Opinião: “Beleza Fatal: os perigos da pirataria no mercado de estética”

Por Andressa Mundim

Uma empresária do ramo de estética, popular nas redes sociais e casada com um renomado cirurgião plástico, construiu um império com tratamentos revolucionários. No entanto, por trás do glamour e do sucesso, sua fortuna é alimentada pelo uso de equipamentos pirateados. Com o tempo, as consequências aparecem: pacientes sofrem queimaduras e lesões irreversíveis, não apenas em seus rostos, mas também em seus bolsos e, sobretudo, na autoestima. 

Aqui, a arte imita a vida. Casos como esse são mais comuns do que se imagina. A novela Beleza Fatal, exibida em streaming e agora também na TV aberta, trouxe à tona o problema da falsificação no mercado da estética. A protagonista Lola, vivida por Camila Pitanga, reflete uma realidade preocupante, em que clínicas operam sem fiscalização, utilizando equipamentos irregulares e prometendo resultados milagrosos na internet.

A busca por procedimentos de beleza a qualquer custo tem alimentado um comércio de insumos falsificados, colocando em risco tanto a economia quanto os consumidores. Segundo dados do Fórum Nacional Contra a Pirataria, em 2024, o mercado paralelo gerou um prejuízo de R$ 468 bilhões ao Brasil. Um dos cinco setores mais impactados é o de estética e beleza, que registrou perdas de R$ 21 bilhões – valor que representa tanto a receita que empresas legalizadas deixaram de obter quanto os impostos não arrecadados.

O problema vai além das perdas financeiras e se reflete diretamente na saúde dos consumidores. Equipamentos sem certificação e substâncias de origem duvidosa podem provocar reações adversas graves, como infecções, necroses e reações alérgicas severas. Um levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2018 a 2023, aponta que 61,3% das denúncias são relacionadas a serviços de estética e embelezamento, o que deixa evidente a falta de controle e fiscalização em um setor que cresce sem regras claras. A pirataria, nesse cenário, amplifica ainda mais os riscos, permitindo que produtos sem qualquer garantia de qualidade sejam aplicados diretamente na pele dos pacientes.

Segundo relatos do setor, há um mercado crescente de falsificação de cartuchos de equipamentos estéticos e falta de controle sanitário de toxinas botulínicas e preenchedores faciais. A toxina botulínica falsificada foi um dos temas recentemente abordados na mídia, destacando a gravidade da questão. No Brasil, há registros de óbitos relacionados ao uso de silicone industrial aplicados por profissionais que não possuem formação adequada.

Ao passo que o mercado paralelo prospera, os órgãos reguladores enfrentam dificuldades para conter a circulação desses produtos. A publicidade desses itens ilegais ocorre abertamente em redes sociais e plataformas de e-commerce, dificultando o controle e permitindo que um grande número de pessoas tenha acesso.

Estima-se que cerca de 60% do mercado de ponteiras para dispositivos médico-estéticos de ultrassom micro e macro focados, usados para estimular a produção de colágeno e dar mais firmeza à pele, já é dominado por falsificações. Isso significa que a maioria dos profissionais da saúde – inclusive médicos – estão utilizando dispositivos adulterados. Em muitos casos, sem sequer saber, mas em outros, são cientes da irregularidade e aproveitam a economia proporcionada pelos equipamentos recondicionados. Essa prática, além de afetar diretamente a qualidade dos tratamentos oferecidos, também prejudica a reputação de toda a indústria da estética.

A pirataria pode provocar danos irreversíveis também às empresas que atuam de forma legal, investindo continuamente em inovação, certificações e padrões de segurança. Com uma crise de confiança, toda uma cadeia é comprometida, desde os fabricantes das tecnologias, os importadores, os profissionais especializados e os empregos diretos e indiretos. Enquanto empresas sérias seguem normas rigorosas para garantir qualidade e segurança, o mercado paralelo desvaloriza o trabalho legítimo ao oferecer serviços mais baratos, sem qualquer compromisso com a saúde e o bem-estar dos pacientes, além de sonegar impostos. 

As entidades vêm intensificando a fiscalização, mas o crescimento desenfreado desse mercado ilegal mostra que ainda há muito a ser feito. Algumas medidas necessárias incluem fiscalização rigorosa para ampliar a atuação dos órgãos reguladores e penalizar vendedores de produtos falsificados, conscientização do consumidor sobre os riscos de utilizar esses produtos estéticos e incentivo à busca por clínicas certificadas, regulamentação do comércio eletrônico para monitorar a venda de equipamentos estéticos em marketplaces e redes sociais, além de apoio ao setor formal por meio de políticas públicas que reduzam a carga tributária sobre produtos médicos e estéticos para tornar o mercado legal mais acessível.

Em um cenário onde cada vez mais consumidores pagam caro por promessas vazias, sem garantia de resultados e, pior, arriscando sua saúde com queimaduras e deformações, é urgente tomar medidas para frear essa tendência. A novela Beleza Fatal evidencia como o problema se tornou corriqueiro na sociedade, escancarando os perigos dessa prática. Empresas, sociedades médicas, governo, órgãos de controle e até mesmo os consumidores precisam se unir para que a pirataria não provoque ainda mais danos na saúde e na economia do país.

*Coluna escrita por Andressa Mundim, CMO do Grupo Medsystems, atua no competitivo setor de inovação em beleza e bem-estar

As opiniões transmitidas pelo colunista são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião da BM&C News

Veja mais notícias aqui.

Acesse o canal de vídeos da BM&C News.

O post Opinião: “Beleza Fatal: os perigos da pirataria no mercado de estética” apareceu primeiro em BM&C NEWS.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.