Na véspera de decisão sobre juro, dólar sobe, com IR e guerra no radar

O dólar operava em alta na manhã desta terça-feira (18/3), véspera da decisão sobre os rumos da taxa básica de juros no Brasil e nos Estados Unidos.


O que aconteceu

  • Às 9h16, a moeda norte-americana subia 0,42% e era negociada a R$ 5,71.
  • No dia anterior, o dólar teve queda de 0,99% frente ao real, cotado a R$ 5,68, o menor valor em 4 meses, desde novembro do ano passado.
  • Com o resultado, a moeda dos EUA acumula perdas de 3,89% no mês e 7,98% no ano.

À espera da “superquarta”

As expectativas dos investidores continuam voltadas à chamada “superquarta”, com decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos.

“Superquarta” é o termo usado no mercado financeiro para o dia em que coincidem as divulgações das taxas básicas de juros no Brasil e nos EUA.

É o caso de quarta-feira (19/3), data na qual tanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) quanto o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o BC americano) anunciam o resultado de suas reuniões, ambas iniciadas na véspera.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central (BC) para controlar a inflação. A Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.

Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.

Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica. Não é o que se deve esperar neste momento.

Na última reunião do Copom – a primeira sob o comando de Gabriel Galípolo na presidência do BC –, no fim de janeiro, os juros básicos subiram 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano.

Na ata da reunião, o colegiado indicou que, caso o cenário de avanço dos preços perdurasse, seria necessário fazer ajuste de pelo menos 1 ponto percentual. Dessa forma, os juros devem pasar dos atuais 13,25% ao ano para 14,25% ao ano — mesmo patamar de julho de 2015, época da crise no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Com a alta de 1,31% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em fevereiro, considerado o termômetro da inflação, a alta da Selic é dada como certa pelo mercado financeiro, que aposta no aumento de 1 ponto percentual no índice.

Caso se confirme, este será o quinto avanço consecutivo da Selic. A adoção de política monetária mais contracionista (ou seja, o aumento dos juros) começou em setembro de 2024, quando o Copom interrompeu o ciclo de cortes e elevou a taxa em 0,25 ponto percentual.

No entanto, o BC não sinalizou um fim do ciclo de altas. Segundo o Copom, a magnitude do ciclo de aperto monetário será ditada pelo compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação.

Nos Estados Unidos, a tendência é que o Fed não mude a taxa de juros da economia norte-americana na reunião desta semana.

No fim de janeiro, na primeira reunião do Fomc desde a posse do presidente dos EUA, Donald Trump, o colegiado anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.

A decisão interrompeu um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos.

Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.

De acordo com dados divulgados na semana passada, a inflação anual nos EUA ficou em 2,8% em fevereiro (em relação a fevereiro do ano passado), um recuo de 0,2 ponto percentual em relação a janeiro (quando foi de 3%).

Na base de comparação mensal, em relação ao mês anterior, a inflação norte-americana foi de 0,2%, ante 0,5% em janeiro.

Isenção de Imposto de Renda

No cenário doméstico, o destaque desta terça-feira é a apresentação da proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para trabalhadores que recebem até R$ 5 mil por mês. A medida é uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma das principais apostas para tentar reverter o quadro de popularidade baixa do petista e do governo.

O texto será apresentado aos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), em reunião com o chefe do Planalto, no fim da manhã. Depois disso, a medida será anunciada publicamente por Lula.

De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governo estima impacto de R$ 27 bilhões na arrecadação de 2026, ano em que a ampliação deve entrar em vigor. O montante, portanto, deverá ser compensado com outras medidas.

Atualmente, pessoas com renda até R$ 2.259,20 mensais não têm obrigação de declarar o Imposto de Renda. A proposta do governo é ampliar a faixa de isenção.

A mudança foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim do ano passado, em pronunciamento, em rede nacional. O projeto, no entanto, ainda precisa ser aprovado pelo Congresso.

Nessa segunda-feira (17/3), Lula se reuniu com o titular da Fazenda para discutir os ajustes finais do texto. A proposta, agora, será apresentada para os presidentes do Senado e da Câmara.

Israel volta a atacar Gaza

No cenário internacional, os investidores acompanham com preocupação os impactos geopolíticos e econômicos do ataque das Forças de Defesa de Israel contra a Faixa de Gaza, na madrugada desta terça.

A ofensiva marca a primeira grande operação militar na região desde o início do cessar-fogo com o grupo terrorista Hamas, em janeiro deste ano.

Aviões de guerra atingiram locais em todo o território: da Cidade de Gaza, no norte, a Khan Younis, no sul. Há relatos de pelo menos 404 mortes, disse o Ministério da Saúde de Gaza. Centenas de pessoas estão feridas.

O governo israelense afirmou que os ataques têm como alvo lideranças do Hamas e infraestrutura considerada estratégica para o grupo, classificado como organização terrorista por Israel e outras nações. A operação é realizada em parceria com a Agência de Segurança de Israel, responsável pela inteligência do país.

De acordo com o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a ordem para a ofensiva ocorreu após o Hamas recusar a libertação de reféns mantidos em Gaza e rejeitar todas as propostas de negociação apresentadas.

Tarifas de Trump

Além dos dados da política monetária, o mercado segue acompanhando os desdobramentos da política tarifária imposta pelo governo Trump nos EUA.

O presidente norte-americano reafirmou, no último fim de semana, que não pretende aliviar as tarifas de 25% impostas aos parceiros comerciais do país sobre o aço e o alumínio. “Não pretendo fazer isso”, disse Trump a repórteres a bordo do avião presidencial Air Force One, ao ser questionado sobre eventuais “exceções” às tarifas anunciadas nas últimas semanas.

Para reequilibrar a balança comercial dos EUA, Trump aumentou as tarifas alfandegárias de diversos produtos em diferentes países, incluindo o Brasil. Essa série de decisões desestabilizou os mercados financeiros e gerou temores de recessão na maior economia do mundo.

As tarifas de 25% sobre aço e alumínio entraram em vigor na última quarta-feira (12/3). A tentativa do governo Trump é proteger a indústria siderúrgica dos EUA, que enfrenta uma concorrência cada vez maior.

O líder republicano também pretende impor as chamadas taxas alfandegárias “recíprocas” a todos os parceiros comerciais de seu país, a partir de 2 de abril.

No último domingo (16/3), o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), o espanhol Luis de Guindos, afirmou que o mundo vive um período de incerteza econômica maior do que durante o auge da pandemia de Covid.

“Precisamos considerar a incerteza do ambiente atual, que é ainda maior do que durante a pandemia. O que estamos vendo é que a nova administração dos EUA não está muito aberta a continuar com o multilateralismo, que é sobre cooperação entre jurisdições e encontrar soluções comuns para problemas comuns”, disse Guindos. “Esta é uma mudança muito importante e uma grande fonte de incerteza no mundo.”

China

Outro foco de atenção dos mercados é a China, que anunciou, na segunda-feira (17/3), um novo pacote de medidas com o objetivo de estimular o consumo doméstico e impulsionar a atividade econômica do país.

Entre as principais medidas, estão uma política de subsídios para cuidados infantis, ampliar a assistência financeira para estudantes, plano para o aumento de renda dos agricultores e redução das taxas de juros dos financiamentos habitacionais subsidiados.

De acordo com o regime chinês, o pacote valerá para todas as regiões e estados do país e tem o objetivo de “impulsionar vigorosamente o consumo, expandir a demanda interna em todas as direções e melhorar a capacidade de consumo, aumentando a renda e reduzindo encargos”.

As autoridades locais devem, segundo Pequim, “estudar e estabelecer um sistema de subsídio para cuidados infantis”, além de implementar empregos flexíveis e abertura de clínicas ambulatoriais pediátricas à noite.

Também foram anunciadas medidas que visam a impulsionar o turismo no país.

Na última sexta-feira (14/3), já em meio às especulações em torno do anúncio das medidas, as principais ações do mercado financeiro da China fecharam na maior alta em 2 meses.

As medidas de incentivo ao consumo para aquecer a economia vêm sendo uma tônica do regime chinês nos últimos anos, em meio à perda de força do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), se comparado ao patamar de décadas atrás.

Bolsa de Valores

As negociações do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), começam às 10 horas.

Na véspera, o indicador fechou mais uma vez em forte alta, de 1,46%, aos 130,8 mil pontos. Foi o maior patamar desde outubro do ano passado.

Com o resultado, o Ibovespa acumula ganhos de 6,54% em março e 8,77% em 2025.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.