Rali de ações no Brasil, turbulência nos EUA: o que aconteceu e movimento continuará?

Bolsa pregão def Ibovespa

O mês de março foi mais um mês turbulento para os mercados nos EUA, enquanto as ações brasileiras entregaram seu melhor desempenho mensal desde agosto de 2024, ressalta a equipe de estratégia da XP Investimentos em relatório.

Contudo, a questão continua: o movimento vai continuar?

Conforme apontam Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head do research da XP, e equipe, em relatório, o Brasil e outros mercados internacionais continuam se beneficiando da rotação para fora dos EUA, sendo assim “principalmente um fenômeno global”.

O Ibovespa encerrou março liderando os mercados globais, com alta de 6,1% em reais e 9,1% em dólares. Março foi mais um mês turbulento para os mercados nos EUA, com os principais índices americanos apresentando desempenho negativo (S&P 500, -5,8%; Nasdaq, -7,7%), diante da incerteza em relação à política econômica, preocupações com desaceleração da atividade e também fatores técnicos, como vendas forçadas por fundos quantitativos.

Em meio à diferença com forte alta no Brasil e queda nos EUA, dado o forte desempenho do Brasil no acumulado do ano, muitos investidores também começaram a questionar o que está por trás da alta.

Uma tese comum é de que os investidores estão começando a se posicionar para as eleições de 2026 e, por isso, comprando Brasil na expectativa de uma política econômica mais favorável.

“No entanto, os dados de fluxos de ETFs (fundos de índice) mostram pouco suporte para essa tese. Na verdade, os fluxos reforçam a visão de que esse movimento é majoritariamente global até o momento. Quase toda a entrada de recursos via ETFs no Brasil em 2025 veio de ETFs globais e focados em mercados emergentes, enquanto o EWZ (ETF da Bolsa brasileira) registrou saídas líquidas no ano”, avaliam os estrategistas da XP.

Na visão do Itaú BBA em relatório “Carta do Gestor”, no âmbito macroeconômico, revisões para baixo nas expectativas para inflação, taxa de juros e câmbio colaboram para o bom desempenho dos ativos de risco domésticos no mês.

Mas aponta que, ao mesmo tempo, as expectativas mais benignas para Brasil são, em sua maior parte, uma consequência de curto prazo do avanço do protecionismo nos Estados Unidos (o que poderia parecer contraditório num primeiro momento).

Em síntese, maiores tarifas de importação devem pressionar a inflação norte-americana, levando a uma desvalorização do dólar – o que, por sua vez, reduz as perspectivas de inflação (e juros) no Brasil, avalia o banco.

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“Desde que Donald Trump foi reeleito presidente da maior potência econômica do planeta, em novembro do ano passado, o mercado vem reagindo ao sabor das sinalizações acerca da política de importação a ser implementada. As novas tarifas serão mais ou menos agressivas? Este tem sido o tema mais discutido entre os investidores”, avalia o BBA.

De maneira geral, a equipe de análise aponta que a regra é: quando o mercado entende que as tarifas serão mais altas e abrangentes, aumentam as preocupações com a inflação nos EUA.

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No sentido oposto, indícios de que as tarifas serão mais brandas tendem a conduzir os investidores para expectativas mais benignas para a economia americana.

Neste âmbito, o mercado aguarda agora a próxima quarta-feira, dia 2 de abril, quando o governo Trump promete anunciar uma ampla lista de impostos sobre importação para uma série de países, o que eleva os riscos de uma nova rodada de tensões comerciais globais.

“Ao longo de março, vimos o mercado atribuir maior probabilidade a um cenário em que as tarifas a serem adotadas pela administração Trump serão mais duras do que se esperava no mês anterior. Consequentemente, cresceram as preocupações em relação ao processo de desinflação dos Estados Unidos. Assim, o dólar se desvalorizou diante da maior parte das moedas globais (inclusive, para nosso alívio, do real)”, reforça a carta.

O time macro do Itaú BBA revisou o cenário-base e enxerga como mais provável uma alta de 10 pontos percentuais (pp) na média das tarifas de importação, acima dos + 4 pp projetados anteriormente. Além disso, espera que as taxas impostas aos produtos chineses sejam de 20% e, aos carros europeus, de 25%.

Com isso, a expectativa de inflação ao consumidor americano foi revisada de 3,0% para 3,3%, e a de câmbio (US$/EUR) passou de 1,00 para 1,08. No Brasil, o câmbio mais comportado levou o mercado a uma percepção ligeiramente mais favorável sobre a inflação local, fazendo com que a curva de juros fechasse durante o mês de março.

Neste sentido, o time Macro do Itaú revisou para baixo a projeção de câmbio para o fim de 2025 (de R$ 5,90 para R$ 5,75), reduziu a expectativa para o IPCA de 2025 (de 5,80% para 5,70%) e espera que a taxa Selic encerre o ano em 15,25% a.a., ante os 15,75% previstos anteriormente.

“Em resumo, a expectativa de uma postura mais protecionista por parte dos EUA levou a um fechamento da curva de juros que, por sua vez, impulsionou a Bolsa. Em relação exclusivamente ao cenário brasileiro, a principal fonte de preocupação dos investidores – tanto dos locais, quanto dos estrangeiros – continua sendo a situação das contas públicas”, avalia o BBA.

Adicionalmente, o mercado de trabalho apertado (com taxa de desemprego em 6,5%) e o recém-aprovado programa de crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada do setor privado representam fatores de alta para a inflação, podendo exercer pressão no sentido de juros mais altos e, consequentemente, impactar negativamente o preço das ações.

Olhando para a Bolsa, a XP manteve o preço-alvo para o Ibovespa em 145 mil pontos ao final de 2025. “Apesar da alta no ano, seguimos vendo o Brasil negociando a múltiplos atrativos, com P/L (múltiplo de preço sobre lucro) para 2025 em 7,3 vezes”, avaliam os estrategistas, vendo espaço para melhora adicional.

Emergentes beneficiados no geral

O JPMorgan reforça a visão de que os emergentes em geral, o que inclui o Brasil, são um “beneficiário acidental” do cenário global, com crescimento mais lento dos EUA, maior crescimento da Zona do Euro e da China, que permitem uma realocação global de recursos. “Emergentes e, consequentemente, a América Latina, se beneficiam dessa estrutura e devem ver entradas”, avaliam os estrategistas.

O banco tem recomendação overweight (exposição acima da média) no Brasil na América Latina, justificado não apenas pela dinâmica global, um dos maiores mercados beta (métrica que mede a volatilidade de um ativo ou portfólio em relação ao mercado) em emergentes e com o bônus das eleições em 2026.

“O potencial de alta é grande, mas os investidores se preocupam com o momento e quando ser alocado, e acreditamos que é muito cedo, dados os desempenhos das eleições anteriores”, avaliam.

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