Lobista “02” articulava desvios de emendas para hospital no RS, diz PF

A Polícia Federal (PF) segue investigando o esquema de desvios de emendas parlamentares destinadas a um hospital no Rio Grande do Sul, operado por um núcleo especial de seis pessoas. Entre os envolvidos, um lobista atuava como “fiscalizador” e intermediário na captação dos contratos fraudulentos.

É o que revelam as investigações da PF. Além dos contratos de 6% que o Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul, pagava a operadores para obter emendas parlamentares — conforme revelado pelo Metrópoles na coluna Fábio Serapião —, um lobista também exercia papel de supervisor no esquema envolvendo repasses do deputado Afonso Motta (PDT-RS).

Agnaldo Machado Ferreira, o “02”, foi alvo de dois mandados de busca e apreensão em sua residência e estabelecimento comercial, em Lajeado (RS). Em mensagens apreendidas pela PF, ele chegou a enviar, em dezembro de 2023, um esboço de contrato prevendo o pagamento de uma “comissão” sobre os valores captados por meio das emendas.

As investigações apontam que Ferreira também esteve envolvido na liberação de um repasse de R$ 304,3 mil ao hospital, antes mesmo da assinatura do contrato. A operação, inclusive, gerou desentendimentos entre ele e outros integrantes do núcleo criminoso.

Os valores da comissão de 6% eram pagos à empresa do lobista Cliver Fiegenbaum, dono da CAF Representação e Intermediação de Negócios, que prestava serviços ao hospital desde dezembro de 2022. Ele também foi alvo da operação Emendafast, da PF.

Troca de beneficiários

A PF identificou, em mensagens trocadas entre os investigados, que Ferreira participou ativamente da troca de beneficiários das emendas parlamentares. O que chamou a atenção dos investigadores foi que ele intermediava os contratos mesmo sem ter qualquer vínculo formal com o hospital.

Nos dias 28 e 29 de novembro de 2023, documentos assinados pelo deputado Afonso Motta alteraram os destinatários dos repasses, favorecendo o Hospital Ana Nery. Em um dos casos, R$ 200 mil foram retirados do Fundo Municipal de Saúde de São Miguel das Missões (RS) e redirecionados ao hospital investigado. O grupo era responsável pela mudança de destinação.

O lobista também foi acionado para tratar de uma proposta articulada por Lino Rogério da Silva Furtado, ex-assessor do deputado, no valor de R$ 300 mil, destinada ao Centro de Referência de Saúde do Trabalhador.

Ao perceber que os recursos não seriam destinados ao Hospital Ana Nery, Ferreira articulou para que a proposta fosse cancelada.

Valores envolvidos

Ao todo, o grupo criminoso direcionou R$ 1 milhão do deputado Afonso Motta ao hospital gaúcho. A PF apura o envolvimento de Ferreira em pelo menos dois repasses.

O último, de R$ 670 mil, feito em dezembro de 2023, ainda não teve o papel dele esclarecido pela investigação, mas os policiais mapearam um ofício encaminhado a Ferreira onde cita a destinação dos recursos ao hospital.

O deputado não foi alvo da operação porque, ao que tudo indica, não é investigado. Ele negou participação e demitiu o assessor responsável pelas emendas fraudulentas.

A reportagem não conseguiu contato com nenhum dos citados.

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