“Nunca fomos embora”: O legado artístico do movimento Casa Velha em Novo Hamburgo resiste ao tempo

A arte tem um nome emblemático em Novo Hamburgo: Marciano Schmitz. Aos 71 anos, o hamburguense que se define como pintor e desenhista – uma vez que artes plásticas são uma definição muito ampla – defende a continuidade do discurso do movimento Casa Velha, que deixou uma marca indestrutível ao longo de seus 48 anos de história.

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Marciano Schmitz, artista, escultor e pintor  | abc+



Marciano Schmitz, artista, escultor e pintor

Foto: Susi Mello/GES-Especial

“O discurso da Casa era a fixação dos artistas em seu local de domínio e, por isso, nunca fomos embora de nosso lugar de origem. O ponto sempre foi fazer arte identificada com a nossa região”, conta Marciano. A Casa Velha buscava fortalecer a identidade artística, evitando que os talentos da região precisassem buscar reconhecimento fora.

Entre 1977 e 1979, o artista e Carlos Alberto de Oliveira, o Carlão (falecido em 2013) e Flávio Scholles (que morreu em 2024) se empenharam em disseminar a importância das exposições, de palestras culturais, apresentações, além de realizarem monumentos, concederem entrevistas e visitarem escolas, sempre com o objetivo de tornar a arte acessível a todos.

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Seu desejo é que as pessoas vejam a arte em suas várias manifestações. “Gostaria que fosse um processo mais contemplativo, como já foi. Eu estava falando do passado e quando a gente diz assim, ‘ah não pensa no passado’, a gente não existe. O futuro ninguém sabe. A única certeza do futuro é a morte. É só isso que se sabe. Agora, nós fomos construindo o nosso alicerce baseado em histórias. Afinal de contas, todos nós temos histórias. Então, o passado não é ruim. Existem momentos bons, momentos ruins, como toda a história universal, que teve momentos incríveis”, analisa.

História

Ao ser questionado sobre a forma de marcar a história do movimento, que completará 50 anos em 2027, Marciano admite que ainda não havia pensado em uma forma de eternizar a data. No entanto, confessa que aprecia a provocação. “Foi bom até tu aventar essa hipótese, né?”, disse à reportagem. Ele recorda que quando a Casa Velha completou 30 e 40 anos eventos foram realizados. “Dá para se criar uma tradição de 10 em 10 anos, né? Basta ter gás, como diz o outro”, comenta, entusiasmado com a ideia.

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Residente no Centro de Novo Hamburgo, em uma casa rodeada de muito verde e arte, Marciano reforça a importância da coragem em situações que são assumidas pelo artista. “A arte é uma dessas provas. Uma das virtudes da arte é, além da criatividade, ter coragem. Esse seria o ponto fundamental. O resto vem com o tempo”, sentencia.

Surrealismo e pintura metafísica marcam a obra

Marciano explica que o movimento Casa Velha é resultado de um outro iniciado três anos antes. Em 1974, ele e o também artista hamburguense Tito Oliveira, que vive atualmente em Santa Catarina, criaram o Movimento Cavalo Azul. O nome, dado por conta de uma das obras de Marciano, defendia a forma de encarar a arte como discurso e não somente como um objeto decorativo. “Sempre lutamos contra isso”, conta.

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A Casa Velha, que teve uma sede no bairro Hamburgo Velho, nas proximidades da Igreja dos Três Reis Magos, surgiu em 1977. “O Flávio (Scholles), natural de Santa Maria do Herval, veio de Campinas (SP) para Novo Hamburgo. Vi os trabalhos dele e comecei a me relacionar”, lembra Marciano, que já conhecia Carlão (de Oliveira) dos bancos do Instituto de Belas Artes, curso que posteriormente foi transformado em graduação na Universidade Feevale.

“A Casa Velha durou como movimento e se prolongou, embora o Flávio tenha ido embora e eu e Carlão também saímos. Porém, veio uma geração nova, como por exemplo, com Ariadne (Decker), jovens da época que depois também partiram para seguir sua vida profissional. Mas a Casa Velha frutificou muito. Eu acho que a cultura deve muito a ela”, relembra.

Marciano Schmitz,  Flavio Scholles (in memoriam) e Carlos Alberto de Oliveira (in memoriam), fundadores do movimento Casa Velha | abc+



Marciano Schmitz, Flavio Scholles (in memoriam) e Carlos Alberto de Oliveira (in memoriam), fundadores do movimento Casa Velha

Foto: Guto Maahs/Divulgação

“Eu sempre fui louco por surrealismo e pintura metafísica e apaixonado pela obra de Dalí (o pintor espanhol Salvador Dalí). Foi um momento muito especial quando eu conheci mestres e vi que a arte não era só pintar uma casinha, muito menos um vaso de flores, não que seja proibido, não é proibido, mas assim com aquela conotação tão formal”, relata.

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Os fundadores da Casa Velha

• Marciano Schmitz: Sua arte está profundamente enraizada em Novo Hamburgo. Basta visitar o Parque Floresta Imperial para contemplar o Monumento à Bíblia ou, ao passar pelo Centro, deparar-se com as esculturas na fachada do Centro Municipal de Cultura e, entre tantas outras, há pinturas na Catedral São Luiz.

• Carlos Alberto de Oliveira, Carlão: Reconhecido pelo seu estilo naïf (arte ingênua), suas obras chamam atenção pelas pinturas de cores fortes, onde as temáticas de cunho social atraem. Ele foi coordenador do Museu do Calçado na década de 80. A Escola Municipal de Artes, no Centro de Novo Hamburgo, leva seu nome, e no Espaço Albano Hartz, no Calçadão, há um memorial em sua homenagem, onde é possível ver suas obras.

• Flávio Scholles: Foi ele quem criou o Monumento ao Sapateiro, na rótula em frente ao Colégio Pio XII. Tem mais de 10 mil telas distribuídas pelo mundo, onde criava de seu ateliê localizado em São José do Herval, em Morro Reuter.

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