Alta dos Juros: por que especialistas recomendam cautela com crédito privado

Com o ciclo de aperto monetário e a taxa Selic atingindo 14,25% ao ano, a alocação de recursos em renda fixa voltou a ganhar força entre os brasileiros. Dados da Anbima mostram que, até o final de 2024, 44,4% do total investido no país estava nessa classe de ativos, movimentando R$ 221,5 bilhões.

No entanto, especialistas da Garoa Wealth Management alertam que, mesmo em um cenário de juros elevados, é preciso atenção com a escolha dos produtos de investimento — especialmente os de crédito privado corporativo, como debêntures, CRIs, CRAs e FIDCs.


Renda fixa em alta, mas com armadilhas ocultas

O crescimento dos fundos de renda fixa e instrumentos de crédito privado em 2024 foi expressivo:

  • Fundos de renda fixa: +22,6% (R$ 58,6 bilhões)
  • Títulos públicos: +22,4% (R$ 38,4 bilhões)
  • FIDCs: +61,8% (R$ 27,4 bilhões)
  • Debêntures incentivadas: +65,6% (R$ 14,5 bilhões)

Apesar do volume, os sócios da Garoa chamam atenção para o risco envolvido.

“O crédito privado é uma estrutura criada pelos bancos para repassar riscos ao investidor de varejo. Quando a empresa quebra, o investidor pode perder tudo, enquanto os intermediários seguem recebendo taxas”, afirma Fernando Camargo Luiz, sócio-fundador da Garoa.


Por que evitar o crédito privado, segundo especialistas

Segundo os sócios da Garoa Wealth Management, o crédito privado possui características que tornam o investimento mais arriscado para pessoas físicas:

  • Risco de inadimplência: empresas de setores sensíveis aos juros, como varejo e construção civil, enfrentam dificuldade para rolar dívidas;
  • Estrutura opaca: presença de intermediários (gestores, auditores e consultores) reduz a rentabilidade líquida e aumenta o risco sistêmico;
  • Assimetria de informação: investidores não possuem as ferramentas adequadas para avaliar o risco das empresas emissoras;
  • Rentabilidade diluída: grande parte do retorno fica com os intermediários financeiros.

“Muitas empresas captam crédito a taxas elevadas, mas o investidor final recebe só uma fração. É uma relação de risco-retorno que não compensa”, alerta Luiz.


A importância da estratégia de longo prazo

Para a Garoa, o melhor caminho para crescimento patrimonial está em minimizar riscos e evitar o giro excessivo da carteira, principalmente em um país com juros reais entre os mais altos do mundo.

“Se um investidor aplicar a 8% ao ano de juro real, ele dobra o patrimônio em cerca de sete ou oito anos. Mas ao movimentar a carteira com frequência, pagando taxas e spreads, parte importante da rentabilidade se perde”, explica Luiz.

O economista e sócio da Garoa, Carlos Müller, reforça a crítica ao incentivo ao giro de portfólio:

“Bancos não querem que o cliente compre um título público e o carregue por 20 anos. O giro de patrimônio gera receita para eles, não para o investidor.”


Recomendações: segurança, previsibilidade e diversificação

A Garoa Wealth adota uma abordagem conservadora. Os sócios recomendam:

  • Títulos públicos indexados à inflação (NTN-Bs), que oferecem maior previsibilidade;
  • Diversificação internacional gradual, como forma de proteção frente à instabilidade política e fiscal do Brasil.

“A diversificação global não é um luxo, mas uma necessidade em um país volátil. O investidor precisa se proteger”, diz Müller.


Perfil da Garoa Wealth Management

A consultoria, que administra mais de R$ 1 bilhão em patrimônio sob acompanhamento e R$ 1,5 bilhão em carteiras reformuladas, não atende investidores que buscam ganhos rápidos.

“Nosso foco é preservar e expandir patrimônio de forma sustentável, com estratégias sólidas de longo prazo. Não trabalhamos com operações especulativas”, conclui Müller.


Conclusão

O cenário atual de juros altos exige cautela e planejamento. Embora o crédito privado possa parecer atraente, especialistas apontam que os riscos envolvidos superam os possíveis retornos para investidores individuais. A escolha por investimentos mais previsíveis, combinada com uma estratégia de longo prazo, tende a ser mais eficiente na construção de patrimônio — especialmente em um ambiente econômico instável como o brasileiro.

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