Músicos contratados pela Orquestra de Sopros recebem menos de R$ 1,5 mil ao mês

Votada em novembro do ano passado, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de Novo Hamburgo para 2025 previu uma redução de 3,4% nos recursos destinados à Secretaria da Cultura (Secult). Com isso, a previsão orçamentária para todo ano foi de pouco mais de R$ 32,7 milhões, o que representa 1,6% do orçamento global do município, fazendo assim com que a Secult tenha verba maior apenas do que as secretarias de Esporte e Lazer (Smel) e Desenvolvimento Econômico (Sedec).

Orquestra dos Sopros é patrimônio tombado da cidade | abc+



Orquestra dos Sopros é patrimônio tombado da cidade

Foto: Divulgação

Mas, ao contrário da pasta de Cultura, a Smel teve uma alta de 64,1% no orçamento, enquanto a Sedec viu os recursos crescerem 11,6%. Alegando necessidade de contingenciamento de verbas, o governo municipal informou na última sexta-feira (14), através de um e-mail, o corte de verbas destinadas à Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo (OSNH), o que veio a público na segunda-feira (17).

Para funcionar durante um ano, a OSNH tem um orçamento previsto de R$ 1,2 milhão, valor pago ao Instituto Arlindo Ruggeri, entidade mantenedora. O valor contempla a atividade administrativa e o pagamento dos músicos, que gira entre R$ 1,2 mil e R$ 1,4 mil mensais a cada um, segundo o diretor artístico da OSNH, Gustavo Müller.

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“Esse valor serve para pagar toda a estrutura de manutenção de funcionamento da orquestra. É uma gestão bem completa, bem complexa, e na verdade é um valor bem barato e abaixo de uma média geral. Chega a ser ridiculamente modesto para um trabalho que é super especializado e para um músico que tem que ter uma performance profissional, isso é quase como uma afronta”, aponta Müller.

Prefeitura diz que manterá sete núcleos

A previsão é que os 34 músicos que hoje atuam na OSNH sejam demitidos em razão do corte de verbas públicas. Concomitantemente com o corte, há a preocupação quanto ao futuro do projeto Núcleo de Orquestras Jovens, que atende centenas de estudantes de escolas públicas da cidade.
Segundo a estimativa da orquestra, três dos 26 polos de ensino devem ser fechados devido à falta de dinheiro – deste montante, sete recebem recursos da Prefeitura e os demais são captados pelo instituto por meio da Lei Rouanet.

Procurada ainda na segunda-feira pela reportagem, a Prefeitura divulgou uma nota sobre o tema no início da tarde desta terça-feira. No texto, a administração municipal descarta qualquer possibilidade de encerramento das atividades do Núcleo de Orquestras Jovens. “Dos sete núcleos mantidos pelo Município, quatro estão com o convênio assinado e os outros três serão regularizados nos próximos dias. Para assegurar a continuidade do programa, o Município utilizará recursos federais destinados à Educação”, afirma o governo em nota.

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Müller diz que sem a garantia dos recursos municipais restará a tentativa de buscar recursos através da Lei Rouanet. Mesmo que tenha projetos aprovados nos editais federais da Rouanet, isso não garante a destinação de verbas imediatas. Isso porque a lei autoriza a captação de recursos junto à empresas privadas, que ganham incentivos fiscais ao apoiar projetos culturais.

Finck promete investimentos em 2026

Na mesma nota divulgada ontem, a Prefeitura afirma que irá auxiliar na captação de recursos para a orquestra. “A Prefeitura de Novo Hamburgo reconhece a importância e a relevância da Orquestra de Sopros para a cidade. Porém, diante das dificuldades financeiras enfrentadas pelo Município neste momento, não há condições de manter o convênio com a instituição. O Executivo está à disposição para auxiliar a OSNH na captação de recursos junto à iniciativa privada. Além disso, ressalta que o cenário pode ser alterado para o próximo ano, pois a situação é momentânea devido à escassez de recursos”, informa.

Durante sua participação na Fimec – Feira Internacional de Couros, Produtos Químicos, Componentes, Máquinas e Equipamentos para Calçados e Curtumes, o prefeito Gustavo Finck (PP) negou que a decisão vá acabar com as atividades da OSNH. “Foi falado como se fôssemos acabar com toda orquestra, e não é isso. A Prefeitura tem sete núcleos e estes irão seguir com investimento, em torno de R$ 650 mil por ano. O que não vamos dar continuidade é com a orquestra adulta.”

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Finck apontou para novos investimentos na Secult a partir do próximo ano. “Isso (corte) por conta de uma medida de contenção de despesas, já que temos dívida herdada do governo anterior. Teremos um novo formato para a cultura de Novo Hamburgo a partir de 2026, vamos sim investir nesta pasta”, afirmou o prefeito.

Apesar da situação, Orquestra Jovem se apresentou na Fimec | abc+



Apesar da situação, Orquestra Jovem se apresentou na Fimec

Foto: Bruna de Bem/GES-Especial

Concerto na Fimec

Em função dos acontecimentos, a apresentação da OSNH prevista para ocorrer na tarde desta terça-feira (18) na Fimec foi cancelada. Já a apresentação de músicos do Núcleo de Orquestras Jovens, projeto da OSNH, ocorreu conforme o previsto no fim do dia na feira, na Fenac.

Os estudantes que se apresentaram fazem arte do Polo Avançado, que se mantém através da captação de recursos por meio da Lei Rouanet. “Estávamos na van voltando do ensaio quando descobrimos que a Orquestra de Sopros ia parar. Isso destruiu a gente. Ela é nossa inspiração”, contou a estudante Liriel Victorino Cardoso, 16 anos, que toca violoncelo no Polo Avançado.

“Em respeito aos alunos que se organizaram para fazer os ensaios, para poderem tocar, resolvemos manter essa apresentação. Eu acho que é simbólico”, comentou Müller.

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