14,25% – a taxa do impeachment

Por Ricardo Sayeg*

Ricardo Sayeg, jornalista, Jurista Imortal da Academia Brasiliense de Direito e da Academia Paulista de DireitoReprodução

Em 19 de março de 2025, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central do Brasil aumentou a taxa Selic em um (1) ponto percentual, elevando-a de 13,25% para 14,25% ao ano. Essa é a quinta alta consecutiva, colocando a taxa no maior nível desde 2016.

O próprio COPOM indicou que, caso o cenário evolua conforme o esperado, poderá realizar novos ajustes nas próximas reuniões. Economistas projetam que a Selic possa atingir 14,75% em maio e 15% em junho.

Ora, só não enxerga quem não quer: nossa economia está gravemente doente. Essa taxa exorbitante de juros básicos, de 14,25% ao ano, é reflexo dessa triste realidade. Um “remédio” amargo, cuja super dosagem é mortal.

Juros tão altos encarecem drasticamente a dívida interna, gerando impacto de R$ 48 bilhões para cada ponto percentual de juros adicionado, atentando contra o equilíbrio fiscal. O país pode quebrar.

Tentar compensar isso com aumento de tributos significa confiscar o patrimônio da população produtiva — gente que, com esforço e fé em Deus, conseguiu guardar alguma coisa.

A narrativa governamental, para encobrir a incompetência fiscal, de chamar de “super ricos” quem ganha mais de R$ 50 mil por mês — cerca de US$ 8 mil — para cobrar ainda mais impostos é ofensiva. Claro discurso de ódio e divisionista, que tenta colocar os mais pobres contra aqueles que têm uma situação tranquila. Atacando ao invés de exaltar o sucesso profissional. Lamentável.

Todos os brasileiros têm direito à prosperidade!

Além disso, os juros estratosféricos sufocam o consumo e os negócios, porque encarecem o crédito e reduzem o capital disponível para empresas e famílias.

Os impactos negativos são duros e imediatos: os financiamentos, empréstimos e compras parceladas ficam mais caros, tornando o crédito inacessível; o consumo de bens duráveis (carros, imóveis, eletrodomésticos) despenca; até a comida, a luz elétrica e a gasolina ficam mais caras; as dívidas antigas disparam e se tornam impagáveis; o endividamento e a inadimplência se agravam.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC, 76,1% das famílias brasileiras estão endividadas.

Não há dúvida: juros elevados são tóxicos. A economia desacelera, o consumo encolhe, os empregos somem e a arrecadação desaba. Varejo, construção civil, indústria… todos sofrem.

Esse quadro só beneficia os especuladores do mercado financeiro, enquanto arruína o setor produtivo.

Pior ainda: o BNDES, instituição pública de fomento, está traindo sua missão. Cobra CDI até de empresas em recuperação judicial — o que fere a Súmula 176 do STJ. E a dívida cubana, garantida por charutos, a quantas anda? Ninguém fala dela, enquanto as empresas nacionais são abandonadas.

É simples entender esse desastre econômico: enquanto o Brasil sobe sua taxa básica de juros para 14,25% ao ano, as principais economias do mundo mantêm políticas mais acomodatícias para preservar sua riqueza. Eles ficam mais ricos, e nós, brasileiros, mais pobres.

Veja: nos Estados Unidos: taxa básica entre 4,25% e 4,50% ao ano; na Zona do Euro: o BCE reduziu a taxa de juros a 2,5% e deixou porta aberta para novos cortes; e, na China: LPR em 3,1% (1 ano) e 3,6% (5 anos).

A situação brasileira é crítica. Essa política fiscal e monetária está dragando nossa riqueza nacional. E, se coincidências não existem, vale lembrar: essa mesma taxa de 14,25% era a taxa básica vigente no impeachment de Dilma Rousseff — cuja gestão foi, sob o ponto de vista econômico, uma das mais ineptas da história.

Se ela não tivesse sido “impeachada”, o Brasil estaria hoje mais arruinado do que a Venezuela. Santo Temer! Salvador do Brasil!

É de bom senso aprender com os erros do passado, especialmente no cenário atual, que nos remete diretamente a 2016 — o ano da taxa de juros do impeachment.

Recordar é resistir. Entre julho de 2015 e outubro de 2016, a Selic ficou em 14,25% ao ano. Resultado: uma recessão profunda e devastadora, culminando no afastamento de Dilma em 31 de agosto de 2016.

O PIB brasileiro caiu 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016 — uma retração acumulada de 6,6%, o que representou uma perda de R$ 381,3 bilhões em valores absolutos. Ficamos todos mais pobres. Muita gente sofreu.

Foi um dos piores biênios da história econômica nacional, com impacto direto sobre emprego, renda e investimento.

A retórica oficial era a mesma de hoje: manter juros altos para conter a inflação. Em vez de fazer gestão eficiente e cortar gastos, como vem fazendo Javier Milei na Argentina — que, aliás, anunciou recentemente uma queda de quase 10 vezes na inflação local.

E não esqueçamos: nosso governo revogou a Emenda Constitucional do Teto de Gastos, soltando o Dragão da Dívida Pública para voar livre e cuspir fogo contra a estabilidade fiscal brasileira.

A verdade é que, como já vimos em 2016, juros exorbitantes destroem o consumo, esmagam o setor produtivo e mergulham o país na recessão.

Durante aquela recessão: mais de 4,6 milhões de brasileiros adentraram a extrema pobreza entre 2014 e 2017. A taxa de pobreza cresceu de 22,8% em 2014 para 23.8% em 2016, sendo que a taxa de pobreza extrema cresceu de 5,6% para 7,7% entre 2014 e 2017.

Em 2016, a parcela de 25,7% da população estava em status de pobreza, um em cada quatro brasileiros. Em números absolutos, esse contingente alcançou a marca brutal de 54,8 milhões de pessoas na pobreza.

Em 2016, o número de brasileiros com renda inferior a US$ 1,90 por dia (padrão internacional de pobreza extrema), conforme o Banco Mundial, correspondeu a 6,6% da população do país em 2016, Em números absolutos significa 13,5 milhões de brasileiros.

Inegável, milhões foram jogados para o inferno da miséria, agravando a fome, a dor, a doença e a morte dos mais vulneráveis.

E que não digam que é “mimimi”. Só minimiza a miséria quem nunca passou por ela. Aliás, com o preço dos alimentos inflacionado, é impossível não lembrar do Holodomor — o histórico genocídio da fome promovido por Stálin na Ucrânia, que matou ao menos 3,5 milhões de pessoas. Uma tragédia silenciosa e sombria que destruiu vidas e deixou cicatrizes profundas.

Concluindo: a política fiscal e econômica nacional vai muito mal. E o Brasil precisa reagir!

*Ricardo Sayeg – Jornalista. Jurista Imortal da Academia Brasiliense de Direito e da Academia Paulista de Direito. Professor Livre-Docente da PUC-SP. Doutor e Mestre em Direito. Presidente da Comissão Nacional Cristã de Direitos Humanos do FENASP. Comandante dos Cavaleiros Templários do Real Arco Guardiões do Graal.

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