EXCLUSIVO: CEO do Hurb faz acusações contra a Senacon e outros órgãos em vídeos vazados; confira

FOTO 1 EXCLUSIVO: CEO do Hurb faz acusações contra a Senacon e outros órgãos em vídeos vazados; confira

O M&E teve acesso à vídeos e áudios do CEO do Hurb fazendo acusações diretas à Senacon, sugerindo que o órgão tem prejudicado deliberadamente a empresa (Reprodução)

O M&E teve acesso a uma série de vídeos, prints e áudios do CEO do Hurb, João Ricardo Mendes, em interação com consumidores lesados pela empresa em grupos de WhatsApp. Nos registros, o empresário não apenas ofende clientes, ameaça processá-los e chega a incitá-los para brigas físicas, como também faz graves acusações contra a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e outros órgãos.

Os materiais revelam um João Ricardo Mendes debochado, que oscila entre ataques diretos a consumidores e alegações sobre um suposto boicote de entidades regulatórias ao Hurb. Em um dos áudios, ele chega a afirmar que há pessoas na Senacon que serão exoneradas:

“O Senacon tá só ferrando a gente, mas é normal”, diz Mendes, sugerindo que o órgão estaria prejudicando a operação do Hurb deliberadamente.

Relembre o TAC

Após veiculação de uma matéria no Fantástico, da TV Globo, em setembro do ano passado, o Hurb revelou que estava retomando as conversas com a Senacon para a assinatura do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). O TAC previa a criação de uma plataforma específica para resolver as pendências e segundo informações divulgadas pelo secretário nacional do consumidor em setembro, Wadih Damous, essa ferramenta deveria ser disponibilizada em outubro, permitindo que os clientes registrassem suas solicitações de reembolso ou crédito para viagens futuras. O que nunca aconteceu.

Ainda de acordo com as informações divulgadas, os consumidores teriam duas opções para o ressarcimento:

  1. Crédito para viagens futuras: valor que poderá ser utilizado em novos pacotes oferecidos pela empresa;
  2. Devolução corrigida: reembolso do valor pago, ajustado pela inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA).

O TAC estipulava ainda que o descumprimento do acordo poderia acarretar uma multa diária de R$ 1 milhão, reforçando a urgência na resolução da questão. Até o momento, o assunto permanece sem novos desdobramentos oficiais.

“Projeto Swartz” e “Libert”: as justificativas de Mendes

Entre as justificativas para o que chama de perseguição ao Hurb, Mendes cita seu envolvimento em dois projetos: o “Projeto Swartz“ e o “Libert”.

O primeiro, segundo ele, seria uma plataforma de código aberto para analisar dados de portais de transparência governamentais. Mendes alega que essa iniciativa tem incomodado figuras do poder:

“Eu fiz isso aberto, open source, e acho que isso deixa as pessoas um pouco preocupadas também, principalmente quem deve”, diz o CEO.

Já o “Libert” é descrito por Mendes como uma inteligência artificial capaz de analisar o histórico de advogados e juízes, identificando tendências de decisões judiciais e, supostamente, reduzindo a margem de derrota do Hurb nos tribunais. Mendes alega que a ferramenta “assustou” o meio jurídico:

“Nosso time de AI fez um modelo chamado Libert. Ele pega todo o histórico do advogado, do juiz, desde onde estudou até as decisões tomadas. Os advogados, claro, não gostaram disso. Porque o Libert é mais inteligente que eles”, afirmou.

O Libert, desenvolvido sob a liderança de João Mendes, CEO do Hurb, é um projeto de inteligência artificial voltado para a área jurídica. Ele utiliza large language models (LLMs) para prever os desfechos de processos civis e otimizar a gestão legal de empresas.

Principais funcionalidades:

  1. análises avançadas de processos – extração de informações jurídicas e empresariais para uma compreensão aprofundada de cada caso.
  2. análise de precedentes – identificação de casos similares para embasar estratégias legais.
  3. apoio a estratégias financeiras – previsão de resultados para alocação eficiente de recursos e redução de custos jurídicos.
  4. análise causal de processos – investigação de causas para evitar litígios futuros.

Tecnologia:
O Libert utiliza modelos de IA como BERT, RoBERTa, Longformer e GPT-4, além de técnicas de aprendizado de máquina (MLOps) para análise e automação de processos jurídicos. Ele opera em grandes bases de dados adquiridas via web scraping e bancos públicos da justiça.

O projeto visa transformar o setor jurídico ao automatizar a revisão de documentos, prever desfechos de processos e otimizar a tomada de decisões legais.

O ataque à Senacon

Nos áudios, Mendes também sugere que a demora da Senacon para assinar o TAC teria agravado a crise do Hurb e permitido a proliferação de ações judiciais.

“O mal dessa confusão toda foi ‘esse cara’ que demorou para assinar algo. É um cara que vai tirar do bolso da União um valor muito grande”, diz o empresário, sem citar nomes. 

Mendes afirma no vídeo que o Hurb já havia chegado a um acordo com a Senacon há cerca de oito meses (quando foi gravado o vídeo, em 19 de fevereiro de 2025), mas que a burocracia e a atuação de advogados que ele considera oportunistas acabaram prejudicando a empresa.

Veja um dos vídeos que o M&E teve acesso: 


“Cara, o negócio da Senacon foi o seguinte (…). A gente já assinou tem acho 8 meses ou 9 meses e eles deram ok também. Então, teoricamente, já tem um valor jurídico”.

Leia MAIS: “Se tivesse agido antes, teria economizado quase R$ 200 milhões a mais em passageiros atrasados”, diz CEO da Hurb
Hurb demite mais de 200 funcionários em reestruturação para cortar custos

“Depois da Senacon, o Hurb teve que demitir 500 a 600 pessoas. Parabéns! Vocês conseguiram a demissão de 600 pessoas que vão chegar em casa e falar pra família que não tem mais emprego”, completou.

O empresário ainda sugere que a influência política do Hurb teria um peso significativo e que a empresa teria capacidade de influenciar eleições. “Os caras estão vendo que a gente elege um governador, literalmente”, revela, sem apresentar evidências para tal afirmação.

FOTO 2 EXCLUSIVO: CEO do Hurb faz acusações contra a Senacon e outros órgãos em vídeos vazados; confira

Em uma mensagem enviando ainda ontem (20) em um dos grupos de WhatsApp, João volta a falar da Senacon (Reprodução/Print-WhatsApp)

Para a construção dessa matéria, o M&E procurou a Senacon. Em resposta enviada ao jornal, a secretaria afirmou que apresentará uma nota técnica detalhada sobre o assunto em breve, devido a complexidade do tema, ‘trazendo todos os esclarecimentos necessários sobre este e outros aspectos relacionados’.

“Até lá, reforçamos que a atuação da Senacon segue pautada pela transparência e pela defesa dos direitos dos consumidores, conforme estabelece a legislação vigente. Estamos à disposição para eventuais esclarecimentos adicionais após a publicação da nota oficial”, informou a secretaria em nota.

A “indústria do litígio”

Além disso, o CEO do Hurb acusa advogados de fomentar ações contra a OTA, criando o que chama de “indústria do litígio”.

“Tem gente anunciando em grupos. Fizemos uma análise: 40 e poucos por cento de qualquer reclamação em grupo falando mal da gente tem um advogado fomentando”, alega Mendes.

A estratégia de Mendes para lidar com clientes que criticam a empresa também aparece nos registros. Ele afirma que consumidores que falam bem do Hurb terão prioridade na operação de viagens, como já divulgado pelo M&E. 

“Quem é pró-Hurb, quem fala bem, divulga e tal, vai ser beneficiado, vai ser operado antes. Porque, um, eu sou dono da empresa. Dois, você não pode fazer isso sem motivo, mas, segundo meu advogado, que é o melhor do Brasil, você pode”, argumenta.

Impacto na crise do Hurb

As declarações de João Ricardo Mendes revelam um cenário preocupante dentro da operação do Hurb, que já enfrenta milhares de reclamações por não cumprir pacotes vendidos e cancelar viagens sem reembolso adequado. Em vez de apresentar soluções concretas, o CEO direciona ataques a órgãos reguladores, advogados e até mesmo clientes que cobram respostas.

Leia também: Hurb lidera queixas no Procon e mantém baixo índice de solução; setor de turismo é um dos mais reclamados
EXCLUSIVO: Hurb reconhece “momento desafiador” e reforça busca por soluções

Os registros acessados pelo M&E evidenciam uma postura combativa por parte de Mendes, que não só minimiza a crise da empresa como também transfere a responsabilidade para terceiros. Solicitamos um posicionamento oficial do Hurb antes da publicação desta matéria – e no caso de resposta, atualizaremos com a nota enviada por eles na íntegra. Esta será a parte 1 de uma série de matérias que o M&E publicará nos próximos dias sobre o caso.

Veja outras coberturas abaixo:
Oficiais de Justiça esvaziam sede da Hurb em mutirão para penhora de bens
Suposto investimento de R$ 140 milhões no Hurb é desmentido por fundo canadense
Confiabilidade em xeque: Hurb tenta limpar imagem após ação de oficiais de Justiça, mas apaga postagem
EXCLUSIVO: ex-funcionário acusa Hurb de esconder bens e atrasar salários; já a empresa promete novo escritório em breve
Hurb afirma que apostará em estratégias eficientes para dar continuidade nos negócios; redução de funcionários é uma delas

*O M&E – Mercado & Eventos recebeu os vídeos, áudios e prints mencionados nesta matéria de forma anônima e, antes da publicação, analisou e verificou a autenticidade dos materiais. Todas as informações foram apuradas com base nos registros disponíveis, respeitando os princípios do jornalismo investigativo e o interesse público na divulgação dos fatos.

O conteúdo apresentado reflete exclusivamente as falas e posicionamentos do CEO do Hurb, João Ricardo Mendes, registrados nos materiais obtidos. O M&E se compromete a buscar e incluir quaisquer esclarecimentos das partes mencionadas, garantindo o direito ao contraditório e à ampla defesa.

Esta reportagem tem caráter informativo e jornalístico, não constituindo juízo de valor sobre as declarações ou condutas dos envolvidos. Caso alguma das partes citadas deseje se manifestar, estamos à disposição para atualizar a matéria com seus posicionamentos.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.