O que é Signal? Conheça o app onde cúpula de Trump vazou planos de guerra

O aplicativo de mensagens Signal, que autoridades do governo Trump usaram para discutir um ataque aos rebeldes Houthis no Iêmen, foi criado por um ex-anarquista para ajudar ativistas, jornalistas e outros a se comunicarem fora do alcance das agências de inteligência governamentais.

Lançado pelo criptógrafo americano Moxie Marlinspike em 2014, o Signal utiliza criptografia ponta a ponta robusta para garantir a privacidade dos usuários e não armazena informações sobre as mensagens que trafegam pelo app. Essas características aumentaram sua popularidade entre aqueles que buscam evitar vigilância estatal ou corporativa, consolidando a reputação do Signal como o aplicativo de mensagens mais seguro do mercado.

Autoridades governamentais também são conhecidas por usar o Signal para se comunicar entre si e, às vezes, enviar dicas de notícias a jornalistas. Mas mesmo com sua segurança avançada, o app permanece proibido para o intercâmbio de informações sensíveis ou classificadas por parte de autoridades dos EUA, conforme as regras do Departamento de Defesa.

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Essas restrições, no entanto, não impediram que altos funcionários do governo do presidente Donald Trump utilizassem o Signal para discutir planos de um ataque militar no Iêmen. Na segunda-feira, a revista Atlantic revelou que o secretário de Defesa Pete Hegseth, o vice-presidente JD Vance e o conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz participaram, no início do mês, de um grupo no Signal para discutir o ataque aos Houthis. O grupo veio à tona após um dos participantes adicionar por engano o editor da Atlantic, Jeffrey Goldberg.

As revelações sobre o vazamento e o uso de uma plataforma não autorizada para tratar de informações sensíveis causaram alvoroço em Washington. Nesta terça-feira, parlamentares dos EUA repreenderam o diretor da CIA, John Ratcliffe, e a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, pelo episódio.

Ratcliffe e Gabbard, que participaram do grupo no Signal, defenderam sua conduta e negaram que tenham tratado informações classificadas. Em seu artigo publicado na segunda-feira, Goldberg afirmou que Hegseth escreveu no grupo o plano de ataque com “informações precisas sobre pacotes de armamentos, alvos e cronograma.”

Oposição reagiu com indignação

Senadores como Mark Warner, o principal democrata no Comitê de Inteligência, expressaram indignação com o ocorrido. “É inacreditável para mim que todos esses altos funcionários estavam naquele grupo e ninguém se deu ao trabalho de checar, questão básica de segurança, quem são os nomes ali?”

“Se isso tivesse sido feito por um oficial militar ou de inteligência, esse comportamento teria levado à demissão imediata,” completou Warner.

O senador republicano Kevin Cramer, da Dakota do Norte, aliado de Trump, também criticou duramente o erro em entrevista a repórteres nesta terça-feira.

“Não sei se cabeças vão rolar ou precisam rolar, mas isso precisa ser a última vez que algo tão grande e estúpido acontece,” disse ele.

Cramer afirmou que usa o Signal para comunicações sensíveis, mas nunca para informações classificadas, e chamou o vazamento para um jornalista de “embaraçoso.”

“Espero que alguém assuma a responsabilidade por esse grande erro, se desculpe e diga que isso nunca mais vai acontecer,” disse. “É isso que adultos responsáveis fazem.”

Signal é seguro?

As medidas de segurança utilizadas pelo Signal e por outros aplicativos de mensagens não atendem aos padrões exigidos por agências de defesa e inteligência dos EUA para o manuseio de informações confidenciais, especialmente no caso de operações militares ou ações secretas. O governo dos EUA utiliza sistemas próprios, como o SIPRNET, uma rede usada para compartilhar segredos entre o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa.

As regras do Pentágono proíbem o uso de informações sensíveis em plataformas sociais como o Signal, com uma diretriz de outubro de 2023 que afirma que esses aplicativos “NÃO estão autorizados a acessar, transmitir ou processar informações não públicas do Departamento de Defesa. Isso inclui, mas não se limita a, aplicativos de mensagens, jogos e redes sociais (i.e., iMessage, WhatsApp, Signal).”

A polêmica trouxe o Signal novamente aos holofotes, um app de longa data associado a dissidentes e jornalistas investigativos. Com menos de 100 milhões de usuários ativos, o Signal ainda é pequeno se comparado ao WhatsApp, que tem 2 bilhões de usuários.

Um representante do Signal não respondeu imediatamente ao pedido de comentário.

De quem é o Signal?

Outro aspecto que torna o Signal atraente é que ele é operado por uma organização sem fins lucrativos, contando parcialmente com doações dos usuários, e se posiciona como uma alternativa a outros apps que coletam dados para fins publicitários e lucrativos.

Marlinspike, que deixou o cargo de CEO do Signal em 2022, também não respondeu a um e-mail solicitando comentários.

Em uma publicação na segunda-feira na rede X, Marlinspike ironizou: “Existem muitas boas razões para estar no Signal. Agora incluindo a oportunidade de ser adicionado aleatoriamente pelo vice-presidente dos Estados Unidos a um grupo de mensagens sobre coordenação de operações militares sensíveis. Não perca essa chance.”

© 2025 Bloomberg L.P.

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