Economistas divergem sobre patamar final da Selic em 2025 após sinalização do Copom

Após a já antecipada alta de 1 ponto percentual na Selic anunciada nesta quarta-feira (19), persistem dúvidas entre os economistas sobre até onde o Banco Central está disposto a ir nesse atual ciclo de alta de juros. Normalmente, ao dar uma orientação de novo ajuste para cima, a leitura é de um comunicado mais duro (“hawkish”), mas a opção por deixar a expressão no singular “próxima reunião”, deixa aberta a possibilidade de uma interrupção em junho, embora isso não seja consenso.

O chamado “forward guidance” dessa noite foi: “diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”. 

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Durante a live do InfoMoney no Youtube, Rodolfo Margato, economista da XP, lembrou que havia um debate grande entre os analistas de mercado e os economistas a respeito da sinalização do Comitê para os próximos encontros. Alguns projetavam que não haveria nenhuma orientação e outros, como o caso do time econômico da XP, antevendo alguma sinalização sobre a necessidade de um ajuste monetário adicional.

“E aqui também tem um debate: será que vem 0,75 p.p. 0,50 p.p., 0,25p.p.. Acho que vai depender em grande medida da dinâmica da taxa de câmbio, que vem mostrando uma descompressão. Também a dinâmica da atividade doméstica, há alguns sinais de desaceleração na economia brasileira, no PIB, na produção industrial, nas vendas varejistas. Mas o Comitê trouxe que são sinais incipientes de moderação”, explicou.

Mas ele destacou que inflação corrente ainda está pressionada e que as expectativas de inflação estão desancoradas. “Então, a magnitude da próxima elevação de juros ainda tem bastante incerteza”, comentou, citando que o cenário base da XP é de uma alta de 0,75 p.p. em maio e uma última alta de 0,5 p.p. em junho.

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Para Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1, o comunicado trouxe duas mensagens importantes. “A primeira é que o plano do vôo do Comitê é reduzir o ritmo de alta de juros na próxima reunião. A segunda é que o balanço de riscos do cenário base do Copom permaneceu assimétrico para cima, a despeito dos sinais de desaceleração na atividade e da apreciação da taxa de câmbio ocorrida desde o início do ano.”

Assim Cezário avaliou a comunicação do Copom como ponderada. Segundo sua análise, é compreensível que com a taxa de juros real no nível atual, com sinais já evidentes de desaceleração da atividade e considerando que há as defasagens na transmissão da política monetária, o Copom indique que será mais cauteloso com a condução da política monetária daqui por diante.

“Por outro lado, com as projeções de inflação bem acima do centro da meta, a inflação corrente bastante pressionada e as expectativas de inflação mais desancoradas, era importante que deixasse claro que o ciclo de aperto monetário não está concluído”, disse, acrescentando que há uma incerteza enorme em relação aos efeitos das políticas do governo Trump sobre a atividade e inflação global, e isso também exige maior prudência por parte do Banco Central.

Atividade mais fraca

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, disse ter observado a manutenção do tom mais duro e do viés altista na análise dos riscos para a inflação, apesar da melhora marginal no cenário, principalmente a valorização do real.

“Os sinais de desaceleração da atividade também tiveram menção secundária, e o Comitê continua focado nas expectativas de inflação, que, de fato, continuaram a trajetória de alta desde a última reunião.”

Dito isso, como ficam as projeções para a próxima reunião? Rafaela Vitória disse estar mantendo a expectativa de uma alta de 0,50 p.p., para 14,75%, encerrando o ciclo de aperto monetário. Para ela, a continuidade da desaceleração da atividade e o atual patamar de câmbio mais favorável devem contribuir para reverter, em parte, a elevação nas expectativas de inflação.

“A magnitude do aperto e o atual patamar de juro real já é bastante restritivo e suficiente para a convergência da inflação para a meta até 2026, que, na projeção do BC, está em 3,9%”, afirmou, ponderando que o risco de nova expansão fiscal e parafiscal deve continuar no radar, podendo impactar o processo de desinflação, tirando força da política monetária.

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Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, também acredita que a alta adicional, porém em ritmo menor, citada pelo BC, deve significar um ajuste de 0,50 ponto para cima em maio.

“A justificativa para essa postura é a preocupação com a não convergência das expectativas de inflação. No nosso cenário, há espaço para altas além das sinalizadas, alcançando juma taxa básica de 15% e ficando com essa taxa até o final do ano. A decisão de hoje não altera esse cenário, mas claramente o viés é para juros mais elevados”, destacou.

Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG, por sua vez, projetou um aumento de 50 pontos-base na Selic, para 14,75% a.a. no encontro de maio. “Para além dessa reunião, o BC reforçou que qualquer ação será tomada levando em consideração o firme compromisso de trazer a inflação para a meta. Acreditamos que o aumento de 50bps de maio será o último movimento deste ciclo de alta de juros”, estimou.

Já na projeção de Danilo Passos, economista da WHG, o Copom anunciará uma alta de 50 bps na reunião de maio e uma alta final de +25 bps no Copom de junho, com a Selic alcançando 15,0% no final do ciclos.

Ao analisar o comunicado, Leonardo Costa, economista do ASA, destacou que o balanço de riscos do BC segue assimétrico e que entre os riscos altistas, destacam-se a desancoragem prolongada das expectativas, a resiliência da inflação de serviços devido a um hiato do produto positivo e políticas econômicas que pressionem a inflação, como uma taxa de câmbio mais depreciada.

“Já os riscos baixistas incluem uma desaceleração econômica doméstica mais intensa e um ambiente global menos inflacionário devido a choques no comércio e nas condições financeiras.”

Na opinião de Gesner Oliveira, economista e sócio da GO Associados e professor da FGV, o Copom mostrou hoje uma preocupação de um crescimento menor e uma taxa de inflação maior, com um risco à estagflação.

“É razoável supor que a próxima elevação possa ser da ordem de 0,50 p.p., passando a taxa de juros dos atuais 14,25% para 14,75%. Tanto no cenário externo quanto no cenário doméstico, persistem várias incertezas. Chama atenção também o destaque que se dá à nova política dos Estados Unidos em relação à guerra comercial, às tarifas de importação e à preocupação com seus impactos inflacionários e sobre a produção.”

Ariane Benedito é economista-chefe do PicPay, por sua vez, destacou que a pressão inflacionária deve continuar, com o IPCA de março consolidando-se acima de 5,4% no acumulado de 12 meses. “Para o mês, esperamos uma inflação de 0,52%. Diante desse contexto, consideramos coerente que o Banco Central mantenha o ciclo de alta, com um aumento adicional de 0,75 ponto percentual na reunião de maio, garantindo o alívio inflacionário e a convergência da inflação para a meta.”

Para ela, se as condições econômicas e o balanço de riscos se mantiverem inalterados ou se deteriorarem, nossa projeção para a taxa de juros ao final do ciclo de alta seguirá em 15%, sem expectativa de cortes ainda este ano. “Para a ata da reunião, esperamos uma análise mais detalhada sobre o recente alívio do câmbio, a leitura do Banco Central sobre os dados de alta frequência que indicaram desaceleração da atividade econômica em janeiro e os efeitos da política fiscal no horizonte relevante, disse.

Críticas da indústria e do comércio

Se os economistas ainda debatem o quanto os juros ainda precisam subir para que aconteça uma convergência da inflação e das expectativas rumo à meta, o setor produtivo não poupou críticas ao Banco Central.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a alta de 1 ponto anunciada hoje “não é necessária para controlar a inflação e prejudicará o ritmo de crescimento da economia”. A Selic

“O nível atual da Selic, que implica taxa de juros real de 8,5% a.a. (3,5 p.p. acima da taxa neutra estimada pelo Banco Central), já tem impactado fortemente a economia, que apresenta desaceleração mais aguda do que a prevista, tanto pela CNI, como por diversos analistas econômicos. Essa desaceleração intensa da economia já seria suficiente para controlar a inflação”, avaliou em nota Ricardo Alban, presidente da CNI.

Além de lembrar que o PIB do 4º trimestre de 2024  já havia crescido abaixo do esperado, ele citou que o disso, o aperto monetário em curso já se traduz em aumento efetivo da taxa de juros dos tomadores de crédito.

“Em setembro de 2024, quando o Copom começou a aumentar a Selic, a taxa de juros média era de 27,54% a.a. Em janeiro de 2025, passou para 29,82% a.a, diz o comunicado da confederação, destacando que os efeitos das quatro altas da Selic sequer se materializaram plenamente, uma vez que há uma defasagem temporal entre a alteração nos juros básicos e o impacto na economia.

Já Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados), disse em comunicado entender que o Copom deveria adotar uma ação mais parcimoniosa em relação ao ciclo de alta da taxa de juros, para não prejudicar a produção, o consumo e os investimentos domésticos.

“O Brasil já possui uma das maiores taxas reais de juros do mundo, e com a recente calibragem da Selic, torna ainda mais difícil fomentar o nível de investimento necessário para o país se manter competitivo internacionalmente neste cenário de neoprotecionismo. Além disso, os efeitos sobre os empregos e sobre o consumo das famílias são deletérios”, afirmou.

A nota da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), assinada pelo presidente Flávio Roscoe, disse reconhecer a importância do controle da inflação para a estabilidade econômica, mas também alertou para os impactos negativos dos juros elevados. “A elevação da Selic a níveis tão altos tende a restringir os investimentos produtivos, aumentar os custos de produção e reduzir a competitividade da indústria brasileira e mineira”, disse Roscoe.

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