ONCO3: CVM questiona disparada inexplicável das ações

O cenário não era nada bom. No fim de 2024, a Oncoclínicas (ONCO3) havia perdido quase 90% do seu valor de mercado desde sua estreia na B3. Com uma dívida bilionária e um cenário de dólar e juros altos, a empresa enfrentou novas quedas nos primeiros dias de 2025. A ação chegou a valer apenas R$ 1,77 no dia 12 de fevereiro.

Foi quando tudo mudou. O preço das ações disparou. Em 14 dias, houve um aumento de 227%, chegando a R$ 5,80 em 25 de fevereiro. A movimentação atípica e sem explicações chamou a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que questionou a companhia sobre a alta repentina. A Oncoclínicas, no entanto, não conseguiu explicar.

A escalada ocorreu apesar do JP Morgan ter rebaixado as ações da Oncoclínicas nos primeiros dias da alta, em 19 de fevereiro. O banco internacional classificou as ações como underweight (abaixo do peso, em tradução literal do inglês — no mercado, o termo é usado para apontar ações com desempenho abaixo das expectativas) e recomendou evitar empresas “alavancadas” e com falta de clareza para o fluxo de caixa, citando os papéis da Oncoclínicas.

Na noite do mesmo dia, a Oncoclínicas publicou comunicado ao mercado informando que dois dos fundos geridos pela Latache — gestora especializada em ativos em situação de estresse — haviam atingido a quantidade de 44.627.915 papéis da companhia, representando 6,84% de seu capital social.

No dia seguinte, 20 de fevereiro, veio o questionamento da CVM: “Tendo em vista as últimas oscilações registradas com os valores mobiliários de emissão dessa empresa, o número de negócios e a quantidade negociada, vimos solicitar que seja informado se há algum fato que possa justificá-los”. O período apontado no ofício era de 7 a 20 de fevereiro.

A Oncoclínicas respondeu afirmando desconhecer “qualquer fato ou ato relevante relacionado aos seus negócios que poderiam justificar as oscilações envolvendo as ações de sua emissão nas datas que antecederam à data de atingimento de participação acionária relevante pelos fundos [da Latache, no dia 19 de fevereiro]”.

Também não se sabe ao certo em que pé estão as finanças da Oncoclínicas atualmente, já que a empresa divulgará os resultados financeiros mais recentes, referentes ao quarto trimestre de 2024, apenas no dia 27 de março.

No entanto, os últimos números conhecidos pelo mercado, divulgados em setembro de 2024, apontaram uma dívida líquida somada às aquisições a pagar no valor de R$ 3,3 bilhões.

Do início promissor à queda de 90%

Criada em 2010 pelo oncologista clínico Bruno Ferrari em 2010, na cidade de Belo Horizonte (MG), a empresa cresceu significativamente após a chegada do Goldman Sachs. O banco internacional investiu na empresa pela primeira vez em 2015 e chegou a ter 60% da companhia.

A Oncoclínicas estreou na B3 em 2021. A oferta movimentou R$ 3,6 bilhões, com a ação a R$ 19,75. A companhia abriu o capital com planos de atender à crescente demanda por atendimento especializado no tratamento de câncer e expandir as atividades para outros países.

Após um início promissor, a companhia acumulou atrasos de pagamentos e aumentou o provisionamento. Desde então, passou a ser vista com desconfiança pelo mercado até perder 90% do seu valor.

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