NH 65 ANOS: A Novo Hamburgo do início dos anos 60 era uma cidade em transição

Ao pensarmos nos 65 anos do Jornal NH, reflexões importantes nos vêm à cabeça: que Novo Hamburgo era aquela de 1960? O que ficou e o que desapareceu desde a primeira edição de nosso jornal focado no hiperlocalismo?

SAIBA MAIS: Jornal NH desta quinta vem com a reimpressão da primeira edição, de 19 de março de 1960

Primeiro embarque de calçados para o exterior foi no fim de 1960 e virou notícia no NH | abc+



Primeiro embarque de calçados para o exterior foi no fim de 1960 e virou notícia no NH

Foto: Reprodução Jornal NH

Em 1960, Novo Hamburgo era uma cidade com pouco mais de 53 mil habitantes, distribuídos pelo que conhecemos hoje por zona central da cidade e pelos bairros adjacentes, pontuados por pequenas chácaras e alguns aglomerados de casas.

Apesar de ser um número que representa apenas cerca de um quarto do total de habitantes que compõem atualmente o município – são 227,6 mil habitantes, segundo o IBGE –, a cidade havia passado por um crescimento impressionante na última década.

Dez anos antes, em 1950, tínhamos cerca de 30 mil pessoas vivendo na cidade. Em dez anos, o crescimento demográfico em Novo Hamburgo chegou à casa dos 82%, o que superava, por exemplo, os índices registrados na capital do Estado (62%) e no País (35%) durante o mesmo período. Assim, Novo Hamburgo crescia a olhos vistos, com mudanças significativas ocorrendo no cotidiano, numa velocidade até então nunca vista.

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A paisagem da época na cidade

Se em 1958 foi construído o Edifício Minuano, o “arranha-céu” pioneiro na área urbana na antiga Rua General Netto, hoje Calçadão Osvaldo Cruz, em 1960 já estava em obras na Rua Joaquim Nabuco o Charrua, marco no visual do Centro da cidade, que ainda era um lugar organizado na horizontal, com as torres das igrejas e as chaminés das fábricas dominando a paisagem.

Três cinemas garantiam acesso à cultura e diversão

O cinema era a grande pedida. Com ingressos acessíveis, havia na cidade três cinemas: o Aída, em Hamburgo Velho; o Saionara, na Rua Lima e Silva, e o Lumière, próximo ao edifício Minuano, no atual Calçadão.

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Inaugurado em 1953, o Lumière marcou a indústria cultural de todo o Rio Grande do Sul. Era a maior sala de cinema do interior gaúcho, contando com cerca de 1.800 assentos, o que deixa entrever a grande demanda pela sétima arte que existia entre o público hamburguense.

No andar superior do cinema estava localizado o Restaurante Majestic, frequentado pela elite hamburguense e palco de várias festas de debutantes, casamentos e eventos sociais. Nos sábados à tarde, as matinés ficavam lotadas de crianças que vinham assistir desenhos animados e filmes de cowboys americanos.

Na saúde, dois hospitais e o Samdu

No início dos anos 1960 Novo Hamburgo contava com o Hospital Operário Dona Darcy Vargas – hoje Hospital Municipal, fundado em 1947 – e o Hospital Regina. Para reforçar o atendimento à população, que só crescia, em agosto de 1960 foi implementado na cidade o Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência (Samdu), que possuía uma equipe de médicos e enfermeiros, além de uma ambulância e um jipe.

Ônibus e trem para andar por aí

Para se locomover, o ônibus era o principal meio de ligação entre o Centro e os bairros. Operados pelas empresas empresas Treis e São Jorge, partiam das Bancas levando muita gente. Para o Vale do Paranhana, Taquara ou Canela, o trem era a opção, com a possibilidade de pegar um “carro-motor”, uma espécie de ônibus sobre trilhos, que ia de forma expressa e bem mais rápida.

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Para Porto Alegre, além do trem, a empresa Central já havia iniciado seus trabalhos em 1960, só adquirindo depois do desmantelamento das ferrovias o monopólio que a consagraria como o único modal coletivo de transporte entre Novo Hamburgo e a região metropolitana até o retorno do trem, agora metrô, em 2012.

Cidade próspera, a Manchester brasileira

Na economia, Novo Hamburgo já possuía a fama de cidade rica, a “Manchester brasileira”, mesmo antes das exportações calçadistas. Entretanto, foram movimentos ocorridos em 1960 que deram impulso ao que viria a ser a explosão econômica que a cidade viveria nos anos seguintes.

Em abril, foi criada a Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos – à época AMVRS, depois Amvars e, desde 2023, Amvag, com a ampliação para os municípios do Vale Germânico – que, entre seus princípios, tinha a cooperação regional visando o “revigoramento dos municípios da região”.

Reimpressão da primeira edição do Jornal NH, de 19 de março de 1960 | abc+



Reimpressão da primeira edição do Jornal NH, de 19 de março de 1960

Foto: Igor Müller/GES-Especial

O primeiro embarque de calçados para o exterior

Em 1º de setembro, o NH noticiava o primeiro embarque de sapatos hamburguenses para o Paraguai, um passo importante no movimento de exportações que teria seu estopim definido no final daquele ano – com papel importante do jornal. No editorial da primeira edição o NH já anunciava que “dentro das nossas possibilidades” promoveria “nacional e, quem sabe, internacionalmente, nossa respeitável indústria”.

Em 2 de dezembro, uma comitiva de empresários liderada pelo deputado estadual hamburguense Seno Ludwig, que representava o governador Leonel Brizola, foi a Nova York para averiguar as reais condições para iniciar o comércio de sapatos para os Estados Unidos.

Em seu retorno, iniciou-se uma estruturação da produção local. O resultado foi o início da produção para exportação, que foi o principal esteio da economia industrial de Novo Hamburgo nas três décadas seguintes.

Crescimento desordenado da cidade

Nas periferias de Novo Hamburgo, a quantidade de novos moradores também tinha um crescimento exponencial. Se na década de 1950 tivemos empreendimentos como o condomínio do I.A.P.I. em frente ao Hospital Operário Dona Darcy Vargas – hoje Hospital Municipal – e os loteamentos Floresta Rondônia e Villa Santo Afonso, nos quais trabalhadores que já haviam conseguido uma posição no mercado de trabalho conseguiam financiar sua casa própria, o cenário que se constrói a partir de 1960 é um tanto diferente.

O ritmo da chegada de mais e mais famílias procurando espaço na chamada “Cidade Industrial” não teve a mesma velocidade das políticas de habitação. Em pouco tempo, áreas da região começaram a ser ocupadas por loteamentos irregulares, em que famílias de operários iam se instalando de forma improvisada enquanto se enquadravam no mercado de trabalho local.

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