Uma dupla tragédia em Gaza (Por Helena Pereira)

Esta terça-feira, dia 18 de março, foi um dia duplamente trágico.

Trágico porque durante a madrugada as forças armadas israelitas quebraram o cessar-fogo que vigorava há dois meses em Gaza e bombardearam o território, matando num ápice de violência extrema 500 civis e fazendo cerca de mil feridos. E matando as esperanças recentes de que pudesse haver um caminho, mesmo que estreito, para que o frágil cessar-fogo desse lugar a negociações sérias sobre o futuro do território palestino.

Trágico porque esse ataque significa uma mudança duradoura na estratégia de Benjamin Netanyahu, incentivado tanto pela extrema-direita israelita quanto pelo seu aliado em Washington, Donald Trump, com quem já trabalha para a recolocação do povo palestino.

Israel usou toda a sua força e atacou de surpresa, durante a noite, num raide mortífero que ultrapassou em muito o pior dia da guerra, a 9 de junho, que fizera 270 mortos. “Durante a noite, os nossos piores medos materializaram-se. Os ataques aéreos recomeçaram por toda a Faixa de Gaza. Relatos não confirmados de centenas de pessoas mortas. Mais uma vez, o povo de Gaza está a viver no medo absoluto”, resumiu nesta terça-feira o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, falando no Conselho de Segurança da ONU, em Nova Iorque.

O cessar-fogo em Gaza acabou por durar apenas dois meses. Há vários dias que Israel tinha suspendido a entrada de ajuda humanitária e as pressões dentro do governo de Benjamin Netanyahu aumentavam de dia para dia para que cedesse à linha dura. A acrescentar a isso, conta com a bênção declarada de Trump, que sonha mesmo com uma “Riviera do Médio Oriente”.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, o mesmo que já avisou que os novos ataques não foram um “ataque de um dia” e que a operação militar em Gaza continuará nos próximos dias, revelou que a administração Trump foi informada previamente da operação militar, o que foi confirmado pela Casa Branca. “Como o Presidente Trump deixou claro, o Hamas, os houthis, o Irã, todos aqueles que procurarem aterrorizar não só Israel mas também os Estados Unidos vão ter um preço a pagar”, avisava a porta-voz, Karoline Leavitt.

Um dos próximos passos desta aliança entre Netanyahu e Trump pode mesmo vir a ser a relocalização dos palestinos da Faixa de Gaza. Ainda há dois dias, a imprensa norte-americana noticiava que os dois países concordavam que o melhor destino para os cerca de 2 milhões de palestinos seria a Síria, estando em estudo ainda as hipóteses da Somália e do Sudão. Por mais abominável que pareça, isto pode, de fato, vir a tornar-se uma realidade.

 

(Transcrito do PÚBLICO)

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