Como saber se uma empresa está escondendo dívidas? Analista chama atenção para Ambev (ABEV3)

O analista financeiro Leandro Siqueira publicou um post no X que rapidamente chamou a atenção de investidores e entusiastas do mercado financeiro. Em sua análise, Siqueira levantou uma questão intrigante sobre a Ambev, uma das maiores empresas de bebidas do Brasil, e acusou a empresa de esconder dívidas.

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Com base em uma dica compartilhada durante uma aula, ele sugeriu um método simples para identificar possíveis inconsistências nos balanços financeiros de empresas. A avaliação baseia-se em dividir as despesas com juros reportadas na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) pela dívida bruta declarada.

Ou seja, a partir da remoção das despesas que a empresa declara que possue dos juros que afirma que paga, seria possível ver se a conta bate. Basicamente, a ideia é a mesma de quando o resultado de uma questão de física deu que “Maria tem 5 metros de altura”.

No caso da Ambev, o cálculo revelou uma taxa de juros implícita de 70% ao ano, um número que, segundo Siqueira, indica que “ou a empresa paga juros exorbitantes, ou as dívidas não estão sendo informadas corretamente no balanço”.

Este caso reacendeu o debate sobre transparência financeira e trouxe à tona a importância de ferramentas analíticas para investidores que desejam avaliar a saúde financeira de uma empresa.

O Método de Siqueira

Ele começa com a análise de dois documentos financeiros fundamentais: a DRE, que detalha as despesas com juros, e o balanço patrimonial, que lista a dívida bruta da empresa.

Dividindo o valor das despesas com juros pela dívida bruta, obtém-se uma taxa de juros implícita. Em condições normais, essa taxa deveria refletir as condições de mercado.

No Brasil, por exemplo, taxas de juros corporativos geralmente giram entre 10% e 20% ao ano, dependendo do risco e do contexto econômico. Um valor muito acima disso, como os 70% encontrados no caso da Ambev, pode ser um sinal de alerta.

Siqueira usou dados financeiros da Ambev para ilustrar sua análise. Em imagens compartilhadas no X, ele destacou que, em 2024, a Ambev reportou despesas financeiras de R$ 2,3 bilhões. Enquanto sua dívida bruta consolidada era de R$ 3,4 bilhões.

O cálculo resultou na taxa de 70% ao ano, um número que ele considera improvável, dado o porte e a credibilidade da empresa no mercado.

“Você ficará surpreso com quantas empresas escondem dívidas financeiras”, alertou Siqueira. Ele sugeriu que esse método pode ser aplicado a qualquer companhia listada em bolsa para identificar possíveis inconsistências.

Por que empresas escondem dívidas?

A prática de ocultar dívidas não é nova e pode ter várias motivações. Empresas frequentemente utilizam itens fora do balanço patrimonial (off-balance sheet, ou OBS) para manter certas obrigações fora de seus relatórios financeiros principais.

Esses itens, que podem incluir arrendamentos operacionais ou parcerias financeiras, muitas vezes aparecem apenas nas notas explicativas dos relatórios, tornando-os difíceis de rastrear. Ou seja, basta pensar em um pescador que comprou uma vara de pescar por R$100, alugou um barco por R$ 5 mil no dia e disse que gastou apenas R$ 100 para pescar por um dia inteiro.

Um exemplo histórico é o caso da Enron, que colapsou em 2001 após usar entidades fora do balanço para esconder dívidas e prejuízos. Assim, criando uma ilusão de saúde financeira.

Além do método de Siqueira, existem outras formas de avaliar se uma empresa está escondendo dívidas. Uma abordagem é analisar o fluxo de caixa.

Empresas com dívidas ocultas frequentemente apresentam discrepâncias entre o lucro reportado e o fluxo de caixa operacional, já que os pagamentos de juros e amortizações podem drenar o caixa sem aparecer claramente no balanço.

Em outras palavras, acontece quando o pescador vende seus peixes, pagar o aluguel do barco mas seu lucro não é condizente com que disse: que pagou somente pela vara de pesca.

Enquanto isso, a Ambev ainda não se pronunciou oficialmente sobre as alegações de Siqueira.

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