Mudanças climáticas ameaçam produção de chocolate em todo o mundo

O chocolate, um dos doces mais populares do mundo, pode estar ameaçado pelas mudanças climáticas. Dois estudos publicados este ano mostram evidências de que a produção do cacau, sua principal matéria-prima, corre riscos com as mudanças significativas nas temperaturas.

Um relatório feito por pesquisadores holandeses mostrou que as mudanças climáticas estão impactando diretamente a fabricação do cacau na África Ocidental, responsável por 70% da oferta global da fruta. Esse fator contribui para uma alta recorde nos preços do chocolate.

O estudo comandado pela organização sem fins lucrativos Climate Central, divulgado na edição de março da revista Science Direct, mostrou que essa tendência foi maior na Costa do Marfim e Gana. Os países são os maiores produtores de cacau e registraram três semanas a mais de temperaturas acima de 32º C entre outubro e março, a principal estação de cultivo.

Produção de cacau e clima

Para entender melhor a relação entre a produção de cacau e o clima, os pesquisadores utilizaram dados observacionais de 44 áreas produtoras na África Ocidental. Usando modelos de computador, eles compararam as temperaturas atuais com um cenário fictício de um mundo sem alterações desencadeadas por mudanças climáticas.

Os pesquisadores analisaram as possibilidades de as regiões estudadas enfrentarem temperaturas acima dos 32º C por longos períodos, um clima mais quente do que os produtores de cacau consideram ideal para o cultivo da fruta.

O relatório mostrou que, na última década, as mudanças climáticas adicionaram três semanas de altas temperaturas na melhor época de colheita em Gana e na Costa do Marfim. Em 2024, ano mais quente já registrado no mundo, as temperaturas ultrapassaram os 32º C pelo menos 42 dias, em dois terços das áreas analisadas.

Não é apenas o calor que está prejudicando os cacaueiros e aumentando o preço do chocolate e derivados. O relatório observou que há outros motivos por trás disso, como: infestação de cochonilhas, padrões de chuva, contrabando e mineração ilegal.

Foto colorida - Mesa repleta de chocolates
O chocolate é um dos doces mais populares em todo o mundo

Impactos a produção no Brasil

No segundo estudo, pesquisadores da Universidade de Oxford, em parceria com instituições do Brasil, China e Alemanha, analisaram os impactos das mudanças climáticas na produção de cacau em três grandes países produtores: Brasil, Gana e Indonésia. Juntos, eles respondem por 33% do cultivo global da fruta.

Os cientistas queriam saber os principais fatores que influenciam os rendimentos do cacau. Eles descobriram que os locais onde as temperaturas eram até 7 °C mais quentes tinham de 20 a 31% menos rendimento da fruta.

Por outro lado, o aumento das taxas de polinização acima dos níveis atuais pode elevar os rendimentos em 20%. Isso demonstra que a polinização está ocorrendo de forma insuficiente para produzir o rendimento máximo possível para muitas plantações de cacau.

“O cacau é polinizado por pequenos insetos, como mosquitos e tripes (Thysanoptera), e é uma grande surpresa que, na maioria das vezes, simplesmente não haja polinização suficiente para produzir a safra de cacau possível”, escreveu o coautor do estudo, Acheampong Atta-Boateng, em comunicado à imprensa.

Práticas sustentáveis são a solução

Os cientistas recomendam algumas estratégias para dar suporte à produção sustentável de cacau e aumentar a polinização novamente. As medidas melhorariam a saúde do solo e tornariam as plantações mais resistentes às mudanças climáticas, como:

  • Manter a serapilheira;
  • Preservar a matéria orgânica do solo;
  • Fornecer sombra moderada;
  • Reduzir o uso de produtos químicos agrícolas.

“Essas práticas não apenas aumentam a abundância de polinizadores, mas também ajudam a regular as temperaturas das plantações e a melhorar a saúde do solo, garantindo a resiliência das plantações a longo prazo”, afirmam os pesquisadores.

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