Veja mensagens enviadas pelo governo Trump para repórter por engano

O editor-chefe da revista norte-americana The Atlantic, Jeffrey Goldberg, foi incluído em um grupo de conversas do governo Trump por engano e acabou recebendo mensagens ultrassecretas que anteciparam, inclusive, plano de guerras contra os rebeldes Houthis, no Iêmen. Em um artigo, publicado na própria revista, nessa segunda-feira (24/3), o repórter detalha algumas mensagens recebidas.

A princípio, Goldberg não acreditou que estava recebendo informações do alto escalão do governo — entre eles o secretário de Defesa, Pete Hegseth; o secretário de Estado, Marco Rubio; e até mesmo o vice-presidente, JD Vance —, mas, com o início dos ataques de porta-aviões dos EUA contra os Houthis, ele passou a acreditar no material.

Até mesmo porque ele soube cerca de duas horas antes das primeiras bombas caírem que o ataque estava chegando.


O que tinha nas mensagens

  • O texto de Goldberg relata críticas do vice-presidente, JD Vance, e do secretário de Defesa, Pete Hegseth, contra potências europeias aliadas dos EUA. “Eu apenas odeio salvar a Europa de novo”, escreveu Vance. “”Eu compartilho totalmente do seu desprezo pelos aproveitadores europeus. É patético”, concorda Hegseth, em resposta.
  • Em outra mensagem, durante um debate sobre um possível adiamento da operação militar no Iêmen, Hegseth escreveu: “Acho que a mensagem vai ser difícil de qualquer maneira — ninguém sabe quem são os Houthis — e é por isso que precisamos nos concentrar em: 1) Biden falhou e 2) O Irã financiou”, argumenta o secretário de Defesa dos EUA.
  • “De acordo com o longo texto de Hegseth, as primeiras detonações no Iêmen seriam sentidas duas horas depois, às 13h45, horário do leste. Então, esperei no meu carro no estacionamento de um supermercado. Se esse bate-papo do Signal fosse real, pensei, os alvos Houthi logo seriam bombardeados. Por volta das 13h55, marquei X e procurei Iêmen. Explosões estavam sendo ouvidas em Sanaa, a capital”, escreveu o jornalista.

Segundo a reportagem, a história toda começou em 11 de março, quando ele recebeu uma solicitação do aplicativo de mensagens Signal — app usado por pessoas que buscam mais privacidade nas conversas, como jornalistas — de um usuário identificado como Michael Waltz, assessor de Trump para assuntos de segurança. Mas ele não acreditou que o grupo era real, por achar que a Casa Branca usaria um canal mais seguro para compartilhar informações sensíveis.

Entretanto, foi só a partir de 14 de março que JD Vance e Pete Hegseth passaram a discutir assuntos sensíveis, entre eles um bombardeio ao território do Iêmen, de onde os Houthis têm lançado ataques para bloquear rotas marítimas no Mar Vermelho.

Em 15 de março, dia do ataque norte-americano ao grupo, o secretário de Defesa postou no grupo diversas informações sobre alvos e detalhes operacionais. Jeffrey Goldberg preferiu não divulgar essas mensagens porque “as informações contidas neles, se tivessem sido lidas por um adversário dos Estados Unidos, poderiam ter colocado em risco militares e pessoal de inteligência americanos, particularmente no Oriente Médio”.

Até então o jornalista não estava acreditando na veracidade das informações. Foi só no início da tarde de 15 de março que Goldberg teve certeza de que as mensagens vinham, de fato, do primeiro escalão do governo Trump, quando ele entrou na rede social X e checou o que estava sendo falado sobre o Iêmen e viu que bombardeios estavam sendo vistos na capital, Sanaa — no mesmo horário em que as mensagens de Hegseth apontavam como o início da operação.

O The Atlantic conseguiu confirmar que o grupo era real dias depois, após questionar o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

“A troca de mensagens que foi relatada parece ser autêntica, e estamos revisando como um número inadvertido foi adicionado ao grupo”, disse o porta-voz, Brian Hughes, em nota. “O tópico é uma demonstração da coordenação política profunda e ponderada entre autoridades sêniores. O sucesso contínuo da operação contra os Houthis demonstra que não houve ameaças aos nossos militares ou à nossa segurança nacional.”

De acordo com o repórter, o aplicativo Signal não é um canal autorizado pelo governo para o compartilhamento de informações sigilosas. A revista afirma, por fim, que  Michael Waltz e os integrantes do grupo podem ter violado diversas leis, incluindo a Lei de Espionagem de 1917, que pune quem coloca em risco as relações exteriores e informações sensíveis à segurança dos Estados Unidos.

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