Déficit zero é possível, mas depende de disciplina política e crescimento; entenda

A promessa do governo federal de zerar o déficit primário em 2025 pode estar mais próxima de um discurso político do que de uma meta técnica viável. É o que aponta o economista Hugo Garbe, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), ao analisar o cenário fiscal brasileiro atual.

O Brasil tem uma estrutura de gastos muito engessada, uma máquina pública cara, um Congresso fragmentado e uma base de arrecadação que depende de crescimento sustentado — algo que ainda não se concretizou”, afirma Garbe.

Segundo ele, o objetivo de déficit zero enfrenta obstáculos políticos e econômicos que tornam difícil acreditar na execução da meta nos moldes propostos pelo governo.

Déficit zero vs pressão política

Para Garbe, o desafio vai além da técnica fiscal. Ele ressalta que o Palácio do Planalto tem recorrido à liberação de emendas parlamentares como instrumento para garantir apoio no Congresso — uma estratégia que pressiona o orçamento federal e limita a margem de manobra para cortes de gastos.

As emendas parlamentares já ultrapassaram os R$ 50 bilhões. Antes de cumprir metas fiscais, o governo precisa cumprir acordos políticos”, afirma. Essa “conta da governabilidade” compromete a credibilidade da meta e indica, segundo ele, que o discurso fiscal pode estar dissociado da realidade política.

Crescimento limitado e arrecadação frágil

No campo econômico, o professor destaca a dificuldade de elevar a arrecadação sem crescimento robusto da economia. Propostas como a reoneração da folha de pagamentos ou a tributação de fundos exclusivos e offshores enfrentam resistências no Legislativo e questionamentos judiciais.

A capacidade de aumentar receita depende de medidas impopulares e de aprovação no Congresso. Sem isso, o governo fica com um plano fiscal sem sustentação prática”, alerta Garbe.

Riscos para a economia real

Caso o governo não consiga entregar o equilíbrio fiscal prometido, os impactos podem ser significativos, segundo o professor. Entre os riscos, estão a manutenção de juros altos por mais tempo, desvalorização do real, aumento da inflação e deterioração das expectativas econômicas.

O fracasso da meta fiscal pode gerar um efeito dominó: pressiona o crédito, inibe o consumo, afasta investimentos e compromete o crescimento”, analisa.

Ajuste precisa considerar responsabilidade social

Embora reconheça a importância do equilíbrio fiscal, Hugo Garbe defende que o ajuste deve levar em conta a realidade social brasileira. “Não se trata apenas de entregar um número. O país precisa de responsabilidade fiscal com responsabilidade social”, argumenta.

Ele reforça que zerar o déficit às custas de cortes indiscriminados ou sem planejamento pode aprofundar desigualdades e enfraquecer a confiança da população nas instituições.

Sem reformas, déficit zero é “peça de ficção política”

Por fim, Garbe afirma que, sem reformas estruturantes — como a revisão dos gastos obrigatórios, uma reforma tributária ampla e a modernização do setor público —, a meta de déficit zero tende a continuar no campo da retórica.

O discurso pode agradar o mercado no curto prazo, mas a viabilidade depende de ações concretas. O governo precisa decidir se está mais preocupado com a credibilidade ou com a viabilidade de suas metas”, conclui o professor.

O post Déficit zero é possível, mas depende de disciplina política e crescimento; entenda apareceu primeiro em BM&C NEWS.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.
 
 

Déficit zero é possível, mas depende de disciplina política e crescimento; entenda

A promessa do governo federal de zerar o déficit primário em 2025 pode estar mais próxima de um discurso político do que de uma meta técnica viável. É o que aponta o economista Hugo Garbe, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), ao analisar o cenário fiscal brasileiro atual.

O Brasil tem uma estrutura de gastos muito engessada, uma máquina pública cara, um Congresso fragmentado e uma base de arrecadação que depende de crescimento sustentado — algo que ainda não se concretizou”, afirma Garbe.

Segundo ele, o objetivo de déficit zero enfrenta obstáculos políticos e econômicos que tornam difícil acreditar na execução da meta nos moldes propostos pelo governo.

Déficit zero vs pressão política

Para Garbe, o desafio vai além da técnica fiscal. Ele ressalta que o Palácio do Planalto tem recorrido à liberação de emendas parlamentares como instrumento para garantir apoio no Congresso — uma estratégia que pressiona o orçamento federal e limita a margem de manobra para cortes de gastos.

As emendas parlamentares já ultrapassaram os R$ 50 bilhões. Antes de cumprir metas fiscais, o governo precisa cumprir acordos políticos”, afirma. Essa “conta da governabilidade” compromete a credibilidade da meta e indica, segundo ele, que o discurso fiscal pode estar dissociado da realidade política.

Crescimento limitado e arrecadação frágil

No campo econômico, o professor destaca a dificuldade de elevar a arrecadação sem crescimento robusto da economia. Propostas como a reoneração da folha de pagamentos ou a tributação de fundos exclusivos e offshores enfrentam resistências no Legislativo e questionamentos judiciais.

A capacidade de aumentar receita depende de medidas impopulares e de aprovação no Congresso. Sem isso, o governo fica com um plano fiscal sem sustentação prática”, alerta Garbe.

Riscos para a economia real

Caso o governo não consiga entregar o equilíbrio fiscal prometido, os impactos podem ser significativos, segundo o professor. Entre os riscos, estão a manutenção de juros altos por mais tempo, desvalorização do real, aumento da inflação e deterioração das expectativas econômicas.

O fracasso da meta fiscal pode gerar um efeito dominó: pressiona o crédito, inibe o consumo, afasta investimentos e compromete o crescimento”, analisa.

Ajuste precisa considerar responsabilidade social

Embora reconheça a importância do equilíbrio fiscal, Hugo Garbe defende que o ajuste deve levar em conta a realidade social brasileira. “Não se trata apenas de entregar um número. O país precisa de responsabilidade fiscal com responsabilidade social”, argumenta.

Ele reforça que zerar o déficit às custas de cortes indiscriminados ou sem planejamento pode aprofundar desigualdades e enfraquecer a confiança da população nas instituições.

Sem reformas, déficit zero é “peça de ficção política”

Por fim, Garbe afirma que, sem reformas estruturantes — como a revisão dos gastos obrigatórios, uma reforma tributária ampla e a modernização do setor público —, a meta de déficit zero tende a continuar no campo da retórica.

O discurso pode agradar o mercado no curto prazo, mas a viabilidade depende de ações concretas. O governo precisa decidir se está mais preocupado com a credibilidade ou com a viabilidade de suas metas”, conclui o professor.

O post Déficit zero é possível, mas depende de disciplina política e crescimento; entenda apareceu primeiro em BM&C NEWS.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.