até a casa da mulher, uma aposentada que vive em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, e a forçou a tirar uma foto.

Tudo aconteceu em poucos minutos: o homem bateu no portão da residência da vítima para entregar um pacote. Ela não reconheceu a compra, mas ele insistiu, a empurrou contra o portão e conseguiu tirar uma foto do rosto dela. Sem entender muito bem o que tinha acontecido, a aposentada voltou para dentro de casa e pediu ajuda à família. O pacote entregue tinha todos os dados dela.


O que é o “Golpe da selfie”

  • No golpe da selfie, com os dados pessoais da vítima, o bandido entra em contato com ela.
  • Um dos artifícios mais usados pelos golpistas é a doação de uma cesta básica mensal ou um benefício previdenciário, que na verdade não existe. Para aplicar o golpe, o criminoso alega que a vítima precisa fazer uma selfie para comprovação de identidade.
  • Os mais velhos são os alvos preferenciais dos criminosos devido à falta de familiaridade tecnológica para as atividades do dia a dia.
  • Para que a pessoa não perceba que está dentro de um ambiente bancário e prestes a fazer autenticação biométrica, o bandido coloca uma fita isolante no celular ou tampa todos os campos para realizar a operação de crédito.
  • A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) recomenda alguns cuidados para evitar o golpe:
    • Nunca aceite presentes e brindes inesperados, sem saber quem realmente mandou;
    • Não forneça dados pessoais em links enviados pela internet de supostas promoções e tenha muito cuidado ao preencher cadastros na internet;
    • Não aceite realizar pagamentos se o visor da maquininha estiver danificado, impedindo que você veja o valor real que está pagando;
    • Jamais aceite tirar fotos ou selfies para receber brindes ou em qualquer outro pedido de desconhecidos.

A filha da vítima suspeitou de um possível golpe bancário e pediu para a mãe abrir o aplicativo do banco, confirmando a suspeita. Logo depois, o criminoso ainda voltou para tentar coletar a biometria da aposentada e conseguir transferir o dinheiro do empréstimo, mas foi recebido pelo marido dela e fugiu do local.

Imagens registradas por uma câmera de segurança mostram o suspeito, de capacete, parado em frente à casa da vítima por alguns minutos, com o celular nas mãos. Um boletim de ocorrência foi registrado e o suposto motoboy seguia foragido até a publicação da reportagem.

O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

Veja vídeo:

Longo caminho até o final feliz

Para impedir que o bandido tirasse o dinheiro do empréstimo, a aposentada contatou a ouvidoria do banco para bloquear a conta e cancelar o contrato. O empréstimo, no entanto, já tinha sido feito.

O contrato previa a liberação de R$ 11.326,01 e o pagamento com 19,5% de juros mensal e 748,03% anual. Ao todo, a mulher teria que pagar 36 parcelas de R$ 2.380,26 para quitar a concessão — totalizando R$ 85.689,36.

Segundo ela, enquanto explicava a história para uma funcionária da ouvidoria, foi questionada com rispidez e teve o telefone desligado “na cara”. “Mas a senhora deixou ele tirar uma foto sua?”, teria perguntado a atendente. A vítima teria explicado que é aposentada por invalidez e não conseguiu se defender do golpista.

Com um boletim de ocorrência em mãos, no dia seguinte, a mulher foi até uma das agência da instituição financeira. De acordo com o “direito do arrependimento”, que está previsto no Art. 49 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), o cliente pode desistir de um contrato firmado fora do estabelecimento comercial no prazo de 7 dias — contados a partir da assinatura ou do recebimento do produto ou serviço.

O banco, então, teria pedido um tempo de 7 dias úteis para avaliação da situação. Sem resposta, a aposentada voltou à agência e foi informada que a conta ainda estava bloqueada e que o dinheiro do empréstimo não havia sido estornado.

Somente após contato do Metrópoles com o banco, na última quinta-feira (13/3), o contrato foi interrompido — 12 dias úteis depois da solicitação. A instituição financeira alegou que os feriados de Carnaval atrapalharam o cancelamento.

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