Zelensky diz que não vai entregar usinas ucranianas aos EUA

Um dia após receber uma proposta do presidente americano Donald Trump para entregar as usinas de energia de seu país aos Estados Unidos, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, descartou a ideia nesta quinta-feira (20/03), alegando que a infraestrutura pertence ao povo ucraniano.

“Não vamos discutir isso. Temos 15 usinas nucleares em operação hoje. Tudo isso pertence ao nosso Estado”, afirmou Zelensky a jornalistas durante viagem a Oslo, na Noruega.

Segundo o presidente ucraniano, Trump e ele teriam conversado apenas sobre Zaporíjia, que está sob controle da Rússia desde o início do conflito, em 2022. o líder ucraniano sinalizou disposição de discutir um acordo nesse caso, mas negou que a questão de “propriedade” tenha sido abordada.

“O presidente [Trump] me perguntou se a percepção era de que os EUA poderiam restaurá-la, e eu disse que sim, se pudermos modernizá-la, investir dinheiro. Se eles quiserem pegar de volta dos russos, se quiserem modernizá-la, investir – essa é uma questão diferente, é uma questão em aberto, podemos conversar a respeito.”

Na quarta-feira, Trump havia dito a Zelenksy por telefone que os EUA poderiam ser “muito úteis em administrar as fábricas” e que torná-las “propriedade americana” poderia ser a melhor forma de protegê-las, segundo um comunicado da Casa Branca divulgado após a conversa.

Zelensky afirma que levaria dois anos e meio para restaurar Zaporíjia, a maior usina nuclear da Europa. “Vamos entregá-la aos EUA com base em quê? Eles vão comprá-la? Vão assumi-la como uma concessão?”, indagou uma fonte do governo de Kiev citada pela agência Reuters, dizendo haver “muitas perguntas” em aberto.

A retomada de Zaporíjia – que antes da guerra gerava 20% da energia ucraniana –  poderia fazer diferença na rede de energia não só ucraniana quando em toda a Europa central, segundo o analista de energia ucraniano Oleksandr Kharchenko. Até agora, Moscou não teria conseguido conectar a usina à rede de energia russa, deixando-a ociosa.

Negociações por cessar-fogo parcial

O telefonema entre Trump e Zelensky ocorreu como parte das tratativas para fazer avançar um acordo de cessar-fogo parcial entre Ucrânia e Rússia, que prevê a suspensão, por 30 dias, de ataques à infraestrutura de energia.

Segundo Zelensky, negociadores de EUA e Ucrânia devem se encontrar na próxima segunda-feira na Arábia Saudita para continuar as conversas, que ele quer que incluam ainda uma trégua nos ataques à infraestrutura portuária e ferroviária. Na sequência, representantes da Casa Branca devem sentar-se com Moscou. Russos e ucranianos, por ora, não estarão à mesma mesa.

Originalmente, a Ucrânia havia concordado com um cessar-fogo incondicional de 30 dias, conforme proposto pelos EUA. A proposta acabou descartada diante das objeções de Vladimir Putin.

Na União Europeia, líderes do bloco reunidos nesta quinta-feira em Bruxelas, Bélgica, criticaram o ritmo das negociações por um cessar-fogo e duvidaram de que a Rússia esteja sinceramente interessada em baixar as armas – como também crê Zelensky.

O bloco aprovou a liberação de mais 1 bilhão de euros em empréstimos à Ucrânia. A verba deve ser empregada, entre outros fins, na reconstrução da infraestrutura destruída por bombardeios russos.

O dinheiro é parte de uma iniciativa dos países do G7 que prevê uma ajuda total de cerca de 45 bilhões de euros à Ucrânia até 2027, sendo 18,1 bilhões de euros bancados pela UE. Até agora, o bloco repassou efetivamente cerca de 4 bilhões de euros a Kiev. As dívidas serão quitadas com os rendimentos dos juros de ativos russos congelados na UE.

Ucrânia ataca base de bombardeiros nucleares da Rússia

Também nesta quinta-feira, drones ucranianos conseguiram quebrar as linhas de defesa aérea russas, atingindo o aeródromo Engels, que abriga bombardeiros nucleares, a cerca de 700 quilômetros de distância das linhas de combate e a 14 quilômetros ao leste da cidade de Saratov.

Segundo a agência Reuters, vídeos mostram uma enorme explosão no aeródromo, com a destruição de construções próximas. Em outra gravação, veem-se uma enorme coluna de fumaça se elevando no céu e um incêndio. A base abriga bombardeiros Tupolev Tu-160, capazes de carregar armas nucleares.

O governador da região de Saratov, Roman Busargin, confirmou que um ataque de drones ucranianos havia deixado um aeródromo em chamas, e que a população local precisou ser evacuada.

Leia mais reportagens na DW, parceira do Metrópoles.

 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.