Não se trata de vencedor ou perdedor, mas de quem vai perder mais ou menos, diz Genta

Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset

A escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China segue gerando estragos nos mercados. Em mais um capítulo, hoje (7), o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que pode impor tarifas adicionais de até 50% sobre produtos chineses, caso Pequim não recue das taxas de 34% que impôs na semana passada aos EUA.

A nova ofensiva do presidente dos EUA aprofunda o impasse entre as duas maiores economias do mundo, com reflexos imediatos nos mercados financeiros. Segundo Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset, o movimento sinaliza que as tarifas deixaram de ser apenas uma ferramenta de barganha e passaram a caracterizar uma guerra comercial em curso.

“Não se trata de vencedores ou perdedores, mas de quem vai perder mais ou menos. As bolsas mundiais estão refletindo isso com quedas generalizadas.”

— Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset

Genta e Gilberto Coelho, analista técnico da XP, participaram de uma live especial do InfoMoney, mediada pela jornalista Mariana Amaro, sobre as consequências do acirramento da crise das tarifas impostas pelos EUA ao resto do mundo e, em especial, à China.

EUA versus China: conflito gera apenas perdedores

O economista-chefe da XP Asset destacou ainda que a perspectiva é de que essas tarifas se tornem permanentes, aumentando o grau de incerteza global.

“O mercado passou a precificar um cenário de conflito. As tarifas não se limitam à China e já atingem parceiros históricos, como México e Canadá. Com alíquotas mínimas de 10% e podendo chegar a 60%, como no caso chinês, estamos diante de uma nova realidade comercial”, afirmou.

Para o Brasil, o impacto ainda é difícil de mensurar, já que o principal parceiro comercial do país — a China — está diretamente envolvido na disputa.

“A consequência é global e o cenário macroeconômico torna-se quase impossível de antecipar. No plano micro, o Brasil teve alíquotas fixadas em 10% nas exportações para os EUA, por conta do nosso déficit comercial com eles, mas a volatilidade global tende a penalizar todos os mercados”, explicou o economista.

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Possível recessão no horizonte 

O agravamento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China pode levar a economia americana a uma desaceleração significativa, com possibilidade real de recessão, diz Fernando Genta.

Segundo ele, o governo dos Estados Unidos já se prepara para mitigar os impactos internos do chamado “tarifaço” e deve utilizar parte da arrecadação gerada pelas novas tarifas para oferecer crédito a empresas afetadas pela medida. Ainda assim, ele acredita que o país enfrentará um choque de recessão nos próximos trimestres.

“O mercado já precifica cinco cortes de juros por parte do Federal Reserve, e grande parte disso se deve à expectativa de uma retração econômica diante desse cenário adverso. Há uma percepção crescente de que a guerra comercial terá efeitos profundos sobre a atividade econômica americana.”

— Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset

Atualmente, a inflação nos Estados Unidos gira em torno de 3% ao ano. Com a imposição de novas tarifas e o repasse dos custos para os consumidores, Genta avalia que esse número pode subir para até 5%. Mesmo com a pressão inflacionária, ele acredita que o Fed terá pouco espaço para atuar de forma significativa no curto prazo.

Com a apresentação de Mariana Amaro, live reuniu Gilberto Coelho, analista técnico da XP, e Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset. Imagem: Reprodução You tube

“Não enxergamos, neste momento, uma bóia de salvação vinda do Federal Reserve. A autoridade monetária americana está diante de um dilema: conter a inflação ou estimular uma economia em desaceleração. Nenhuma das opções é simples em um ambiente de guerra comercial”, concluiu o economista.

O cenário descrito por Genta reflete o pessimismo que se espalha entre investidores, diante da perspectiva de um ciclo mais longo de tensões entre os EUA e seus principais parceiros comerciais.

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