Guia de escola cívico-militar proíbe risco na sobrancelha e “tererê”

São Paulo — Alunos das novas escolas cívico-militares de São Paulo não poderão usar “risquinho” na sobrancelha, cabelos coloridos, “moicanos” ou namorar. Esses comportamentos estão proibidos em um guia de conduta que descreve do tipo de farda ao corte de cabelo exigido dos estudantes.

No documento obtido com exclusividade pelo Metrópoles, a Secretaria de Educação do estado de São Paulo escreve que os meninos serão orientados a cortar o cabelo “no estilo meia cabeleira (com nuca e laterais raspadas).

Variações como cortes raspados, desenhos, pinturas coloridas e topetes serão desaconselhados, assim como o uso de bigode, barba ou cavanhaque.

“Não será permitido ao estudante fazer desenhos (talhos) nas sobrancelhas para que não alterem sua forma natural por cortes ou riscos que as desconfigurem”, diz o texto do guia obtido com exclusividade pelo Metrópoles.

As meninas terão que manter seus cabelos presos por meio de coque, tranças ou rabo-de-cavalo. O texto ainda contraindica o uso e adereços do estilo “tererê” e cabelos fora dos “tons naturais” ou de “tonalidades discretas”.

Os uniformes terão “tarjeta de identificação” com o nome do aluno e brasão de escola cívico militar. Quem não obedecer às regras de vestimentas, ou recusar-se ao fardamento será punido por violação de infração grave, classificação semelhante a de praticar bullying.

Guia de conduta cívico-militar

Além da apresentação pessoal, o guia também estabelece regras de comportamento para os estudantes. É proibido, por exemplo, ler ou distribuir publicações “que atentem contra a moral”. “Manifestar namoro” é vedado tanto no interior quanto nas proximidades das escolas.

As regras serão controladas a partir de um sistema de créditos, no qual os alunos recebem cinco créditos no início do ano, descontados à medida que são realizadas infrações. Usar piercings e alargadores de orelhas, por exemplo, é uma infração média, que leva a perda de 0,5 pontos.

As normas também vedam o uso de celulares dentro das escolas, assim como a realização de fotos e gravações de vídeo e áudio nas salas de aula sem a autorização dos professores. Colares, pulseiras, relógios, anéis e tornozeleiras podem ser usados desde que de forma discreta e sem que ofereçam riscos à segurança dos alunos.

Dificuldade no acesso às regras

Começam, nesta segunda-feira (17/3), as consultas públicas para escolas estaduais de São Paulo decidirem se vão ou não aderir ao modelo cívico-militar nas unidades pré-selecionadas para participar do programa.

Essas consultas, todavia, se iniciaram sem que a comunidade escolar dessas instituições tivesse conhecimento do conjunto de regras previstas no novo modelo. Isso porque o documento que contém o guia é de difícil acesso dos pais e professores.

No dia 5 de março, quando o Metrópoles acompanhou uma reunião com os pais de alunos sobre a implantação do modelo em uma escola de Guarulhos, não houve menções ao tema. O site da secretaria, tampouco, divulgou as regras.

Por fim, o canal de votação digital da plataforma Secretaria Escolar Digital informa que o regimento interno deve ser consultado presencialmente na secretaria de cada unidade.

A reportagem só conseguiu ter acesso ao documento por meio da interlocução de pessoas ligadas à gestão de uma das escolas.

Semelhanças com o modelo paranaense

Chama atenção as semelhanças do documento da Secretaria de Educação de São Paulo com o Manual dos Colégios Cívico-Militares adotado pela Secretaria de Educação do Paraná, onde o modelo cívico-militar foi implantado pelo atual secretário da Educação de São Paulo, Renato Feder.

Assim como no caso paulista, o manual paranaense também recomenda o cabelo “meia cabeleira” e os “coques”, além de vedar uso de barbas, cortes raspados, e pinturas coloridas.

Em alguns trechos, a redação das regras nos dois documentos é a mesma, se repetindo, inclusive, o sistema de cinco créditos para o controle das infrações.

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