Advogado de Lula em 2022 defende acusada por blitz da PRF na eleição

São Paulo — Em 2022, o advogado e ex-ministro da Justiça Eugenio Aragão (foto em destaque) pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que ordenasse a interrupção das blitz da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que impediam eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de votar no segundo turno. Caso a cúpula do órgão resistisse, o então advogado da campanha petista também requereu a prisão dos envolvidos.

Hoje, Aragão defende justamente uma acusada de participar da articulação das operações da PRF contra votos em Lula durante as eleições. Atualmente cliente, ela já foi duramente criticada pelo próprio advogado por sua atuação nos atos golpistas 8 de Janeiro de 2023 – pela qual hoje ela é acusada criminalmente.

Trata-se da delegada da Polícia Federal Marília Ferreira de Alencar, que foi diretora de Inteligência do Ministério da Justiça durante do governo de Jair Bolsonaro (PL). Ela é acusada pela Procuradoria-Geral da República de crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada e golpe de Estado.

Foi no celular de Marília que a Polícia Federal encontrou mensagens explícitas do uso da PRF para tentar barrar votos petistas. “[Em] Belford Roxo (RJ), o prefeito é vermelho. Precisa reforçar PF”. Em outras, disse: “pelotas foi 52×36 pro lula”, “202 mil habitantes”, “cara os caras tem que rodar essas bases”, “poa também foda”, “49×39 pro lula”.

Marília não esteve entre os 7 acusados que viraram réus quarta-feira (26/3) em julgamento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) por não fazer parte da cúpula do governo, como era o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e generais como Braga Netto.

No dia 27 de fevereiro, ela deu procuração para Eugenio Aragão defendê-la perante o STF. No dia 7 de março, o advogado apresentou sua defesa prévia contra a denúncia da PGR. Ele alega que a defesa de Marília tem sido cerceada porque não obteve acesso à perícia de celular da delegada e de outro investigado.

Na peça, também defendeu a rejeição da denúncia. Segundo Aragão, Marília “durante toda a sua ilibada trajetória profissional, seguiu à risca a missão precípua da Polícia Federal”.

“Não é à toa que a acusação contra a defendente por delitos “antidemocráticos” se mostra absolutamente temerária e equivocada, pois entra em total choque com os valores democráticos que sempre foram defendidos por Marília”, afirma o advogado.

A relação entre o advogado e sua atual cliente não foi sempre assim. Em janeiro de 2023, em entrevista ao Brasil 247, Aragão criticou a nomeação da delegada em um cargo na Secretaria de Segurança Pública (SSP) às vésperas do 8 de Janeiro.

“Essa delegada é casada com um delegado e ambos são bolsonaristas de carteirinha, inclusive com perfil de Facebook e tudo mais, estiveram nas manifestações pelo golpe contra a Dilma [Roussef]. Ele colocou essa senhora na Inteligência da SSP. É o cargo chave, onde fica antenado. E outra coisa. Tudo tinha sido combinado antes com o governador Ibaneis Rocha, que a Polícia Federal ficaria de prontidão, o Planalto seria fechado, mas muda o comando , tudo desaparece e não tem mais ninguém”, disse Aragão.

O detalhe é que Marília também é acusada de apoiar e ter conivência com os atos de 8 de Janeiro de 2023. Como Aragão mencionou, ela é casada com outro delegado e, de fato, foi a protestos ao lado do marido contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Além de ministro da Justiça no governo Dilma, Eugenio Aragão foi vice-procurador-geral da Eleitoral na gestão de Rodrigo Janot, que foi indicado por Lula ao cargo – e depois se notabilizou por ser o PGR na época do auge da Operação Lava Jato. Aragão deixou o MPF para virar advogado e é crítico da Lava Jato e de Janot.

O advogado Eugênio Aragão afirma que, após analisar o processo, está convencido de que Marília Alencar “tão somente cumpriu as atribuições como diretora de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF), não cometendo crime algum nessas funções”. Aragão ainda afirma que as “declarações feitas sobre a delegada foram de ordem política e não jurídica”.

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