Estudo associa alto consumo de manteiga a maior risco de morte precoce

Um estudo recente desenvolvido pela Universidade de Harvard e pelo Mass General Brigham descobriu que indivíduos que consumiam mais manteiga tinham um risco 15% maior de morte precoce em comparação aos que ingeriam o alimento com moderação. Já pessoas que optavam por óleos vegetais tinham um risco 16% menor de mortalidade.

A pesquisa examinou dados de três estudos principais: Nurses’ Health Study, o Nurses’ Health Study II e o Health Professionals Follow-Up Study. Os cientistas rastrearam o consumo de manteiga de mais de 220 mil americanos — incluindo o uso do ingrediente para cozinhar ou espalhar em outros alimentos —, além da ingestão de óleos vegetais como azeite de oliva, soja, canola, milho e cártamo.

Os estudiosos coletaram as informações ao longo de 33 anos por meio de pesquisas alimentares a cada quatro anos. A partir disso, calcularam médias para obter um cenário mais claro dos hábitos alimentares.

Fatia de pão com manteiga no topo - Metrópoles
Estudo associa alto consumo de manteiga a maior risco de morte precoce

Ao longo do estudo, houve 50.932 mortes, sendo 12.241 de câncer e 11.240 de doença cardíaca. Os cientistas ajustaram variáveis ​​como idade, atividade física, peso, consumo de álcool e tabagismo, o que demonstrou uma tendência distinta.

Embora os resultados tenham indicado que a maior ingestão de manteiga esteve associada a maiores taxas de mortalidade (e o maior consumo de óleos vegetais foi vinculado a menores taxas de mortalidade), nem todos os óleos vegetais tiveram o mesmo efeito, pois opções como milho e cártamo não mostraram benefícios significativos.

Mesmo assim, descobriu-se que elevar a ingestão de óleo vegetal em cerca de duas colheres de sopa por dia está relacionado a uma redução de 11% no risco de morte por câncer e de 6% no risco de morte por doença cardíaca.

Porção de manteiga com faca ao lado - Metrópoles
Pessoas que optavam por óleos vegetais tinham um risco 16% menor de mortalidade

Resumindo, os pesquisadores relatam que substituir três pequenas porções de manteiga (aproximadamente 15 gramas) por uma colher de sopa de óleo vegetal (aproximadamente 15 gramas) na dieta diária pode contribuir para reduzir o risco de mortalidade prematura.

As descobertas, entretanto, não significam que o consumo do alimento deva ser suspendido completamente. Segundo a análise, manteiga usada para assar ou fritar não estava veementemente ligada ao risco de mortalidade, visto que, no geral, ela é usada em quantidades menores ou com menos frequência.

Opinião médica

De acordo com Gabriel Resende, médico pós-graduado em nutrologia, medicina do esporte e nutrição esportiva, a manteiga é um alimento rico em gorduras saturadas. E, embora o papel dessas gorduras tenha sido reavaliado ao longo dos anos, ainda há evidências de que o consumo elevado, principalmente dentro de um padrão alimentar inflamatório ou desequilibrado, pode impactar negativamente a saúde do coração.

“Além disso, a manteiga pode contribuir para o aumento do colesterol LDL, o ‘ruim’, em algumas pessoas, especialmente quando consumida em grandes quantidades e fora de um contexto de alimentação saudável como um todo”, pontua.

O profissional ressalta que nem todas as gorduras são iguais. As insaturadas (encontradas no azeite, no abacate, nas nozes, sementes e peixes gordurosos) estão associadas à redução do risco cardiovascular. Já as saturadas, como as da manteiga, carnes vermelhas e laticínios integrais, apresentam uma relação mais complexa. “Em excesso e dependendo do contexto alimentar, podem contribuir para aumento de marcadores de risco cardiovascular, como LDL elevado e inflamação sistêmica”, afirma.

Jovem mulher branca passando manteiga em pão de forma - Metrópoles
A manteiga é um alimento rico em gorduras saturadas

“O que realmente importa é o padrão alimentar como um todo. Trocar manteiga por azeite de oliva, por exemplo, está consistentemente ligado a desfechos melhores para o coração. Esse foi justamente um dos pontos principais do estudo publicado no JAMA Internal Medicine”

Gabriel Resende, médico pós-graduado em nutrologia, medicina do esporte e nutrição esportiva

Na concepção do especialista, a pesquisa desenvolvida pela Universidade de Harvard e pelo Mass General Brigham é robusta e bem conduzida. Ainda, embora não seja experimental (é observacional), ela reforça um corpo crescente de evidências que apontam para os benefícios de priorizar gorduras insaturadas na dieta.

“É claro que sempre há espaço para mais pesquisas, principalmente ensaios clínicos randomizados que avaliem desfechos duros. Mas, com os dados que temos hoje, já é possível recomendar com segurança a substituição de gorduras saturadas por insaturadas como uma medida positiva para a saúde do coração”, diz o médico.

Resende também destaca que essa substituição deve ser individualizada de acordo com o recordatório e diário alimentar de cada pessoa. Ele frisa que não se deve generalizar para o público como um todo, “isso porque existem peculiaridades à parte, como o histórico de exercício”.

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