ETFs à vista de memecoins: tokenização do absurdo com seriedade de Wall Street?

O mercado financeiro dos EUA vive um novo capítulo na sua relação com as criptomoedas. A regulação da indústria, sob administração de Donald Trump, passa por um momento transitório de cautela para “aprova e veremos no que pode dar”. Alguns dizem ser tão permissivo, que abriu até portas para ETFs à vista de memecoins em Wall Street.

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Ainda mais após a histórica aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista em janeiro de 2024, as gestoras de ativos estão agora mirando ativos menos convencionais, e esperam que a nova direção da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) as apoie. Por isso, entre os diversos pedidos, as chamadas memecoins ganham destaque.

Pedidos recentes protocolados junto à SEC incluem desde o popular Dogecoin (DOGE) até tokens mais nichados como $PENGU, inspirado nos NFTs Pudgy Penguins. A movimentação divide opiniões: seria essa expansão um sinal de amadurecimento ou um risco de descredibilização do setor?

Os pedidos: de XRP a memecoins

O novo ciclo de ETFs à vista não se limita aos criptoativos de maior capitalização de mercado como Bitcoin e Ethereum, mas também inclui memecoins e outras criptomoedas. Entre os destaques está o XRP, associado à Ripple, com pedidos de nove gestoras. As gestoras que fizeram o pedido foram a Grayscale, Bitwise, Franklin Templeton e WisdomTree.

Já o Dogecoin, nascido como piada em 2013, foi incluído em pedidos da Grayscale e Rex Shares. Enquanto a Canary Capital protocolou um pedido para um ETF baseado no token $PENGU, da coleção NFT Pudgy Penguins, em 20 de março de 2025.

Além disso, a Rex Shares solicitou ETFs com foco em BONK e até o polêmico TRUMP, memecoin vinculado ao ex-presidente Donald Trump, que hoje ocupa a Casa Branca. A SEC adiou a decisão sobre esses pedidos para maio de 2025, aumentando a expectativa sobre os rumos da regulação sob a atual administração.

Um reflexo da “regulação amigável” do governo Trump?

O contexto político é crucial. Desde seu retorno à presidência, Donald Trump adotou uma postura pró-cripto, nomeando figuras como Hester Peirce para cargos influentes na SEC e defendendo uma abordagem mais aberta ao mercado digital.

Para Fabrício Tota, diretor de novos negócios do MB, o movimento das gestoras pode sim ser um “stress test” dessa regulação mais amigável.

“O governo Trump sinalizou uma postura muito mais tolerante. Esses pedidos podem ser lidos como um teste de limites, uma espécie de ‘vamos ver até onde vai essa flexibilidade’”, afirmou.

Quem também compartilha dessa análise é André Franco, fundador do Crypto Boost. Ele vê os pedidos como um possível “risco de cauda” em um ambiente onde até mesmo uma memecoin presidencial foi lançada.

“Acho que muita coisa vai acabar sendo aprovada simplesmente pela postura que estamos vendo na SEC. Especialmente com declarações como as da Hester Peirce, que defende deixar o mercado decidir”, destacou. Hester Pierce é liderança da força-tarefa da SEC para discutir sobre o mercado cripto nos EUA.

Credibilidade em risco?

Apesar da ousadia, a questão central permanece: essas iniciativas prejudicam a credibilidade dos ETFs de cripto? Para Tota, a resposta é não. Ao menos não de forma estrutural.

O ecossistema está maduro o suficiente para diferenciar entre produtos sérios e apostas mais especulativas. A aprovação pode sim manchar a imagem de determinadas gestoras, mas não do mercado como um todo

”Dependendo da estratégia de branding e do público-alvo, pode até fazer sentido para ela, há um nicho específico que pode enxergar valor nisso. Mas, olhando de fora, não é exatamente uma marca positiva. Especialmente se essa gestora busca reputação institucional ou pretende atrair investidores com perfil mais conservador ou institucional”, complementou.

Bruna Cabús, sócia da 21Shares, também vê na variedade de ativos uma resposta à crescente sofisticação dos investidores.

“A introdução de novos ativos não descredibiliza o mercado, mas testa o apetite dos investidores. O essencial é garantir que esses ETFs sigam os mesmos padrões de due diligence e proteção ao investidor”, afirmou.

Cabús também discorda da ideia de que os pedidos seriam um teste político. Para ela, a aprovação dependerá da liquidez, maturidade de mercado e conformidade regulatória dos ativos, independentemente do ambiente político.

O paradoxo das memecoins: legítimas no cripto, mas problemáticas nos ETFs?

Na opinião de Tota, as memecoins detém de legitimidade dentro do ecossistema cripto, principalmente como reflexo da economia da atenção. Contudo, ele questiona sua inclusão em produtos financeiros tradicionais.

“ETFs carregam uma expectativa de racionalidade econômica. A maior parte das memecoins não oferece isso”, disse. “Dentro do cripto, tudo bem. Mas no mercado financeiro tradicional, ainda estão muito distantes do necessário.”

Apesar da controvérsia, analistas da Bloomberg estimam 65% de chance de aprovação para os ETFs de XRP, o mais avançado entre os novos pedidos. Quanto às memecoins, o cenário é mais nebuloso.

Para Bruna Cabús, a aprovação dependerá da capacidade de provar que esses ativos têm mercado suficiente, liquidez e mecanismos de governança confiáveis. “A exigência será maior do que foi com Bitcoin e Ethereum, mas não impossível”, completou.

Conclusão: o mercado decide?

A onda de ETFs à vista com memecoins testa os limites da convivência entre um mercado financeiro tradicional e o espírito irreverente do universo cripto.

Ainda que as aprovações possam gerar desconforto entre investidores mais conservadores, há quem defenda que a seleção natural virá do próprio mercado: se o produto for ruim, não terá adesão. Como disse André Franco, “se for aprovado e ninguém comprar, o produto morre sozinho”.

Resta saber se os reguladores irão permitir que o mercado assuma esse papel ou se haverá uma tentativa de traçar linhas claras sobre o que pode, e o que não pode, ser tokenizado e transformado em ETF. Até lá, seguimos assistindo a tokenização do absurdo com seriedade de Wall Street.

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