Projeto leva arte de forma inusitada para crianças; saiba mais

Ao falar sobre teatro é natural pensar em um auditório enorme, cheio de poltronas, todas viradas na direção de um palco. No entanto, existe uma iniciativa em Novo Hamburgo que vai totalmente na contramão dessas grandes estruturas. Através das chamadas “caixas de teatro”, artistas levam a cultura de uma forma mágica para a população.

CLIQUE AQUI PARA RECEBER NOSSA NEWSLETTER

Com as caixas, cada apresentação teatral é individual | abc+



Com as caixas, cada apresentação teatral é individual

Foto: Gabriel Stöhr/GES Especial

A iniciativa se trata do Festival de Caixas de Teatro de Novo Hamburgo, promovido pela Companhia de Teatro Entre Linhas. O evento foi realizado de sexta-feira (4) até o domingo (6). As apresentações ocorreram em três locais, um em cada dia, nos bairros Santos Afonso, Boa Saúde e Hamburgo Velho. Em cada local, quatro peças foram levadas para o público, totalizando 12 apresentações nos três dias.

As mini peças de teatro ocorrem 100% dentro de uma caixa – por isso o nome -, onde o apresentador insere as mãos para movimentar os personagem. De fones de ouvido, o espectador observa com um dos olhos a parte interna do objeto, onde se passa a história.

ENTRE NA COMUNIDADE DO ABCMAIS NO WHATSAPP

“É uma coisa muito diferente. Essa apresentação a gente repete até 40 vezes e sempre de forma individual. Então, naquele momento, o teatro é só teu. Aí tem esse mistério de espiar o que está acontecendo dentro da caixa, tem toda uma magia junto com a apresentação”, disse Alice Ribeiro, diretora da Entre Linhas.

“Toda experiência artística é uma oportunidade de agregar algo novo”, diz arte-educador

O primeiro local a receber as apresentações foi o projeto Ação Encontro, da Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial (Abefi). Por lá, foram exibidas as peças “No Fundo do Mar”, de Alice Ribeiro; “Renascer”, de Mani Torres; “Onda Acústica”, de Luana Garcia; e “Balé da Coelha de Páscoa”, de Joice Rossato Lima.

A criançada ficou encantada com as apresentações. Acabavam de assistir uma e já iam para a fila para tentar ver a próxima. “Parece magia. O que eu mais gostei foi o do fundo do mar. Parecia que tinha água lá dentro”, revelou Jonas Rodrigues Lima, de 10 anos.

O professor da oficina de circo do projeto da Abefi, Paulo Stürmer, de tanto ouvir os relatos dos pequenos, fez questão de observar de perto uma das peças. “Trabalhamos aqui com arte-educação, então toda a experiência artística que essa meninada tem é uma oportunidade de agregar algo novo nesse sentido na vida deles”, disse o educador. “É isso que tentamos fazer aqui também. Aqui eles podem pegar os aparelhos que eles usam nas oficinas e levar para praticar em casa. Isso faz com eles contribuam lá dentro das suas comunidades com essa experiência artística e se tornem pontos de luz nesses locais”, acrescentou.

O Festival de Caixas de Teatro foi realizado graças aos recursos do Fundo Municipal de Cultura de Novo Hamburgo. Ele foi contemplado no Chamamento Público Cultural Nº 04/2024 – Edital de Fomento à Realização de Mostras e Festivais, da Secretaria Municipal da Cultura.

Artistas assistem espetáculos circenses das crianças

Empolgados com as peças, os alunos de Paulo também quiseram mostrar o que têm aprendido nas aulas. Então, ao final das apresentações do festival, os atores foram para a plateia para assistir aos números circenses da criançada.

“Temos um sarau a cada dois meses. Eles convidam seus amigos, a comunidade, a família para chegar aqui e assistir ao que eles desenvolvem nas aulas. Então, uma parte das aulas, além de aprender as técnicas de circo, por exemplo, eles vão montando cenas, números, técnicas de malabares, de acrobacias e no sarau eles têm a oportunidade de se apresentar para essas pessoas”, contou o professor, orgulhoso.

Iniciativa lembra do lambe-lambe

Alice Ribeiro conta que não criou o teatro na caixa, mas que começou a praticar a modalidade antes de ter qualquer referência. Ela, que é formada em artes visuais, lembra que tudo começou no início dos anos 2000, quando pegou uma caixinha de isopor, pintou de preto e fez entradas para colocar as mãos.

“Na época eu nem sabia o que era aquilo, não tinha nem nome. Logo em seguida, eu pensei: ‘podia contar uma história aqui dentro’, aí montei a história do patinho feio, com mais ou menos dois minutos de duração, trilha sonora, e foi assim que começou para mim”, lembrou Alice.

O tempo se passou, até que um dia a artista mostrou o que estava fazendo para alguns amigos, que a revelaram havia duas mulheres fazendo algo parecido em Salvador, na Bahia. “A partir dali, eu fui tomando conhecimento, conhecendo as pessoas e o movimento também começou a crescer”, disse.

O estilo caixas de teatro também é conhecido como “teatro lambe-lambe”, em alusão às câmeras de mesmo nome. Ele surgiu na década de 1980, em Salvador.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.