Dieta tradicional africana fortalece o sistema imunológico, diz estudo

Um estudo publicado na revista Nature Medicine, na última quinta-feira (3/4), mostrou que a dieta tradicional do norte da Tanzânia, rica em vegetais, grãos, frutas e alimentos fermentados, pode ter efeitos positivos sobre o sistema imunológico e o metabolismo. A pesquisa observou que mudanças alimentares influenciam a saúde de forma rápida e, em alguns casos, duradoura.

Pesquisadores do Centro Médico da Universidade Radboud, na Holanda, investigaram os efeitos da troca entre uma dieta considerada mais ocidentalizada — composta por itens como pão branco, salsichas, panquecas, ketchup e batatas fritas — por uma alimentação tradicional da região do Kilimanjaro.

“Pesquisas anteriores se concentraram em outras dietas tradicionais, como a japonesa ou a mediterrânea. No entanto, há muito a aprender com as dietas africanas, especialmente agora, já que os hábitos em muitas regiões estão mudando rapidamente e as doenças relacionadas ao estilo de vida estão aumentando”, afirmou o infectologista Quirijn de Mast, responsável pelo estudo, em comunicado.

Troca de dieta provocou alterações no sangue

A pesquisa contou com a participação de 77 homens saudáveis que viviam em áreas urbanas ou rurais do norte da Tanzânia. Parte dos voluntários mantinha hábitos alimentares mais tradicionais, como o consumo de kiburu — prato feito com banana-da-terra verde cozida e feijão-fradinho — e uma bebida fermentada à base de banana e painço chamada mbege.

Já os outros voluntários estavam mais acostumados à dieta ocidental, caracterizada por um alto consumo de carne, gorduras, açúcares e alimentos processados.

Durante o estudo, os participantes trocaram suas dietas por duas semanas. Urbanos passaram a comer refeições típicas da zona rural e vice-versa. Em outro grupo, alguns homens continuaram com a alimentação ocidental, mas passaram a incluir a mbege na rotina por uma semana.

A análise de amostras de sangue revelou que os participantes que passaram a consumir alimentos ultraprocessados apresentaram aumento de proteínas inflamatórias, sinais de desregulação metabólica e menor resposta imunológica a fungos e bactérias.

Também houve um leve ganho de peso no grupo que adotou a dieta ocidental, o que pode ter contribuído para parte das alterações observadas.

Efeitos positivos duraram até quatro semanas

Já entre os voluntários que passaram a seguir a dieta tradicional africana, os resultados foram opostos. Houve aumento de marcadores anti-inflamatórios e melhora na resposta imunológica, especialmente nas células de defesa chamadas neutrófilos. Até mesmo quem apenas incluiu a bebida fermentada tradicional ao cardápio mostrou melhora na ativação das células de defesa.

“O nosso estudo destaca os benefícios desses alimentos tradicionais para os processos inflamatórios e metabólicos do corpo. Ao mesmo tempo, mostramos o quão prejudicial pode ser uma dieta ocidental pouco saudável”, afirmou Mast.

Os efeitos das mudanças alimentares foram detectáveis até quatro semanas após a intervenção, sugerindo que os benefícios podem ser duradouros.

Com a crescente influência da alimentação ocidental em diferentes regiões da África e a mudança de hábitos entre pessoas que migram para países ocidentalizados, os pesquisadores alertam para a importância de preservar práticas alimentares tradicionais, que podem ter papel importante na saúde a longo prazo.

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