Loud luxury: The White Lotus simboliza a contramão do luxo silencioso

O enredo repleto de situações absurdas e temas controversos em The White Lotus tem a moda como aliada. Para explicar ainda melhor, uma nuance específica dela: a ostentação. Em entrevistas à imprensa internacional, a figurinista da série, Alex Bovaird, contou sobre como apostou em um luxo nada “silencioso” para contribuir com o exagero da trama, por meio de looks que mostram um “luxo barulhento” (loud luxury, em inglês).

Aliás, essa contramão da onda “quiet luxury” dos últimos anos, após a pandemia, revela muito mais do que visuais chamativos. Carrega também mensagens simbólicas que conversam com o cenário político e econômico dos Estados Unidos, país de origem da maioria dos ricos excêntricos que se hospedam na rede de hotéis fictícia que batiza a série. Vem entender melhor!

Aimee Lou Wood e Walton Goggins em cena de The White Lotus - Metrópoles — Uma logo chamativa da JW Anderson na bolsa da personagem de Aimee Lou Wood, nesta cena com o ator Walton Goggins. Em The White Lotus, a dupla interpreta um casal

Antes, saiba como identificar o “luxo barulhento”

Para identificar o luxo barulhento, na verdade, não há segredo. O loud luxury tem como cenário a logomania, que bombou na moda alguns anos atrás e, após um tempo curto de descanso, ensaia um retorno; além de tendências como estampas animais, cores metalizadas, padronagens coloridas e robustas, silhuetas esculturais e volumosas, acessórios amplos e chamativos. Um exagero pensado, tal como a moda extravagante dos anos 1980.

Os anos 2000, também marcados por um toque de exagero e manifestações fashion ousadas após o minimalismo dos anos 1990, também bate a porta com exemplos como a nova edição da collab colorida e lúdica da Louis Vuitton com o artista japonês Takashi Murakami. Os looks na pegada “loud” são quase uma linha tênue entre um visual com personalidade e o maximalismo completo.

Michelle Monaghan em cena de The White Lotus - Metrópoles — Michelle Monaghan faz o papel de uma atriz de TV na terceira temporada da série. O chapéu com monograma da Gucci, assim como outras peças, confirma o alto poder aquisitivo da personagem

Contribuição de The White Lotus

O chamado quiet luxury consiste em peças grifadas, mas discretas e neutras, com ênfase na qualidade e na exclusividade, mas cujos códigos do luxo são interpretados somente pelo “conhecimento de causa” dos próprios consumidores.

Potencializada pelo impacto econômico da pandemia de Covid-19, essa pegada teve seu ápice nas coleções apresentadas em meados de 2023, quando poderia parecer, de certa forma, moralmente errado “ostentar” um estilo de vida diante daquela realidade.

No loud luxury, em contrapartida, a comunicação de consumo também ocorre, mas de forma escancarada, sem qualquer discrição. São escolhas de estilo que não têm pudor de evidenciar o estilo de vida caro a qual pertencem.

Patrick Schwarzenegger em cena de The White Lotus - Metrópoles — Patrick Schwarzenegger é o “*playboy*” Saxon, com um estilo que mescla mocassins caros e camisas polo, entre outros itens

Em The White Lotus, cuja temporada 3 chega ao fim neste domingo (6/4), os personagens em viagem ao resort levam o conceito ao pé da letra, sem disfarçar peças de grife na casa dos milhares de dólares. Pense em peças de marcas como Chanel, Cartier, Valentino, Loewe e JW Anderson dentro de uma lista que, não fossem as limitações de orçamento da produção, seria astronômica.

À Vanity Fair, a própria figurinista confessou que, se pudesse, colocaria 20 pulseiras Cartier na personagem de Leslie Bibb, que interpreta uma “esposa-troféu” residente no Texas, em viagem à Tailândia com duas amigas de infância, igualmente ricas. A grande questão é que esse total, para se ter uma ideia, significaria mais US$ 147 mil no bolso da produção, só em braceletes.

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Parker Posey em cena de The White Lotus

Charlotte Le Bon em cena de The White Lotus

Michelle Monaghan, Leslie Bibb, Carrie Coon em cena de The White Lotus

Aimee Lou Wood, Charlotte Le Bon, Patrick Schwarzenegger, Sam Nivola em cena de The White Lotus

Personagens-chave e o background republicano

Aliás, Kate é a mesma personagem que protagonizou um diálogo em um dos episódios sobre ter votado em Donald Trump. Mais um detalhe que mostra como os dias de luxo silencioso, que coincidiram com a gestão de Biden na presidência estadunidense, provavelmente acabaram.

Os republicanos estão orgulhosos do retorno de Trump e não querem disfarçar este fato, como evidencia o artigo da revista americana. Nesse cenário, o enredo seria como um reflexo do tempo atual.

Outro diálogo que funciona como uma chave para essa discussão é quando a personagem Victoria Ratliff, vivida pela atriz Parker Posey, fala sobre o quanto não quer passar desconforto na fase em que se encontra na vida. O desconforto, no entanto, está a alguns telefonemas de distância, com o marido sendo alvo de uma investigação de lavagem de dinheiro que pode colocar em cheque a fortuna – e, consequentemente, a vida abastada – da família.

Parker Posey em cena de The White Lotus - Metrópoles — Parker Posey interpreta a excêntrica Victoria, uma mãe de três filhos constantemente dopada com ansiolíticos. E, claro, rica, mas não se sabe até quando

Victoria é outro exemplo de estilo fashion carregado, com direito a cores, vestidos esvoaçantes em estampas gritantes, chapéus e um acervo de ansiolíticos – os responsáveis pelas falas arrastadas, mas não menos problemáticas, da personagem.

O filho mais velho, apontado na web como um verdadeiro exemplo da masculinidade tóxica, é outro que se gaba sempre que pode da vida que leva, a bordo de camisas polo e mocassins da Gucci. No caso dele, apesar de sutil no visual, é explosivo nas atitudes exageradas. Afinal, excesso é a regra na série, e talvez o que faz dela um sucesso de público.

Veja alguns exemplos do loud luxury fora da série da HBO: