“Justiça pelo Henry”: Familiares protestam em frente a hospital por morte de bebê 11 horas após o parto no Vale do Sinos

“Queremos justiça por ele e por nós”. Essa é a súplica de familiares e amigos dos pais do pequeno Henry Gabriel Gonçalves Fisch, o bebê que morreu 11 horas após o parto no Hospital Lauro Reus, no último sábado (15).

A criança apresentava complicações respiratórias e chegou a ser transferida ao Hospital Municipal de Novo Hamburgo (HMNH) após mais de 8 horas de espera pela ambulância necessária. O veículo saiu de Torres, no litoral, para transportar o paciente por aproximadamente 9 quilômetros entre os municípios do Vale do Sinos, em um percursos de cerca de 20 minutos. No entanto, o bebê chegou em parada cardiorrespiratória à casa de saúde da cidade vizinha e não resistiu, o que gerou revolta aos familiares.

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Familiares de Henry Gabriel Gonçalves Fisch protestaram na tarde desta segunda-feira em frente ao Hospital Lauro Reus. | abc+



Familiares de Henry Gabriel Gonçalves Fisch protestaram na tarde desta segunda-feira em frente ao Hospital Lauro Reus.

Foto: Paola Altneter/GES-Especial

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Após se despedirem do bebê na manhã desta segunda-feira (17), os parentes se reuniram em frente ao Lauro Reus, com cartazes, às 15 horas. Eles alegaram que houve negligência médica no atendimento prestado aos pais e a Henry Gabriel.

Para o tio da vítima, Max Gonçalves, 32, não houve esclarecimento sobre o verdadeiro estado de saúde do bebê. “É justamente sobre a negligência de não ter um profissional da saúde para poder atender a minha irmã, atender o meu cunhado, e poder explicar a situação, a real situação do que estava acontecendo, e não simplesmente pegar desde o nascimento da criança, trancar a criança em uma sala e deixar lá sem passar informação nenhuma para os pais, para que eles pudessem se sentir confortáveis ou para que pudessem, de alguma forma, agir para que esse descaso não viesse a acontecer”, desabafa.

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A informação de que o menino precisaria ser transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Novo Hamburgo veio por volta das 14 horas e, somente às 17h20, a ambulância necessária para fazer o transporte do paciente foi disponibilizada. O veículo, contudo, levou quase 4 horas para fazer o deslocamento do litoral norte a Campo Bom. 

Os parentes expõem que, durante todo o sábado, pediram para contratar uma ambulância particular ou para fazer a transferência até mesmo de carro – opção inviabilizada principalmente pelo quadro delicado de saúde do bebê. Sobre a contratação do veículo particular, a tia-avó da criança Marina Matos relatou que médicos e enfermeiras teriam dito que o transporte demoraria o mesmo tempo da ambulância que veio de Torres, além do custo elevado.

No mesmo período, ao perguntarem sobre o estado do bebê, a única resposta repassada aos parentes teria sido “está estável”. “O tempo que eles ficaram falando que estava bem, que estava estável, se em algum momento tivesse sido passado a real situação do Henry, todo mundo se mobilizaria de alguma maneira para tirar ele daqui, só que isso não aconteceu em nenhum momento”, disse Marina.

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O pai acompanhou o deslocamento entre as cidades, conforme registrado em boletim de ocorrência, e relatou ter notado que o filho estava desacordado. Durante o protesto, a família expôs que o bebê foi reanimado diversas vezes no trajeto e que, antes de iniciar o deslocamento, os médicos queriam tirar o pai da criança da ambulância, para que não presenciasse a cena. 

A reportagem questionou o Lauro Reus sobre o estado de saúde da criança antes da transferência, mas a instituição esclareceu que detalhes sobre o quadro clínico do paciente não serão divulgados em função da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Ao chegar à casa de saúde de Novo Hamburgo, um médico teria dito que Henry Gabriel estava bem. Quinze minutos se passaram e, então, veio a notícia da morte do menino. Segundo a Fundação de Saúde de Novo Hamburgo (FSNH), que administra a instituição, “duas médicas que prestaram atendimento ao bebê, deram a notícia ao pai e, seguindo o procedimento de acolhimento e humanização da UTI neonatal, ofereceram ao pai a possibilidade de ter acesso ao corpo do bebê naquele momento”.

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Após o falecimento, os parentes relataram que o corpo foi levado novamente à casa de saúde de Campo Bom, sem a autorização dos responsáveis. A questão será apurada pelo HMNH, conforme informado anteriormente à reportagem.

Na certidão de óbito, a causa da morte de Henry Gabriel foi definida como “indeterminada com exames complementares pendentes”. A família registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Novo Hamburgo, ainda na noite de sábado. O corpo do bebê foi levado para necropsia no Departamento Médico-Legal (DML), em Porto Alegre, e liberado no domingo (16).

O que diz o Hospital Lauro Reus sobre o caso

O Hospital Lauro Reus se manifestou por meio de nota, e informou que “todo atendimento e suporte necessário foi prestado, dentro das condições pertinentes”. “Assim que identificamos a necessidade de leito na UTI, imediatamente o paciente foi inserido no sistema Gerint [de regulação de internação hospitalar do SUS] para a regulação, e sinalizada a devida urgência. O leito foi autorizado no final do dia, momento em que foi autorizado o transporte.”

Ainda de acordo com a instituição, toda a equipe médica, tanto da emergência quanto da pediatria, estava envolvida para que o paciente tivesse condições de ser transportado ao hospital de referência, “pois o quadro era bastante instável”.

Sobre a ambulância ter sido deslocada de Torres para o Vale do Sinos, a casa de saúde esclareceu que “o caso clínico do paciente exigia uma ambulância de suporte avançado, sendo acionada a que estava disponível no momento”. A casa de saúde de Campo Bom lamentou a morte do bebê e disse que está “à disposição da família para qualquer esclarecimento”.

Nesta segunda-feira, o delegado Tarcísio Kaltbach, da 1ª Delegacia de Polícia da cidade, informou que os envolvidos serão chamados nos próximos dias para prestar depoimentos.

*Colaborou: Nadine Funck

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